Via Balaio do Kotscho
Já passava das nove da noite quando o telefone tocou. Era o Sandro,
filho do Lula: "Meu pai quer falar com você". Antes dele, entrou na
linha a amiga Marisa para reclamar que eu não tinha ligado, e ficamos um
tempão conversando, enquanto o ex-presidente falava em outra linha.
Claro que eu já sabia da bela notícia de que o tumor na laringe de
Lula tinha desaparecido, mas eles queriam me contar. Somos amigos faz
mais de trinta anos. "Por que você não ligou pra nós?", cobrou Marisa,
que sempre cuidou de mim nas muitas viagens que fizemos juntos ao longo
da vida.
Lula tinha acabado de aparecer nos telejornais falando como Marisa
tinha sido importante na sua recuperação. Só ela não viu porque estava
atendendo ao telefone que não parava de tocar.
Pois é, não liguei para a casa deles porque imaginei que meio mundo
estava fazendo isso e não queria incomodar. Ao ouvir a felicidade de
Lula de própria voz, depois dos exames que fez nesta quarta-feira,
fiquei emocionado como eles e me lembrei dos muitos momentos difíceis
que passamos juntos nas campanhas eleitorais e no governo.
No fim, dá tudo certo, a gente costumava dizer um para o outro nestas
horas duras, que não foram poucas, desde que Lula trocou a pacata vida
de operário pela de líder político.
Deu certo mais uma vez. Aos muitos amigos comuns que me ligaram nos
últimos dias e semanas para saber como estava o Lula, posso garantir,
independentemente de boletins médicos, que o astral dele está muito bom e
que não vê a hora de voltar à vida política.
Me perguntou o que achei e contou que ficou contente com o encontro
que teve na véspera com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Eles
são adversários políticos, mas nunca deixaram de ser amigos, ainda mais
nestas horas.
Lula ainda precisa de alguns dias para recuperar a força e a voz que
perdeu por causa do tratamento de radioterapia, mas agora falta pouco, e
ele não vê a hora de entrar com tudo nas campanhas do PT,
principalmente na de São Paulo, que virou seu grande desafio.
O amigo ex-presidente sempre viveu de desafios, de remar contra a
maré, contrariar o senso comum, mirar o impossível. Falar com ele faz
bem para o coração e a alma, ainda mais num dia em que mais uma vez Lula
sai vencedor de uma dura batalha.
Fiquei na dúvida se deveria escrever aqui no Balaio sobre essa nossa
conversa, mas não queria deixar de dividir com todos os leitores a
alegria que sinto por ter falado agora há pouco com esta grande figura
num dia tão importante na vida dele e, com certeza, na de todos nós,
brasileiros, que acreditamos no Brasil.
Valeu, amigo Lula, bola pra frente, vida que segue.
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