terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Não sei - ainda - de todas as cores



Talvez nesse grupo composto de meus  pacientes e raros leitores e deste humilde escriba, eu seja a pessoa mais velha. Quando pensei em escrever o que vem por aí,  me deu um certo constrangimento por pensar, sei lá talvez quem sabe, que eu vá me revelar um tanto mais velho do que posso ter deixado transparecer nesse pouquissimo tempo de existencia do meu blog Saúva e das minhas experiencias tuiteras. Mas o que tem? E daí? Foi a resposta que dei a mim mesmo. E garrei do teclado e me danei a digitar isto e mais isto:

Fatos: dia desses ví na televisão duas coisas que transbordaram a melancolia que já trago dentro de mim tem algum tempo. A primeira delas foi para mim uma revelação botanica que, dada a ausencia de décadas da escola, para mim foi uma total novidade. O programa era sobre o jardim de Versailles e o sujeito entrevistado, um sabichão em tudo que é planta, disse que as folhas na verdade não são verdes. Esse verde que a gente vê nas folhas é da clorofila e que na ausencia desta a verdadeira cor da folha aparece e geralmente em tons que vão do amarelo ao marron.

Na mesma hora lembrei do outono, óbvio. E não foi dificil fazer uma relação com a vida, o tempo, idades.. E me dei conta de que o outono de minha vida está quem sabe mais perto do que eu imagino e sendo assim já passou da hora de eu olhar com mais serenidade para mim mesmo e descobrir a minha verdadeira cor. E que tudo que passei até agora na minha vida foi pintado apenas superficialmente pelas circunstancias. O que não faz de mim uma fraude, mas no minimo não é o que eu sou de verdade. Vem ai um desafio enorme para mim.

A outra coisa eu vi na televisão também. Zapeando os canais sem nenhum compromisso, esse é meu estilo de ver TV, parei na TV Cultura programa da Inesita Barroso. Apresentavam-se as Irmãs Galvão e cantaram uma música chamada Voce Vai Gostar, de Elpidio dos Santos. Meus olhos marejaram. Sério. Marejaram de uma saudade de não sei bem o que é. E na tela da TV eram mostrados os rostos do pessoal da plateia que, vocês sabem, é composto na sua maioria de gente idosa. E eu via esse pessoal cantar refletindo em seus olhos a mesma coisa que eu acho que eu refletia nos meus: crepusculo. E me lembrei de Rubem Alves que em uma de suas lindas cronicas fala sobre as cores da manhã e do entardecer. E ele faz uma analogia muito bacana lembrando que o crepusculo é sinal de que a noite já vem, e isso nos torna mais sábios e nos faz absorver as coisas mais lentamente, mais alegremente.

Nessas alturas me sinto inseguro sobre o que estou escrevendo. As palavras são umas brincalhonas, deixam-se ver mas não se deixam pegar. E embora eu tenha certeza do que penso e com quais palavras eu deveria dize-lo, as danadas fogem no exato minuto em que meus dedos haveriam de prende-las aqui nessa tela.

Mas vejo cores, as das folhas que não são verdes e sim amarelas e marrons, as da casinha branca da música de Elpidio Santos e as do crepusculo do Rubem Alves e me alegro no meio delas.

Mas talvez a minha melancolia venha do fato de que não sei das cores de vocês. Queria saber. Completaria assim a aquarela da minha vida.

Fiquem em paz,

Jonas