Além da podridão política que naturalmente irá vir à tona com a
CPI do Cachoeira, o Brasil terá a ótima e rara oportunidade de discutir a
ética e os limites do jornalismo a partir de casos concretos. Veremos
como irão se comportar, desta feita, os arautos da moralidade da velha
mídia, os mesmos que tinham no senador Demóstenes Torres o espelho de
suas vontades.

Há
oito anos, escrevi um livrete chamado “Jornalismo Investigativo”, como
parte do esforço da Editora Contexto em popularizar o conhecimento
básico sobre a atividade jornalística no Brasil. Digo “livrete” sem
nenhum desmerecimento, muito menos falsa modéstia, mas para reforçar sua
aparência miúda e funcional, um livro curto e conceitual onde plantei
uma semente de discussão necessária ao tema, apesar das naturais
deficiências de linguagem acadêmica de quem jamais foi além do
bacharelado.
Quis, ainda assim, formular uma conjuntura de ordem prática para, de
início, neutralizar a lengalenga de que todo jornalismo é investigativo,
um clichê baseado numa meia verdade que serve para esconder uma mentira
inteira. Primeiro, é preciso que se diga, nem todo jornalismo é
investigativo, embora seja fato que tanto a estrutura da entrevista
jornalística como a mais singela das apurações não deixam de ser, no fim
das contas, um tipo de investigação.