sábado, 5 de janeiro de 2013

A turma da rua de cima contra a turma da rua debaixo


Nelson Motta é um cara que lidava apenas com assuntos relativos à música. E era bom assim. Vez ou outra eu assisti suas entrevistas com pessoas do mundo das artes musicais o que sempre serviu para acrescentar mais alguma coisa nos meus parcos conhecimentos sobre o dito assunto.

Mas eis que agora esse moço vira antropólogo político também. E nessa seara ele parece não ter começado muito bem, pois resolveu dar seus pitacos a respeito da reação de muita gente sobre uma crônica de Ferreira Gullar (postada aqui no Saúva ). E no meio desses pitacos Nelson Motta sugere que gente boa são apenas as pessoas que concordam com tudo que diga o sr Ferreira Gullar pelo singelo fato de que, segundo o sr Motta, "é o maior poeta vivo do Brasil". Exceto pelo equivocado e ditatorial mandamento do Vaticano sobre a infabilidade papal e que diz que tudo que vem do Papa não deve ser discutido, não conheço outra pessoa no mundo com a qual sejamos chamados a concordar irrestritamente.  

Mas segue o baile. Diz o sr Nelson Motta que a tal crônica foi " Reproduzida em um “site progressista”, com o habitual patrocínio estatal, a crônica foi escoiceada pela militância digital."

De duas uma ou o sr Motta não lê o que escreve ou finge desconhecer os avanços relativos às conquistas de liberdade de expressão com o advento da internet. Nunca antes na historia da humanidade houve momento em que os indivíduos tiveram tanta oportunidade de manifestar-se como este tempos que vivemos agora. Talvez o sr Motta recuse-se a sair daquele mundo midiático em que ele cresceu (biologicamente eu quero dizer) no qual todos os órgão de comunicação são pretensiosos formadores de opinião (seja lá o que isso quer dizer) e não dão a mínima chance para seus leitores ou o distinto publico em geral de contradizer o que divulgam.

Estou falando do velho e ultrapassado modelinho de enviar cartas para a redação que são lidas ou publicadas sob um olhar, digamos assim, criterioso para não dizer censor, ou seja, lêem-se e publicam-se apenas as cartinhas dos amáveis leitores mansos e cordatos com a linha editorial e que se rasgam em elogios aos autores das crônicas. Esse tempo passou. E ainda que consideremos que uma grande massa dos navegantes da web não estejam suficientemente familiarizados com essa liberdade, ou ainda que receiem manifestar com sinceridade menos acida seus pontos de vista, temos que reconhecer que a reação ampla e imediata a respeito de crônicas, artigos, noticias, comentários etc. entrou em um caminho sem volta. Graças a Deus.

Outro aspecto de quem esta apenas fazendo um exercício no estilo mimimi, ou coxinha como diria meu filho, é referir-se a um certo patrocínio estatal para os sítios progressistas estimulando-o dessa formas a fazerem critica contra tudo que venha da direitona demo-tucana-midiatica. Sr Motta é um ingênuo e eu só vou dizer as obviedades que digo a seguir porque eu, nessa minha condição de blogueiro impertinente porém espontâneo e gratuito,  senti-me ofendido por esse comentário infantil do neo-direitista-midiatico.

A primeira obviedade é que sei de um monte de blogs ditos progressistas, mas que eu prefiro sujos, que são escritos amadoristicamente - não por seu conteúdo, mas pela atividade em si mesma - boa parte deles contando com numero expressivo de leitores e que não recebem um só caramiguazinho de ninguém. Auto-remuneram-se com a satisfação pessoal de fazerem-se presentes e mostrarem-se ativos na discussão política do país.

A segunda obviedade é que não existe órgão de imprensa - lida, escutada ou enxergada - nesse país que não receba verbas chamadas oficiais, via publicidade governamental. A Rede Globo é campeã na arrecadação desse tipo de verba e se ela fosse o que o sr Nelson Motta sugere que sejam os blogs sujos - corrompidos pela grana oficial - o JN não seria a usina de manipulação demo-tucana que é. Muito menos a Rede Globo teria condição de pagar o salário mixuruca que deve receber o sr Motta, razão pela qual ele devia meter-se em algum tipo de reflexão sobre de onde vem a verba do gelo de seu uísque.

Resta olhar para o linguajar rastaquera e ofensivo com que ele se refere aos internautas comentaristas qualificando seus comentários como coices e relinchos. 

Bem, embora eu tenha muito respeito por todos os seres do mundo animal, quando se refere ao grupo dos quadrúpedes que cavalgam e carregam cargas eu fico com os que relincham não apenas por seu porte altivo mas por sua agilidade, inteligência e força. Já os que zurram, geralmente são mais medíocres e menos dados ao aprendizado.

De resto o sr Nelson Motta, devido ao conteúdo de seu artigo em defesa do caro colega demo-tucano, me lembrou os garotos da minha infância, aqueles mais surtados que, diante de qualquer divergência entre amigos tratavam tudo como se fosse uma briga de paus e pedras entre a turma da rua de cima e a turma da rua debaixo.


O artigo do sr Nelson Motta está aqui.