terça-feira, 13 de setembro de 2011

Politica, o pára-choque da democracia.



Os Marchadores Cansados e sua movimentação genérica e subjetiva "contra tudo que está ai", apoiados pela mídia  oportunista, cometem um erro grave e não sei se por ingenuidade e ignorância política ou se por dissimulação das suas reais intenções.

Começam por declararem-se apartidários sem contudo explicar como que pessoas sem preferências e tendências políticas podem tratar de casos que justamente fazem parte da esfera política. Ora para se falar em soluções para a corrupção, que segundo os neo-Cansados infesta a política nacional, é necessária uma mínima noção do que representa a política para a democracia. A política é filha da democracia e ambas são dependentes entre si.

Ao demonizarem a política os comensais do Tea Party Tupiniquim sonham com a possibilidade de minimizar, senão excluir, a importância de um dos poderes da democracia, nesse caso o Legislativo, criando uma democracia manca, e que pode propiciar o surgimento de alguma espécie de messias sem histórico político e sem cores ideológicas e com instinto autoritário. Essa experiência já foi feita com Collor e deu no que deu.

Esquecidos das regras que ordenam a democracia e as normas jurídicas que dão estabilidade ao país, os Cansados aderiram a um bordão bem semelhante ao já usado com Janio Quadros, outro triste momento da história da política brasileira, e que sugere faxina na política nacional como se fosse possível sair condenando e punindo todos os envolvidos em supostas ações ilegais, nivelando a todos no mais baixo grau de comportamento.

Ao exigerem da Presidência da Republica atitude que se assemelhe a faxina, esperando que essa "limpeza" seja feita de maneira apressada e autoritária, esses Marchadores resumem o cargo mais importante do país, o próprio símbolo da democracia, a um órgão meramente fiscalizador, espião e escarafunchador de gavetas.

Não se dão conta, os que apesar de Cansados parecem estar muito apressados, de que a governabilidade de um país democrático depende de coligações, de entendimentos diversos, de bases de sustentação e que a existência dos contrários é tão benéfica quanto a dos favoráveis.

Por trás disso tudo a imprensa oportunista rufa o tambores que cadenciam os passos dos Marchadores ao invés de prestar um serviço à nação e alertá-los de que foi justamente pelo distanciamento da sociedade dos políticos  é que se criou uma triste sensação de impunidade e de que nada funciona.

Ao achincalhar e ridicularizar com palavrões e denuncismos vazios os representantes legitimamente eleitos pela população, a imprensa oportunista coloca a cereja no bolo do repudio à nossa tradição democrática e pode criar clima propicio para o retorno do autoritarismo que vivemos em um tempo não muito distante e sob o qual muitos de nossos males atuais floresceram.

Temos coisas erradas sim. Lamentavelmente muito dos mecanismos que deveriam servir para refrear o apetite de alguns individuos sobre a coisa publica, não funcionam. Precisamos repensá-los.

Qualquer leigo pode fazer, inclusive eu, uma lista de providencias a serem tomadas em nome da honestidade, lisura e transparência no trato do seu, do meu e do nosso rico dinheirinho de impostos.

Fazem parte dessa lista o financiamento publico de campanhas, a regras para criação e existência de partidos políticos, a fidelidade a eles e suas coligações. Eu vou um tanto mais longe e imagino que possa ser limitado o em quantidade, no tempo e no espaço o exercício de cargos eletivos. Acho uma temeridade um senador, por exemplo, tornar-se "dono" de seu cargo em função do mandato exercido ao longo de intermináveis décadas. Isso é estimular vícios que prejudicam a democracia e perder a oportunidade de clarear idéias e determinar novos rumos para o país.

Mas nenhuma reforma poderá ser feita sem os políticos. Precisamos deles para encaminhar esses assuntos. Devemos, ao contrário de nos distanciarmos, fazer marcação homem a homem dentro dos legislativos para forçar as mudanças que já estão atrasadas.

E que não se apressem os Cansados. Reformas do naipe necessário devem ter prazo para serem implementadas, quem sabe prazo de alguns anos.  Veja o que foi o fracasso da tal “ficha limpa". Puro açodamento e deu no que deu. Não se pode resolver que todo mundo será honesto por decreto. Temos um viés cultural que tristemente favorece o mal feito. Temos regras demais e todas elas com brechas que facilitam os desmandos. Até desmontarmos essa armadilha montada em razão da distancia entre cidadãos e políticos, levará algum tempo. Há que se ter muita conversa e visão de futuro para encaminhar entendimentos que signifiquem o abandono de alguns hábitos difíceis de abrir mão.

Mas não se iludam em imaginar que essas reformas podem ser feitas sem políticos. A política é o pára-choque da democracia. É a política que agüenta os trancos e solavancos que podem fazer tremer a nossa ainda frágil democracia.

Ou é isso ou é o autoritarismo.

Fiquem em paz

Jonas