segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Aborto: uma questão pública ou religiosa?

Nas ultimas eleições foi trazido para a discussão a aceitação ou não do aborto com a premissa de que a depender do posicionamento dos candidatos à presidencia aumentariam suas chances de  serem eleitos ou não.

O primeiro equivoco está no entendimento de que tal assunto seja da esfera presidencial. Não é. Mais produtivo seria ter levado esse assunto aos canditados ao senado e a camara federal sendo que, a esses sim, cabe a responsabilidade de legislar sobre o assunto.

O segundo equivoco é reduzir essa discussão a um simples sim ou não, sou contra ou sou a favor, sem o aprofundamento necessário para entender-se as razões dessa prática a respeito da qual, em principio, a maioria, e eu inclusive, é contra.

Somos contra por que somos religiosos por natureza. Mas é bom que se diga que não somos eclesiais. Os religiosos cristãos amam ao Deus de Jesus e trazem em sí as máximas ditas por Ele: ame ao seu próximo como a si mesmo e não faça aos outros o que não quer que façam para si mesmo.

Já os seres eclesiais estabelecem dogmas, e muitas vezes põem-se a interpretar a Palavra de Deus segundo a visão de si mesmos cuja vida é dedicada, na maioria das vezes, exclusivamente ao Ministério.

Foi com esse sentimento eclesial que a Igreja Católica determinou que o aborto é crime a partir do quadragesimo dia da fecundação dentro de um entendimento que é nesse momento que se inicia a vida propriamente dita segundo pensamentos de São Tomás de Aquino.

Esses 40 dias podem ser apenas uma baliza, um ponto de referencia. Dado que a vida tem seu inicio em um momento indeterminado. Pensemos que um casal  ao unir-se para fecundar um óvulo precisa antes de tudo estar vivo é óbvio, e além disso precisa preencher umas certas condições fisicas que vão acabar permitindo a tal fecundação. Sendo assim é possivel dizer que a vida do feto começou com esse casal. A este casal foram dadas condições de multiplicar a vida e portanto o inicio da vida pode estar neles mesmos.

Agora, não olhemos para a vida humana apenas. É preciso lembrar que um sem fim de coincidencias e sintonias precisam acontecer na antureza para que seja propiciada a vida. Desde o oxigenio, a água, o dia e a noite, passando por toda a cadeia que chamamos de alimentar, enfim tudo que existe nos mundos mineral, vegetal e animal contribui para que a vida humana aconteça.

É indispensável portanto que amemos e preservemos a vida toda , humana ou não, desde e para sempre. E esse amor e essa preservação passa obrigatóriamente pela compreensão da falibilidade humana, das desordens emocionais, pelas tragédias pessoais, pelas violencias, pela diversidade cultural, pelas condições sociais, ambientais e economicas e pelos planos sociais equivocados adotados por tantos governos descuidados com a vida.

Temos pois que, antes de tudo devemos buscar a realização e a plenitude humanas tal e qual preconizadas pelo Deus de Jesus Cristo,  a fim de minimizar as confusões que podem levar a adoção do aborto como solução para a chamada gravidez indesejada. Seres humanos - homem e mulher - plenamente realizados e no máximo do uso de seus dons não ficam gravidos de maneira indesejada.

Uma sociedade perfeitamente equilibrada, justa social e culturalmente, não haverá de buscar a morte como solução para a vida. Ao contrário, uma sociedade equilibrada pode proporcionar aos seus individuos a festa do nascimento de uma  vida, a alegria de ver surgir em seu seio mais e mais vidas amorosas. Um sociedade realizada amorosamente saberá acolher todos os novos seres sem mais ódios, sem mais medos, sem mais violencias, coisa que vemos acontecer, infelizmente e todos os dias.

Devem portanto as Igrejas e o Estado sintonizarem-se sem imposições, sem arrogancia, sem o autoritarismo próprio de quem já decidiu tudo sobre a Verdade e a Vida, e buscarem com humildade soluções para esse descalabro ao qual tantas mulheres se submetem todos os dias e muitas vezes morrem e que se chama aborto.

O Estado, apesar de laico, deve entender que de suas ações pode depender o bem estar espiritual de seus cidadãos. As Igrejas, eminentemente orientadoras espirituais, devem compreender as ambições de seus fiéis colocando-se como interlocutora destes com o Estado.

Fiquem em paz,

Jonas