quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Hoje eu acordei menor

Hoje eu acordei menor. Não por atitudes pessoais ou por gestos meus  que diminuam meu caráter ou minha dignidade.

Sinto-me menor em importância para o meu país. Dei-me conta,  não de uma hora para outra, mas de um processo aplicado por conta-gotas, de quão sem importância é o conjunto dos cidadãos para a nação brasileira.

 E aqui se entenda “nação” como uma das definições que ensina o Aulete: “ Comunidade política autônoma e de território definido que partilha instituições comuns (constituição, governo, sistema judiciário)."

A contradição  existente nessa definição e a realidade que vivemos é que me faz menor. Nós, os cidadãos brasileiros, exceto umas poucas centenas, não partilhamos instituição nenhuma. Não usufruímos da proteção da Constituição, a nossa partilha de Governo se dá apenas em momentos pontuais quando somos convocados a votar e menos ainda existem portas abertas para nós do sistema judiciário.

Junto com o incômodo da pequenez fica a imperiosa, mas nunca satisfeita curiosidade – e necessidade! – de saber por quais subterrâneos passam as decisões da nossa Republica, decisões essas, apenas para falar das mais recentes, que vão desde a estranha coincidência do calendário do STF que fez acontecer no mesmo periodo o julgamento de políticos de um partido com as eleições, até a volta de 180 graus que fez o relator da CPMI que leva o nome de um bandido, a retirar nomes de possíveis envolvidos na bandidagem poucos dias após a divulgação inicial de um relatório em que, de maneira contundente, refere-se a  esses mesmos nomes assim:“Há provas de que políticos abriram seus gabinetes para os criminosos, jornalistas venderam matérias e empresários apoiaram e contaram com o apoio de membros da quadrilha.” Ou ainda quando diz a respeito do Procurador Geral: “apuraram-se fortes indícios de desvios de responsabilidade constitucional, legal e funcional, praticadas pelo Dr. Roberto Gurgel” 

O que aconteceu entre o anuncio e a aprovação final deste relatório. Porque acusações tão serias tornaram-se dispensáveis? Onde está a leviandade? Antes ou depois? Mas que ela existe, existe.

Junto a essas suspeitas providencias e atitudes de todos os que no seu dia-a-dia escrevem a história política, administrativa e judiciária do Brasil, destacam-se ainda a de nossa presidente da republica juntamente com seu principal apoiador, o Lula, que em um silencio sepulcral e assustador, eximem-se de qualquer providencia – não há uma única providencia ou comentário! – que permita prever que o fim dos conchavos espúrios está próximo. Comigo não! Dizem os dois, afastando-se descaradamente da responsabilidade de assumir um lado, de preferência o lado dos cidadãos.

Pelo contrário a previsão é de mais convivências criminosamente obsequiosas entre todos os que militam na política brasileira, de um troca-troca sem fim em busca de um bem estar entre eles, uma convivência protocolar, porém danosa, um certo welfare state exclusivo que marginaliza os que verdadeiramente pensam e tentam construir um Brasil mais rico, justo e solidário.

Não entendo mais o PT, nunca entendi a imprensa, nos últimos tempos deixei de respeitar o judiciário e não me preocupo mais, como aliás pouco me preocupei sempre, com o papel dessa oposição oportunista e falastrona que poderia contribuir muito com um projeto de Brasil grande, mas limita-se a maquinações que empacam qualquer proposta  para fazer o país caminhar para frente.

Não duvido que tenha havido maquinações e ameaças escabrosas e nada recomendáveis para que o relatório da CPMI com nome de bandido chegasse ao triste fim que chegou. Uns e outros livraram suas caras e suas peles em nome de qualquer coisa, menos no nome do país e de seus cidadãos. Entre estes, eu mesmo.

Nosso querido Brasil tornou-se a Republica dos Julgamentos e das Acusações Sem Fim e, para tanto, montou-se a Junta Conciliatória das Maracutaias e o Imenso e Primordial Cartório de Registro dos Contratos de Acordos e Conchavos com endereço na Sala Um do sub solo da Esplanada.

Desculpem-me a tímida tentativa de fazer humor com coisa tão séria, mas talvez isso seja apenas um disfarce para que eu não sinta o verdadeiro peso de tudo que sinto agora inclusive da minha consciência política.