sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Minha silenciosa vingança


Do outro lado da rua do nosso prédio, bem em frente, tem uma dessas casas que são alugadas para eventos e festas. Festas que geralmente acontecem no fim de semana e vão até lá pelas 2:00 da madrugada. E festa que se preza tem musica alta e de preferencia ao vivo. E como não poderia deixar de ser, meu quarto fica de frente para a tal casa. Já podem imaginar que nos dias de festa eu não durmo muito bem não.

E na ultima festa o pessoal mandou as favas e de vez a tal da Lei do Silencio e a festa seguiu animadissima até as 03:30 hs.

Eu acordei lá pelas 00:30 e de inicio tolerei e até gostei do repertório da banda que estava tocando. Esperançoso de que logo fosse acabar eu até pensei comigo mesmo que no dia seguinte iria procurar o sindico para saber se alguém um dia tinha tentado tomar alguma providencia a respeito disso.

Em seguida, e já completamente desperto, comecei a pensar que eu mesmo – no dia seguinte- iria procurar os orgãos responsáveis por fazer respeitar a lei. 

O tempo foi passando e a banda começou a tocar roques dos anos 60 e nesse momento eu comecei a me imaginar usando blusão de couro,  calça jeans e, junto com minha gangue de motoqueiros, eu parava na frente da tal casa, chamava todo mundo pra briga. E depois do quebra-quebra eu saia satisfeito com a paz retornando ao lugar.

Foi quando a banda passou para uma ou duas musicas italianas tipo tarantela e então na minha cabeça eu estava desembarcando de um baita sedã preto bem na porta da casa, junto comigo, vindos em mais tres sedãs pretos, dez sujeitos invocados protegiam minhas costas enquanto eu – em um encontro reservado com o dono da festa – exibia para ele uma foto da propria mãe, dizendo que estava preocupado com a saude daquela boa senhora pois eu acabara de ve-la amarrada e sendo embarcada em um barco de pesca lá no cais. O dono da festa saiu correndo e o silencio reinou.

A banda tascou essas musicas “pulantes” e o cantor gritou: tira o pé do chãããooo! E eu me vi com meu pelotão de ninjas descendo de escadas de corda pendentes de helicópteros que sobrevoavam a tal casa. Todos armados de metralhadoras e lança-chamas. Ouvi pratos, copos, sopeiras e saladeiras sendo estilhaçados pelas rajadas e, ao mesmo tempo, os lança-chamas assavam as carnes dos presentes. Os musicos fugiam gritando e tudo ficou quieto.

Mas eu continuava a ouvir muito barulho e que não identificava mais como música mas sim como de parabrisas dos automoveis estacionados em frente a festa e que eu quebrava com meu bastão de beisebol e em seguida ouvi explosões de dinamites que eu coloquei no alicerce dos muros que  faziam tudo ruir e por ali passavam as pessoas fugindo apavoradas e finalmente a paz podia ser ouvida.

A banda passou a tocar um frevo e nesse exato momento eu entrei na festa. Estava fardado e com muitas estrelas brilhando em meus ombros e dezenas de insignias enfeitando meu peito, e eu gritava para meus 30 comandados: prende todo mundo ! Vai todo mundo passar a noite em cana. Foi quando o cantor gritou: valeeeeeu pessoal! Boa noiteeeee!. 

Tudo ficou verdadeiramente quieto, já eram quase  03:30, e então eu dormi. Dormi  o sono daqueles que tem consciencia do dever cumprido.

Fiquem em paz,

Jonas
fogo