terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O sonho não acabou.

O dia era 08 de dezembro de 1980, fazem 29 anos hoje. Dia em que John Lennon morreu. Um pedaço importante da minha adolescencia ia embora com ele. Desde o final de 1969, quando veio anuncio do fim da banda The Beatles, eu não conseguia lidar direito com essa ausencia na melhor parte do meu imaginário. Eu sempre guardava um fio de esperança de que eles haveriam de se reunir novamente e tocar tudo que eu queria ouvir. Mas nesse dia o sonho praticamente acabava.

Restaram então para sempre em meus ouvidos os ecos das músicas que embalaram muitos de meus bailinhos, minhas reuniões com amigos, meus namoros, minhas melhores recordações. Se existe uma trilha sonora para uma vida, a da minha é certamente a obra inteira dos Beatles.

Sinto ainda nas mãos a textura dos albuns que eu guardava com tanto carinho e que eram, naquele tempo, a chave de quase todos os meus sonhos.

O tempo passou. E o que era mera paixão de adolescente transformou-se em amor silencioso, acomodado no meu coração. São muitos os momentos que me sinto feliz e privilegado por ter vivido no mesmo tempo em que esses moços resolveram dar ao mundo uma parte de seus dons.

E no meu intimo eu sempre respondo à Lennon e seus amigos: o sonho não acabou! Em mim está plantada definitivamente a semente do desejo de um mundo que está ainda por ser construido, um mundo que eles me ensinaram a sonhar, de amor e paz absoluta onde toda a rebeldia que se pode cometer é deixar o cabelo crescer, usar calça justa e flertar com a namorada de um amigo.

Eu fiz um compilado de algumas músicas do album chamado Abbey Road e que viria a ser o último album da banda. Como uma espécie de premonição eles deram à última faixa desse último album o nome de The End. E o último verso dessa musica diz: " .. e no fim o amor que voce recebe é igual o amor que voce dá" . É isso: o amor que eles deram a mim colocando seus dons disponiveis para todo mundo é o amor que agora eles recebem de mim.

Convido voces meus raros, pacientes e queridos leitores a ouvirem a compilação ai debaixo, aumentem bastante o som. São onze minutos de muita sonoridade e genialidade musical. Percebam que esses mestres passeavam por todos os generos musicais como qualquer um de nós passeia por uma calçada. O que esses excepcionais músicos faziam com seus intrumentos é inigualável. A maneira insistente como, através de suas letras, eles nos convidavam a rir e sonhar é incomparável.

Fiquem em paz.

Jonas




Programa Nacional de Estabilização Geral das Coisas e das Pessoas

Era uma vez um burocrata chamado The Patent. Ele decretou que no seu país tudo seria classificado. Tudo haveria de ter peso e medida.

Comprou supercomputadores  precisos em cálculos. Contratou outros burocratas como ele, e determinou à toda a população que se dirigisse ao Escritório no planalto central para pesar e medir o que tinham.

Filas enormes, requerimentos idem, taxas e carimbos, marcavam na História o glorioso momento de dar-se Peso e Medida a tudo.

E todos traziam todas as coisas. Desde penicos e navalhas de barbear até fornos microondas, passando por charretes e patinetes. E para pesos iguais, códigos iguais; medidas iguais códigos também iguais. E isso é óbvio. Tudo que era visivel foi medido e pesado, carimbado e autorizado a existir.

Sim, diga-se isso, pois fiscais rigorosos andavam por todo o país pedindo carimbos e alvarás de existencia para tudo. O que não tinha alvará era considerado sem peso e sem medida e era imediatamente destruido, pois transgredia a singela lei de que tudo tem que ter um peso pesável e uma medida medivel.

E para aprender mais ainda a pesar, medir e classificar proliferou no planalto, cursos para formação de burocratas especialistas. Já nem eram necessários os aparelhos dimensionadores gerais. Os burocratas desenvolveram tantas habilidades que os permitia apenas olhar e já pesar e medir. Esta chave: dois gramas e tres centimetros! O balde: oitocentos gramas e 50 centimetros. E assim aumentou-se a velocidade da classificação de tudo e em pouco tempo todas as coisas do país estavam pesadas e medidas.

Agora era apenas manter. E de hoje em diante tudo que fosse fabricado em fábricas já saíria pesado, medido e com licença para existir.

Neste momento o burocrata, The Patent,  percebeu que seu Progarama Nacional de Estabilização Geral das Pessoas e das Coisas poderia acabar. Ora, se tudo saísse das fábricas já pesado, medido e com licença para existir seu super Instituto de Pesagem e Medição se tornaria inútil.

Teve a idéia! Medir-se-ão e pesar-se-ão também os pensamentos e as palavras. Com esta providencia haveria de garantir a existencia de seu Instituto de Pesagem e Medição até o final dos tempos. Pois pessoas não param de nascer, e mais, pessoas não são fabricadas em fábricas e acrescente-se: pessoas sempre querem mudar de pensamentos e palavras. E por fim a expressão "Pessoas" já estava incluída no titulo e na finalidade de seu Programa.

Foi decretada pois a obrigatoriedade de todos comparecerem ao Escritório do planalto central a fim de receberem os alvarás de seus pensamentos e palavras. Receberiam o CPMPP - Certificado de Peso e Medida de Pensamentos e Palavras - válido por cinco anos e obrigatóriamente renovável.

E para o Escritório do planalto central passaram a dirigir-se as pessoas sózinhas, aos pares e em grupos.

Para a Certificação dos Pensamentos e Palavras das pessoas sózinhas não havia nenhum problema. O processo era rápido.

Mas para aquelas em pares ou em grupos surgiu um imprevisto. Colocados frente a frente, os individuos de um par ou de um grupo traduziam seus pensamentos como, embora iguais no conteudo, diferentes no sentido. O mesmo acontecia com as palavras: haveria que se considerar tom de voz, circunstancia, nivel socioeconomico, grau de relação entre transmissor e receptor e assim por diante e por último, o significado própriamente dito da palavra. Para só depois pesa-la e medi-la.

Resumo: pensamentos e palavras, definitivamene, mesmo os aparentemente iguais podem ser ao mesmo tempo bem diferentes.

Os assessores do burocrata surtaram e enclausuraram-se em Mosteiros no Tibet.

 O supercomputador declarou-se incapaz para essa tarefa e de hoje em diante dedicaria seu tempo a imprmir desenhos para as crianças colorirem.

O burocrata, The Patent, mudou-se para uma cidade do interior onde vende sequilhos e bombocados na Praça da Matriz.

E o povo festejou e dançou durante tres dias e meio, jogando para o ar, papel picado que fizeram do Certificado de Pesos e Medidas, comemorando o fim da avaliação das coisas, pensamentos e pessoas! A anarquia transformada em alegria ampla, geral e irrestrita.

Fiquem em paz.

Jonas