quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Nossas almas vagueiam?

" Graças te dou, Senhor, nosso Deus, rei do universo, que pelo poder da tua misericórdia, assim me restituis, viva e constante, a minha alma." trecho d`O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de Saramago.

Na narrativa de Saramago essa frase é uma oração que José fazia todas as manhãs ao acordar, dentro de um entendimento que a alma se desprende do corpo durante o sono e retorna ao despertar.

Uns tempos atrás eu começei a pensar sobre alma e corpo viverem separados mas no fim eu fiquei achando que eu estava delirando ao ter uns pensamentos desses.

Então em um outro  dia  eu estava tomando uma cerveja com meu chefe e tomado de subita filosofia eu perguntei a ele: acredita que nossos corpos são marionetes de nossas almas?

Pra meu espanto ele disse: sim eu acredito!

E passamos, ele e eu, a comungar dessa idéia e aprofunda-la. Talvez seja isso mesmo. Nossas almas na verdade não residem em nossos corpos, elas vagueiam por ai, manipulando fios invisiveis que controlam nossos fisicos levando-nos pra la é pra cá, dando-nos um minimo de senso, para que possamos dar à elas - nossas almas - todas as coisas inalcançaveis para elas.

Nossas almas usariam nosso corpos para obter aquilo que elas não conseguem: prazeres e desprazeres fisicos, passando por todos os sentidos. Nós seriamos a experiencia concreta, visivel e tangivel daquilo que é desesperadoramente invisivel e intocavel para nossas almas. Lágrimas, toques de pele, gozos, frio, calor, fome, sede, saciedade, enfim tudo aquilo a respeito do que nosso corpo é sensivel e que para as almas é impossivel sentir.

Não, não! Não seria algo assim ordenado e organizado, com hierarquias, como querem os espiritas e as religiões diversas. Nada disso de almas passarem de corpo para corpo, ou padecerem em céus e infernos, ou evoluirem ou regredirem.

Almas e corpos se completariam e existiriam no exato e justo tempo da vida fisica tal e qual conhecemos. Morreu, morreu. Acabou, acabou.

Estou imaginando poesia apenas. Simplicidade só isso. Tudo sob a batuta do nosso bom Deus, criador de todas as coisas. Especialmente as mais espetaculares. Não acho que Ele do alto de Sua Sabedoria iria criar algo tão intrincado e burocratico como uma organização de almas, dando-lhes patentes, missões, promoções, premiações e castigos e destinos. Não, acho que não.




Acho que sendo as almas descoladas de nossos corpos, indo e vindo de onde e quando quiserem, explicaria a tal sensação " de javu" que todos nós temos ao menos uma vez na vida.

Acho que assim entenderiamos a saudade de algo que nunca se viu. Entenderiamos o amor a primeira vista. Ficariam claras essas incompreensiveis atrações quase obssesivas por algo que nunca experimentamos mas temos quase certeza que vai ser bom demais.

A nostalgia que as vezes toma conta de nós misturada com a incomoda sensação - nunca esclarecida - de que alguma coisa está faltando, seria finalmente entendida.

Tudo viria de nossas almas que estariam a brincar e se relacionar com outras almas por ai. A gerar as primeiras afinidades, a descobrir o amor, a experimentar tudo de tudo, e a transmitir por esse fios invisiveis com os quais se mantêm ligadas a nós, a nos passar todas essas aventuras, a nos antecipar todos os prazeres e dores - por que não? - da vida.

Pirei?  Pirei. Mas que seria mais divertido, seria!

Fiquem em paz,

Jonas