quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Com licença cansados, cabe mais um?



Qualquer hora dessas peço licença aos marchadores cansados e entro em suas fileiras. Vou sentindo uma baita frustração. E olha que eu sou um desses otimistas incuráveis. Daquele que ao ganhar um chaveirinho do pai, sai correndo pra garagem imaginando ter acabado de ganhar um carro. Mas aos poucos estou ficando com a desagradável e cansativa sensação de que luto ingloriamente a favor de algo que está se esfarelando.

Tem muita gente empenhada em revelar que a política - ou a administração publica - não é praticada baseada em modelos estanques, separados entre si, classificados por sua natureza, seus ideais, suas origens ou por seus simples estatutos. Vai caindo o pano e o que se vê no palco são apenas rótulos marketeiros: progressistas, conservadores, reacionários, liberais, democratas, enfim nomes, apenas nomes.

Interesses menores, muitíssimo menores que o tamanho de nossa Nação, vão demonstrando que as engrenagens de proteção e que fazem a Republica funcionar estão há muito tempo desdentadas e sem graxa.

Estou falando sobre a assombrosa ciranda da queda de ministros acusados de corrupção neste ano de 2011. O script é sempre o mesmo: a acusação surge por denuncias que no inicio são combatidas, negadas, chamadas de infâmias, calunias, etc... Passam alguns dias e o sujeito é defenestrado em nome da manutenção da governabilidade. Mandado embora por que não tem condições morais de comandar nada. E, o que é pior, o substituto vem do mesmo ninho do antecessor. E nós, o povão, ficamos sem saber o quanto tudo tinha de verdade ou de mentira.

Resta patente o cinismo dos envolvidos. Fica escancarada a esculhambação em que se tornou a administração publica, se é que não devemos mudar o nome para administração privada.

São trambiques de quem acusa, molecagens de quem é acusado, defesas vazias e inconseqüentes de quem é parceiro, mentiras de quem é adversário, e essa salada toda é servida apenas para, dias depois, cair no esquecimento, sabendo-se de antemão que em breve, muito breve, mais alguém será apresentado como sujo na rodinha. E então começa tudo de novo.

Que regime kafkaniano é esse? Então é verdade mesmo que tudo não passa de uma encarniçada luta para deitar a mão na nossa grana?

Simpatizantes de todas as partes envolvidas - que está me parecendo serem centenas - perderam a decência? Critica-se ou defende-se apenas da boca pra fora? Onde estão as medidas preventivas para que as verdades ou mentiras esbravejadas sempre de maneira tão espalhafatosas não se repitam? Vivemos ou não em um mundo civilizado sustentado por princípios morais e éticos cujos deveres primeiros são a preservação e a defesa do bem comum? 

De jeito nenhum estou defendo o PIG, ou a TFP, ou a UDN e tudo o mais que está sendo ressuscitado pelo ranço e ódio virulento de quem está TEMPORARIAMENTE afastado da boquinha publica. Não defendo e nunca defendi essa raça. Mas já estou pensando em que também não vale a pena defender a Dilma.

E o Lula? Eu ainda tenho o "nunca dantes" como pessoa que por sua origem igual à de milhões de brasileiros deve ter seus padrões de moral formados em cima daquilo que forja o caráter dos mais humildes e desprovidos: a solidariedade! Sem adjetivos. Solidariedade apenas.

E por que será que Dilma - também uma lutadora em favor dos ideais democráticos - e Lula de maneira corajosa e fiel aos princípios que julgamos que  tem orientado ambos pela vida afora não se cercam de pessoas um tanto mais integras e menos dadas aos "inocentes malfeitos" que se revelam todos os dias? Por que em nome de vencer eleições e manter a "governabilidade" são necessários os mesmos métodos daqueles que foram derrotados via votos dos brasileiros? Votos esses que, em ultima análise, são o que de fato os mantém no poder.

Não, meu caros e raros leitores, não estou atacado de alguma espécie de revelação retumbantemente decepcionante, daquelas que acometem as crianças quando descobrem que a Fada do Dente não existe. Quem acompanha meus desabafos aqui nesse espaço - sujo, porém digno - sabe que sempre procurei ficar longe das paixões - exceto pelos Beatles - sobre o que quer que seja. Sempre preferi ponderar e tentar compreender a natureza humana a respeito de suas mazelas. 

Mas sinceramente está ficando difícil deixar apenas por conta das limitações humanas e perdoar sempre todas as falhas cometidas. Pois tem dias que sinceramente a oposição parece o governo e o governo parece oposição.  

Ou melhor dizendo o que isso está parecendo mesmo é um daqueles campeonatos de futebol de várzea em que, ao final, vencedores e vencidos vão todos juntos para o boteco encher a cara e rir das caneladas dadas e recebidas bem na cara do juiz que, subornado, faz de conta que não vê.

Fiquem em paz

Jonas