terça-feira, 14 de agosto de 2012

Dora Kramer e sua antropologia barata

Talvez pelo fato de ter perdido o sono por causa dos rumos que toma o julgamento da AP 470, Dora Kramer perdeu também o senso pois passa a fazer uma análise do povo brasileiro com viés antropológico barato e filosofia de botequim.

Leiamos o texto, trecho por trecho, e que saiu publicado no BR 247:

 Nem tudo que é popular é justo, aceitável, verdadeiro ou incontestável. Disso dá notícia a História, a vida e as duas vitórias eleitorais do PT para a Presidência da República depois do advento do mensalão.
Interessante dona Dora. A senhora minimiza ou até despreza a tal de “opinião publica” que tanto a senhora quanto seus colegas de penas emprestadas sempre invocam quando se trata de atender aquilo que vocês defendem. Para entender isso basta ler o que a senhora diz a seguir.

Segundo pesquisa do instituto Datafolha, maioria expressiva (73%) da amostragem de 2.592 pessoas ouvidas uma semana depois de iniciado o julgamento no Supremo Tribunal Federal considera tratar-se de um caso de corrupção e espera pela condenação dos envolvidos.
Cevê Dorinha? A tal da “opinião publica” que você desprezou antes, agora virou sábia, e estranhamente politicamente ativa como raras vezes se vê em qualquer país do mundo.

Tal convicção não decorre da perfeição jurídica do relato dos autos, inacessíveis à avaliação leiga. A acusação não convence a maioria por estar juridicamente com a razão, mas porque sua narrativa faz sentido: conta que um partido valeu-se das facilidades do poder para arrecadar muito dinheiro e com ele conseguir sustentação política de que necessitava para governar.
Houve manipulação de grandes somas onde deveriam prevalecer posições políticas; é isso que as pessoas entendem e consideram impróprio.
Pois é dona Dora. O ser humano em geral, e não apenas o brasileiro, repudia os mal feitos. Até aqui a senhora não está dizendo novidade nenhuma. Experimente a senhora encomendar uma pesquisa sobre qualquer trambique em qualquer área de atividade humana e não se espante não: o resultado será esmagadoramente a favor de punir quem faz coisas erradas 

 Uma boa parte (43%), contudo, não acredita que haverá condenação, expressando algo que pode ser visto de duas maneiras: desconfiança na eficácia da Justiça e/ou antídoto prévio a frustrações devidas a um farto histórico de impunidade.
A adesão popular à tese defendida pela Procuradoria-Geral da República não quer dizer que o resultado do julgamento no Supremo Tribunal Federal vá ou deva necessariamente atender a essa demanda.
As coisas não são bem assim dona Dora. Existe pelo menos mais uma hipótese para esse “farto histórico de impunidade”. A tal tese que a senhora menciona, segundo as regras do jogo, deve ser submetida à apreciação técnica dos magistrados. Não deve nem de longe ser considerada verdadeira por antecipação, da forma como a senhora e seus colegas de penas amestradas estão fazendo. Pois ao final havendo comprovação de erros na acusação, a sua sanha acusatória se transformara em mais um tijolo na construção dos castelos de desilusões juridicas da população.

Tampouco é possível inferir que os resultados daquelas eleições vencidas pelo PT (reeleição de Lula e vitória de Dilma Rousseff) no pós-mensalão teriam sido diferentes se o enredo tivesse sido contado com a cadência e exposição de agora, porque a mesma pesquisa registra que 50% não se deixarão influenciar pelo resultado do julgamento na hora do próximo voto, em outubro.
Algumas conclusões, porém, são admissíveis. A primeira delas: o PT está longe da realidade quando diz que a população só quer saber de novela e de Olimpíadas. A segunda: a versão de que o mensalão é fruto de uma fantasia oposicionista simplesmente não pegou.
“Cadencia e exposição” dona Dora!? Mais uma vez a população em geral agradece seu pouco caso com a inteligência dos indivíduos que compõe o eleitorado. A senhora confessa sua crença de que basta insistir em uma idéia de maneira sistemática, e pronto! Todo mundo passa a torcer por ela. E eu não li em lugar nenhum que de maneira formal o PT disse que a população gosta mesmo é de novelas e Olimpíadas. Declaração formal disso quem está fazendo é a senhora ao tentar chamar a população de incoerente. 

Um último aspecto, relacionado à desconexão entre o voto e o resultado do julgamento pode, em princípio, soar estranho em face da expectativa de condenação.
Mas, se lembrarmos que o PT ganhou duas eleições presidenciais com mensalão e tudo – uma delas ainda sob o eco da CPI – vamos acabar concluindo que a população exige rigor da Justiça, mas não é tão rigorosa assim na hora de votar.
Um dado para se pensar antes de reclamar dos políticos e dos juízes.
A expectativa – e uma torcida fervorosa – de condenação é sua querida Dorinha e da parte da população que julga você como pessoa de indiscutível saber jurídico. Tem outra parcela da população que consegue perceber com clareza as manobras políticas perpetradas em torno desse julgamento. Uma parcela da população e que também vota consegue ver que se dependesse de você nem precisaria haver julgamento e que os uizes do STF são apenas figuras decorativas. Basta ler o que você tem coragem de escrever logo abaixo a respeito de um comentário sem provas, sem data, sem lugar, sem testemunhas sobre o comportamento do ministro Toffoli, publicado por seu colega de penas amestradas, Ricardo Noblat.

Desalinho
Na última sexta-feira, o ministro Antonio Dias Toffoli foi a uma festa em Brasília. Ia alta a madrugada quando explodiu em pesados palavrões referindo-se ao jornalista Ricardo Noblat que acabara de sair, mas voltou a tempo de ouvir e relatar a história em seu blog momentos depois.
Talvez pela interpretação de que se tratava de um caso atinente à vida particular de Dias Toffoli, os jornais não deram repercussão ao episódio e provavelmente por esse motivo o ministro não reagiu nem desmentiu.
A gravidade aí não está no fato de os impropérios terem sido dirigidos a um jornalista, mas por terem sido proferidos em público por um julgador de instância suprema cujo papel institucional requer equilíbrio, distinção, maturidade e, sobretudo, noção de limite.
Sabe prezada dona Dorinha? Talvez não tenha havido muita divulgação desse caso por que muitos ainda têm bem vivo na memória a lambança do senhor Gilmar Mendes, que fez escola em cima do senhor Noblat, ao contar uma história sem muito pé nem cabeça, sobre um encontro que teria havido com Lula e que todo mundo concluiu ser uma tentativa de tirar os holofotes da CPI do Cachoeira e vira-los para o julgamento da AP 470.
E ai está a senhora fazendo julgamentos acreditando em uma história sem conhecer o contraditório. Ai está senhora carimbando péssimos adjetivos em um magistrado que faz parte do corpo de juízes que julgará o caso que a senhora já decidiu sobre o veredicto.
Causa estranheza a senhora sugerir - mesmo relevando – que não se deve dirigir impropérios a um jornalista. A senhora pode explicar por que dona Dorinha? Não seria melhor a senhora se livrar desse espírito classista e escrever que é condenável qualquer pessoa dirigir ofensas. a qualquer cidadão. Talvez a senhora possa assim entender com um pouco mais de clareza isso que a senhora chama de incoerencia do eleitorado mas que é claro e cristalino, como são claras e cristalinas suas tentativas de enganar seus ocasionais leitores.