quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A falta d´agua, as ciclovias e a cidadania seletiva

Dois assuntos que dizem respeito diretamente ao cotidiano dos moradores da cidade de São Paulo estão recebendo tratamentos diferentes: o primeiro é a falta d´agua e o segundo a implantação de ciclovias em várias regiões da cidade. 

Os debates sobre os dois devem, ou deveriam, ter a mesma abordagem que é a de que convivência em uma cidade das proporções de São Paulo exige de cada um a compreensão de que os atos dos indivíduos interferem no coletivo e vice-versa ou, falando mais claramente há que se ter presente que pouco se tem de individualismo no cotidiano de uma metrópole como esta.

Este senso do coletivo, ou da ausência do individualismo, fica muito claro no debate sobre a falta de água. É bem comum ouvir de todas as pessoas que é preciso economizar água pois existe a sensação de um eminente e incontornável racionamento. E isto é louvável. A cultura da economia em qualquer consumo é justa e necessária. 

Porém nem de longe as pessoas que eu escuto criticam o poder publico e sua falta de previdência em construir a infra estrutura necessária para atender o consumo sempre crescente (inercialmente) da água e que é, além disso,  sempre pontuado de períodos de estiagem.

A população em geral já assumiu a responsabilidade no abastecimento de água e já aceita com aparente resignação o racionamento que mais dia menos dia há de chegar. O que revela cidadania e solidariedade.

O oposto acontece com o debate sobre as ciclovias. Deitando-se o mesmo olhar da coletividade sobre a cidade percebe-se que o uso do automóvel particular para locomoção já deixou de ser há muito tempo a solução de mobilidade.

O automóvel além de poluir ar e fazer barulho, custar dinheiro para sua manutenção, é quase uma arma de guerra a matar e mutilar milhares de pessoas todos os anos. Acrescente-se que congestiona as ruas, exige uma infra estrutura gigante (conservação de ruas e avenidas, sinalização, fiscalização, etc) para permitir a circulação dos dito cujos. E é diante disto que uma das proposta da atual administração é estimular o uso de bicicletas como instrumento importante de transporte.

 Entre as ultimas administrações publicas desta cidade pouco ou nada se fez em favor do transporte coletivo, estimulando o uso do automóvel particular. E é este entendimento de que o automóvel particular  é o melhor meio de transporte que fez o paulistano esquecer do coletivo e pensar apenas no individual. 

É o que se vê nos protestos de muitas pessoas contrárias às ciclovias pois sentem-se incomodadas na sua individualidade para estacionar onde querem, ou circularem nas ruas que antes dominavam com seus carros.

Diferentemente portanto do pensamento de que a falta de água é um transtorno a ser evitado ou minimizado por todos, a alternativa de um transporte mais barato, menos poluidor e que provoca menos congestionamentos não desperta a mesma solidariedade.

Por que será?

A resposta pode estar em argumentos usados pelos contrários das ciclovias que citam a cor vermelha com que são pintadas as ciclovias uma mensagem subliminar do PT, partido que governa o município. Argumentos obtusos como esse somam-se aos de que o prefeito deve antes de implantar as tais ciclovias consultar se os usuários de automóveis estão de acordo, como se a cada ação do prefeito ele devesse antes consultar  população  e assim ele passaria todos os seus dias em meio a debates sem fazer mais nada.

Já o abastecimento de água que esta sob responsabilidade do governo estadual que, estranha coincidência, é do PSDB o que se vê é uma corrente totalmente a favor de rezar, torcer e economizar para que essa crise passe logo.

O ódio disseminado contra o PT resultou nisso: não importam mais a busca de soluções para diminuir os problemas da cidade. Importa apenas é saber de onde vem a solução para  os perrengues: se forem do PT um abraço. Se forem do PSDB ok vamos contornar isso.

PT e PSDB passarão mas a cidade ficará. E se não tomarmos cuidado agora, no futuro sequer conseguiremos tirar nossos carros das garagens dado que os congestionamentos já estarão em nossas portas e não nos restará outra coisa senão voltarmos pra dentro de casa e, pra aliviar a tensão, tomarmos um bom banho de água mineral. Da Nestlé.