sábado, 2 de abril de 2011

Quem sabe o sr Aleluia lê.

( em referencia à carta do deputado Aleluia ao reitor da Universidade de Coimbra: http://qr.net/H6J )

Prezado sr Aleluia,

Pena eu não ter a grandeza intelectual de vossa excelência, minha parede lamentavelmente não ostenta vários diplomas e nem títulos que me dariam o alvará necessário para dirigir-me diretamente ao reitor da Universidade de Coimbra, como o senhor fez. Então faço-o por aqui, através de meu modesto sitio, esperando que um dia o acaso permita que estas mal traçadas linhas cheguem ao conhecimento do professor-reitor João Gabriel Silva.

Muito menos posso ter a pretensão de dirigir-me diretamente ao senhor, mas peço que debite minha ousadia na conta dessas coisas que de vez em quando se abatem sobre nós e nos fazem pensar sermos bons o suficiente para criticar as atitudes de nossos semelhantes.

O que eu tenho a dizer a ele e ao senhor  não passa nem de perto por sua tarimba com discursos contundentes, sejam de fingida indignação ou de puxa saquismo explicito, o que me leva ter que deixar fluir a sinceridade que o bom Deus me deu, e que não é, portanto, adquirida em bancos escolares. Por isso antecipo meu pedido de desculpas ao senhor se o que vou dizer não é revestido da firula  academica dos portadores de sabedoria e conhecimento.

Uma coisa parece termos em comum, sr Aleluia: o apreço, admiração e respeito pelas decisões daqueles que, a exemplo, do professor-reitor João Gabriel Silva, debruçaram-se sobre estudos a respeito de todas as coisas de todas as dimensões humanas.

Essa impressão de algo comum entre nós eu a tenho em razão de sua manifesta indignação dirigida ao professor-reitor onde o senhor declara acreditar que o preparo acadêmico seja um componente importante  para o exercício de qualquer atividade humana. Eu também penso assim, embora eu não o julgue indispensável em muitos casos.

Mas detectei e estranhei uma contradição sua, pois se o senhor admira tanto, e tem como sábios os acadêmicos do naipe do professor-reitor, como pode o senhor ter motivos para criticá-lo em sua decisão, que certamente foi tomada com a temperança e o equilíbrio sempre presente nas decisões de doutos senhores?

Eu não. Eu penso que se um homem com o reconhecido saber do professor-reitor da universidade que o senhor tanto admira, decidiu conceder ao sr Luiz Inácio Lula da Silva o titulo de doutor honoris causa, ele deve saber o que está fazendo. Acredito que o assunto tenha sido colocado sobre a mesa do colegiado decisório daquela honorável instituição e que, após amplo debate, houve consenso sobre os predicados e as qualidades sobejamente conhecidas - e que estranhamente o senhor insiste em desconhecer - do nosso estimado ex-presidente.

Sabe sr Aleluia? Nem sempre é necessária a matemática para construir certo tipo de ponte. Nem sempre o conhecimento jurídico é necessário para a aplicação da justiça. Nem sempre o conhecer biológico nos leva às curas dos males humanos. E muito menos o saber filosófico pode sempre nos ajudar no cultivo daquilo chamamos de vida em plenitude.

Penso que o olhar que os doutores da universidade de Coimbra deitaram sobre a personalidade de Lula foi o mesmíssimo que o próprio Lula deitou sobre seu povo e que soube, como poucos, mesmo sem o conhecimento que o senhor recomenda como adequado para se gerenciar um país, comandar com maestria tal, que é quase uma unanimidade em competência gerencial. Foi ele o engenheiro que construiu pontes seguras sobre as quais andou o povo em busca de melhores condições de vida, ele foi advogado quando deu-lhe um nova visão sobre justiça na medida em que deu-lhe a oportunidade de debater suas próprias necessidades, ele foi o médico que curou em muitos a dor da fome crônica que, certamente, faz doer muito mais o coração do que o estomago. E por fim ele foi o filósofo que trouxe de volta à muitas almas a verdadeira alegria de viver confiante no futuro.

Quanto a este pobre e ignorante escriba devo informar-lhe que não sei nada sobre física e sobre o resultado da fusão de ingredientes alimentares, muito menos eu jamais aprendi sobre a complexidade da construção da língua humana e sua capacidade de identificar e apreciar sabores, no entanto logo mais a noite farei um kibe de forno cujo principal ingrediente da receita é minha sensibilidade e atenção para aqueles que vão prová-lo. E garanto ao senhor que muitos que  já o provaram, aprovaram e repetiram. Muitas vezes a vida é assim, basta darmos a ela a oportunidade de acontecer.

Foi isso que o Lula fez. Foi isso que o professor-reitor fez. 

Faça o senhor também e dispa-se de suas vaidades acadêmicas, tire de suas paredes seus diplomas de não-sei-o-que e olhe para a vida como algo que em muitos sentidos já está feito e resolvido e a nós cabe apenas descobrir  o seu curso natural.

Fique em paz,

Jonas