quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Nossa esperança intocada


Desde que começou o julgamento desta tal ação 470 muito se falou sobre abundancia de provas ou sobre a ausência delas. Da mesma maneira muitas opiniões se formaram, favoráveis ou não, sobre alguns procedimentos adotados pela Corte que vão desde a discrepância a respeito da urgência urgentíssima de se votar esta ação e não a outra que trata deste mesmo assunto  com a única diferença que são outros os atores, até  a alçada para o julgamento de alguns dos acusados que não usufruem de foro privilegiado.

Mas tá! Justificativas mil foram dadas e embora não tenha convencido uma boa parte da população o fato é que as coisas estão acontecendo do jeito que estão e não há mais o que se fazer.

Ressalte-se o tal do domínio do fato, fartamente utilizado agora, que pressupõe que em uma escala hierárquica não importa de que tamanho e nem mesmo de seu alcance geográfico, ou seja, nem que os fatos ocorram a milhares de quilômetros do topo da hierarquia, segundo o argumento do domínio do fato, todo mundo tem que saber o que se passa com seus subordinados.

E o mais esdruxulo de tudo é a convicção proclamada de que o chefe de alguem que cometeu um crime está automaticamente comentendo o mesmo crime entre  quatro paredes sem provas e nem testemunhas!

Pretendem assim que a Dilma escarafunche as gavetas, e-mails e telefones de seus ministros, e seus ministros monitorem todos os atos de seus secretários, e seus secretários toda a equipe que por sua vez tem que controlar de perto prestadores de serviços e assim vai. Ou seja, todo mundo tem que vigiar todo mundo todo tempo. Vinte e quatro horas! Sobra tempo pra trabalhar?

E nem uma palavra sobre auditorias, corregedorias, fiscalizações e outros tantos instrumentos criados pelo Estado e mantidos pela população para que tais coisas não aconteçam, ou ao menos, para que tais coisas sejam descobertas na sua nascente. Lembremo-nos que todos os fatos do “maior caso de corrupção de todos os tempos” vieram a publico apenas por conta de uma delação. Que se não tivesse acontecido, nada teria acontecido.

Não é hora dos áulicos da moral e dos bons costumes, estes que estão sentados à direita do STF, começarem a debater sobre os mecanismos de vigilância, que pelo que se vê estão absolutamente furados? 

Uma parte considerável dos mosqueteiros da moralidade ocupam cargos legislativos e vive o dia-a-dia das arrecadações para campanhas, dos acordos para votações, das coligações partidárias, e cadê, da parte deles, alguma manifestação de surpresa de que tal coisa tenha acontecido sob suas próprias barbas? Logo eles, sempre tão zelosos e atentos nos cuidados com a coisa publica? Nunca ouviram e nem viram nada tão gigantesco e atentatório a Republica pelos corredores de seus gabinetes?

Deixa pra lá. Falemos de outra coisa.

O que me surpreende, acho que surpreende a todos nós, é a precisão cronológica deste julgamento. Tudo montado, acertado e combinado, para que a parte que tratará de Zé Dirceu e Genoino aconteça exatamente na reta final das eleições.

Tamanha sintonia entre procedimentos e calendário eleitoral só aconteceu no sequestro de Abilio Diniz, em 1989, (cuja historia pode ser relembrada aqui) e que serviu para que Lula perdesse  as eleições presidenciais daquele ano. 

O ódio contra o PT não cedeu um milímetro desde então, mesmo tendo o PT demonstrado com sobras que não há motivo algum para tanto ódio, aliás pelo contrário.

A mesma mídia, os mesmos agentes políticos daqueles tempos  e dessa vez um novo parceiro – o STF – se prestam, nos dias de hoje, a desonrar de maneira criminosa uma agremiação politica e todos os seus eleitores.  Querem mesmo, e pelo que esta parecendo vão conseguir, apagar da história politica do Brasil um dos melhores momentos de nossa Republica.

Pois é disso que se trata. Não é o julgamento de um punhado de pessoas envolvidas em delitos. O que estão julgando e condenando é um ex-presidente da republica, sua sucessora, todos os militantes afiliados de um partido – que já passa de um milhão de pessoas – e as dezenas de milhões de brasileiros que aprovam a linha de governo do PT.

Ninguém precisa consultar mãe Dinah para prever as manchetes  na quinta, sexta, sábado e domingo que estamparão com toda a certeza frases pinçadas ditas pelos ministros da Corte, em especial do escalafobético Joaquim Barbosa, inquisidor tucano-midiático, na condenação de Zé Dirceu e Genoino, transformadas em verdades contra todos os integrantes, simpatizantes e eleitores do partido.

Destaque especial talvez seja a revista Veja que dessa vez poderá oferecer, encartado na sua edição de sábado, um saquinho com sangue, para que seus leitores brindem  a “condenação de todo o PT em especial do Lula” e não de duas dezenas de pessoas que cometeram crimes.

Lamentável que seja usado de maneira tão leviana um dos pilares do nosso país que é o STF. 

Estão usando a Justiça como a Igreja Católica usou um dia – e ainda usa – o nome de Deus para matar. 

Estão usando um dos instrumentos mais caros da Republica  do mesmo jeito que muitos presidentes norte americanos e seus satélites usam o nome da democracia para  derrubar governos e matar milhões de pessoas mundo afora.

Vai se escrevendo um momento muito negro da nossa República. Este sim indigno de figurar nos livros de história.

Tomara que consigamos superar. Tomara que um grito ensurdecedor de basta! venha das urnas no domingo com a eleição da maioria dos candidatos progressistas.

E que na próxima segunda possamos perceber que entre os escombros da democracia parcialmente abalada, a nossa esperança está intocada.