segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pequena história sobre corrupção



Esta história aconteceu no Hotel Maksoud Plaza em São Paulo. Trabalhei lá por muitos anos no tempo em que este hotel era a meca dos profissionais hoteleiros, por ser referencia nacional em hotelaria. Era também o point de todos os points. Um local onde personalidades e celebridades de todas as areas gostavam de estar. Sinal de status e de glamour.

Por conta disso a imprensa falada, escrita e enxergada chegava a fazer plantão por lá pois sempre havia alguém que era noticia hospedado no hotel. Por  conta disso também aconteceram por lá muitas gravações de cenas de novelas e até de filmes. 

E a minha pequena história se deu quando eu trabalhava na recepção e numa tarde a Globo veio gravar umas cenas de um capitulo de alguma novela sua.

E a cena era assim: um ator fazia o papel de recepcionista e um outro vinha até o balcão da recepção para pedir informações sobre um hóspede. O "recepcionista" se negava a dar a informação pedida, mas o outro puxava uma nota de dinheiro e dava ao "funcionário", que no mesmo momento passava a entregar informações sobre o suposto hóspede.
Fiquei bravo pra caramba. Ofendido de verdade. Pois aquela função alí representada e descaradamente subornada era a minha função. E fiz um discurso bravo e contrário àquela desinformação e distorção sobre a minha atividade e de meus colegas. Evidentemente não adiantou nada. Continuou a gravação e é certo que foi ao ar, embora eu não tenha visto.

Sempre me chateio e me constranjo com essas sugestões bastante comuns em filmes e novelas de que profissionais de hotelaria se não são altamente subornáveis são muitas vezes figuras caricatas e desprovidas de caráter e moral.

Não sei se foi isso que criou a cultura da gorgeta ou se foi ao contrário, e a gorgeta é que criou a possibilidade do suborno e da corrupção exibida em filmes e novelas. Tem gente por ai, muita gente, que acredita que pequenos mimos dados a funcionários diversos tais como recepcionistas, camareiras e garçons abre portas de privilégios e regalias muitas vezes negadas a quem não dá esses agrados. Ledo engano.

E cá entre nós, acho até que é essa mesma crença que leva pessoas a presentearem funcionários públicos (guardas de transito, fiscais, examinadores, etc.) a fim de terem facilitados seus processos sobre qualquer coisa.
 
Arrisco a dizer que essa prática é que faz alguns pais de familia, muitas vezes bons pais e otimos cidadãos, a subornarem seus próprios filhos oferecendo vantagens ( um carro zero por exemplo ) se passarem no exame da faculdade. 

A verdade é que muita gente acredita e pratica  a troca de favores aparentemente inofensivos como sendo ferramenta comum para fazer o mundo andar.

Tá bem, tá bem. Pode ser que eu esteja exagerando e mostrando um rigor excessivo embora, podem acreditar, eu sempre duvidei de rigor em excesso. Acho que o rigor em excesso é muitas vezes um disfarce para um sem fim de desmandos e despautérios.

Bem mas eu queria mesmo era falar de corrupção. E citei essa minha história e mencionei algumas possibilidades do cotidiano de muita gente por que eu quero dizer que é preciso que o pessoal do Cansei II vá com calma com seus discursos raivosos contra a corrupção nos meios politicos. Dou uma lasca da unha do meu dedo mindinho esquerdo se uma parte grande desse pessoal do Cansei, O Retorno, já não deu gorgetas por aí em troca de favores e privilégios e da mesma forma se já não recebeu favores mal intencionados.

E já que citei o Marchadores Cansados e suas pedradas generalizadas contra "tudo que está ai", quero dizer que ao falar da gravação de um capitulo de novela eu falei de uma ficção ( a própria novela ) , porém digo que não eram raros os dias em que eramos tentados por polpudas gorgetas nada ficticias, oferecidas por probos e respeitáveis senadores, governadores, ministros, altos executivos e assemelhados  para que facilitassemos o acesso de pessoas e coisas aos seus apartamentos e que fariam a história - escandalosa história, segundo a Veja -  do Zé Dirceu no Hotel Naoum em Brasilia, parecer convescote de amigos escoteiros.

O buraco da corrupção está bem abaixo da linha em que o pessoal do Tea Party Tupiniquim acha que o país deve caminhar. A corrupção é assunto que deve ser tratado em duas dimensões: cultural e fiscalizatória.

Mas isso é assunto pra outro dia.

Fiquem em paz

Jonas