quinta-feira, 2 de junho de 2011

O inadequadamente certo e o adequadamente errado.

E surge mais um debate semântico no Brasil. O dos últimos dias é sobre o "adequado/inadequado" que para alguns, deverá substituir o "certo/errado" no que se refere às normas gramaticais da língua portuguesa.

Não acho que esteja certo ou errado, penso apenas que seja bastante adequado esse debate. Não pela essência do que trata esse assunto, mas pela abrangência sugerida, que vai muito além do simples ensinamento do idioma cujo método não admite que exista vida fora dos livros escolares.

Eu já disse aqui no Saúva que passou da hora de se rever os métodos pedagógicos usados há décadas e que estão voltados unicamente para os indivíduos construírem suas carreiras profissionais e nada mais além disso.

Precisamos começar a enxergar a escola como mais um lugar - além das famílias e outros núcleos sociais - onde os indivíduos podem descobrir, antes de tudo a si mesmos e depois conhecer e experimentar alternativas para o que está proposto academicamente.

Esse caso especifico em que se debate a chamada norma culta para a aplicação da língua portuguesa, tem o dom de mostrar que existe outro jeito de se comunicar que pode não ser o correto mas que cumpre seu papel de informar aos outros o que estamos pensando. E quem pode garantir que dentro de algum tempo alguns dos vocábulos que hoje não são reconhecidos estarão inseridos em todos os dicionários de nossa língua?

O que se deve olhar é para a realidade de que nossa gramática tem sofrido alterações ao longo do tempo, alterações que certamente não vieram de cima para baixo - dos doutores da língua para nós, os mortais falantes - mas desconfio que tenham vindo de baixo para cima, ou seja, dos mortais falantes para os doutores. Sendo que estes últimos acabaram por ceder às evidencias e fizeram as correções nos seus manuais.

Voltando ao que eu dizia, talvez quem sabe um dia, seja possível nós os humanos irmos para escola para aprendermos também a sermos humanos, podendo desenvolver nossos dons ao mesmo tempo que aprendemos de um modo organizado - e para isso a escola serve bem - a aplicar nossas habilidades.

Tudo pode e deve ser discutido, do modo e tempo certos é óbvio, inclusive se os ventos aliseos se formam mesmo no deslocamento das massas de ar quente ou se o pterodáctilo foi de fato um réptil voador.

Só o que não se pode é restringir a genialidade humana de conhecer e desafiar o que está proposto até que se prove que o que está proposto é definitivo e imutável o que, como se sabe, é bem difícil.

Fiquem em paz

Jonas