quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Os ovos mexidos e o chinelo velho

Quem já não relutou em largar aquilo a que se habitua, aquilo que faz parte do cotidiano de cada um, quiça da própria vida?

Os chinelos velhos por exemplo. Acho que todo mundo tem aquele par de chinelos velhos que já nem é somente o caso de que o pé desliza para dentro dele de modo quase prazeiroso. De verdade mesmo a gente nem percebe que está usando. Nem percebe que calçou. Esse tipo de chinelo é assim como uma segunda pele no pé. 

Ele está sempre no lugar exato que nossos pés buscam. Ao lado da cama, embaixo da cadeira, junto do sofá. Não nos damos conta mas basta descer os pés e ali estão nossos chinelos. Há que se perguntar se são os pés que sempre sabem onde estão os chinelos ou se são os chinelos que advinham onde os pés irão descer.

A nossa pisada fica desenhada na palmilha. Alí estão: os cinco dedos de cada pé e os calcanhares.O  chinelo velho é quase uma fotografia da palma de nossos pés.

E ontem logo cedo me deparei com um inadiável ultimato da Rita: alegando que a sola de meu chinelo velho estava se desmanchando e deixando minisculos pedaços de sola pelo chão da casa, ela me deu um par de chinelos novos com a condição óbvia de eu me livrar do velho.

Nada pude fazer e entreguei meu par velhinho e calcei o novo. Agora vou começar uma nova relação que, no que depender de mim desejo que seja duradoura, e mais que isso quero rapidinho os prazeres para os meus pé de volta.

Simultaneamente a tudo isso acontecia a estréia da Gigi na cozinha, com a supervisão da Rita, na confecção de ovos mexidos. E tchans! Chegou à mesa um prato generoso e saboroso de ovos mexidos com presunto e queijo, até meio puxadinho no sal, coisa que a Gigi disse ser de proposito.

E fiquei assim meio sem saber o que a despedida de um par de chinelos velhos tem a ver com saborear ovos mexidos feitos pela Gigi, talvez em principio nada, mas só quem presta atenção nas sutis nuances da vida pode entender o que experimentei naquela hora. 

Talvez seja algo assim como para compensar a perda de algo ganha-se outro um tanto mais prazeiroso.

Fiquem em paz,

Jonas