Stephen Lerner, mentor intelectual do movimento “Ocupe Wall Street”,
está no Brasil. Ontem, deu uma palestra no Sindicato dos Bancários de
São Paulo sobre a luta dos estadunidenses contra o poder e a ganância do
sistema financeiro em seu país. Mas penso que não foi só essa a razão
que o trouxe ao nosso país.
Estive ontem no Sindicato entrevistando-o junto a mais uns dez
jornalistas da mídia alternativa – porque, incrivelmente, a velha mídia
nem tomou conhecimento de presença tão ilustre no Brasil.
Aliás, vale dizer que se tivéssemos imprensa de verdade, por aqui,
deveria haver uma fila de jornalistas dos grandes meios querendo
entrevistá-lo.
Menos mal, porém, que há uma mídia alternativa. E, para quem quiser
se animar, tenho uma boa novidade. Lerner aproveitará sua estada aqui
também para coletar o know how brasileiro em termos de ativismo
político, apesar de que o nosso país não chega a ser o que tem o
ativismo mais intenso.
Todavia, o Brasil é o país latino-americano mais parecido com os
Estados Unidos, tanto do ponto de vista institucional quanto econômico e
social. Desta maneira, compreende-se o interesse do mentor de um
movimento que está abalando a visão da sociedade americana sobre o seu
país.
Minhas perguntas a Lerner foram sobre se acredita que a sociedade
americana finalmente acordou e sobre como é possível que após o país ter
sido afundado pelos neoliberais o povo ainda cogite votar no Partido
Republicano, ainda que o Democrata não seja muito melhor, e sobre se ele
não acha que o movimento Ocupe Wall Street precisa de uma liderança.
As respostas foram vagas. Na verdade, nem ele sabe essas respostas.
Mas o que vale relatar neste post é o que ele não disse e que os
companheiros do Sindicato disseram. Antes, porém, uma frase de Lerner
para introduzir o tema: ele disse que os americanos elegeram Obama e
foram dormir.
Sabem o que isso quer dizer? Eles fizeram lá o que fizemos aqui.
Elegemos Dilma e fomos dormir, ou seja, acreditamos, americanos e
brasileiros, que bastaria eleger Obama ou Dilma que tudo estaria
resolvido, achando que, no presidencialismo americano ou no brasileiro,
um presidente manda alguma coisa.
Lerner relatou como o seu país se acomodou com a sociedade de consumo
artificial que construiu e como essa sociedade se esqueceu de como
lutar. Por isso, com a visita dele os ativistas americanos aprenderão
com os brasileiros a enfrentar o grande capital que por décadas
incontáveis dominou aquela nação sem que ninguém oferecesse resistência.
Com o inverno, os americanos nova-iorquinos tiveram que abandonar o
Ocupe Wall Street, pois não dava para fazer ativismo sob temperaturas
muito abaixo de zero grau. Com a chegada da primavera, porém, estão
voltando. E planejando ações que coincidirão com assembléias de grandes
grupos econômicos, ao longo deste ano.
Haverá nos EUA, nos próximos meses, reuniões de grandes grupos como
Wells Fargo ou Bank of America, entre muitos outros, e os ativistas do
Ocupe Wall Street usarão táticas que o Brasil já usa há muito e que
parecem inspiradas em nós.
Por exemplo: para poderem participar das reuniões dessas corporações a
fim de protestar, estão adquirindo uma só ação de cada grande grupo por
ativista de forma a terem direito legal de participar das assembléias a
fim de “meterem o bedelho”, ou seja, de protestarem e darem os seus
recados.
É o Brasil exportando um know how que um povo que pôs o homem na Lua desaprendeu.
Lerner, nas respostas que deu às minhas questões, fez questão de
ressaltar que, pela primeira vez em décadas incontáveis, os jovens
americanos estão mais pobres do que os ascendentes, ou seja, do que pais
e avós. E informa que essa realidade, aos poucos, irá mudar a face – e a
mentalidade obtusa – de seu pais.
Talvez, leitor, você goste de saber que o Brasil está exportando
“tecnologia” para perturbar o grande capital. Aqui está dando muito
certo. Apesar de este país ser mais injusto, se os americanos
conseguirem diminuir a injustiça social como estamos diminuindo, o
choque de igualdade que será gerado poderá varrer o mundo.
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