quarta-feira, 30 de julho de 2014

De ciclovias e jogos de futebol

Já não me impressiona mais o tendencionismo da grande imprensa brasileira, mas é impossível - pelo menos para mim - não deixar de comentar este comportamento descarado de alguns jornalistas em relação a assuntos do interesse de todo mundo claro, sempre puxando a brasa para a sardinha da direita brasileira.

Hoje pela manhã pude ouvir pela Bandeirantes comentários a respeito das ciclovias que a Prefeitura de São Paulo está implantando pela cidade. Ao lado de comentários contrários as tais ciclovias tratando o comportamento do Secretario de Transportes da cidade como imperial, ou seja, decidindo sem nenhuma razão aparente onde vai ou não vai ter ciclovia, o tal radialista faz comentários irônicos inclusive sobre a cor das pistas que é vermelha.

Claro que do alto de sua cegueira ideológica - fazendo ligação entre a cor da pista com a cor oficial do PT ( partido do prefeito ) - ele deixa de informar que a cor vermelha para ciclovias é um padrão internacional que vale como norma para sinalização destas pistas no mundo todo.

E segue o infeliz comentarista a dizer: já pensou você acordar de manhã e encontrar uma faixa vermelha pintada no asfalto da porta da sua casa?

Em sua obtusidade ele deve ter se remetido aos tempos da Segunda Guerra em que os nazistas marcavam as portas das casas de judeus, e já sabemos por que. Talvez ele esteja querendo dizer que o infeliz morador que tiver uma faixa vermelha pintada na porta de sua casa esteja sendo marcado como um PETISTA ! ( que horror ) e que deva fugir para as montanhas. Se é pra ser obtuso dá licença de eu ser também.

 E disse mais o engraçadinho: que o Secretario de Transportes acorda de manhã e pergunta qual tinta tem mais no estoque e, sendo vermelha, ele a pega e sai por ai pintando o asfalto.

E segue a falação do sujeito criticando decisão da Prefeitura que, segundo ele mesmo, dá-se de cima para baixo, de maneira imposta, sem consultas a população e que tal atitude esta atrapalhando a vida de muita gente em especial de ruas de comercio.

É de se discordar. Haja vista que a utilização das vias publicas é desde sempre regulamentada pelo poder publico, tais como: regras de transito, semáforos, mãos de direção, estacionamento no meio fio, faixas de pedestres, etc.. etc.. Não me consta que a CET - no caso de São Paulo - faça antes uma pesquisa entre os moradores de uma rua, ou que ao menos peça licença a eles, para estabelecer qualquer regra de transito no local. Este é um ponto.

O outro ponto é que a bicicleta esta se consolidando como alternativa de transporte. É desejável o uso cada vez maior de bicicletas, por razões tão óbvias que nem é preciso cita-las. Espera-se que cada vez mais, haja ciclistas circulando pela cidade e, sendo assim, é bom desde já ir cuidando de sua proteção. Aliás proteção essa que deveria ter sido feita desde o inicio para os motociclistas evitando ocorrências de acidentes diários inclusive com mortes envolvendo usuários de motocicletas. Não estamos desejando o mesmo para usuários de bicicletas. Certo?

Ao lado deste debate sobre as ciclovias deveria ser colocada a decisão do governador Alckmin que, diante da imposição da Rede Globo, com o auxilio luxuoso da CBF, que a fim de defender interesses exclusivamente econômicos exige que partidas de futebol durante a semana sejam disputadas a partir das 22 horas, decidiu o governador que trens e metrô funcionarão até mais tarde - depois da meia noite - com o objetivo de atender aos torcedores que saem dos estádios neste horário.

Uma medida apenas maqueada de interesse público, pois na verdade atende muito mais os interesses  de uma empresa. E não é só isso. Coloca equipamentos e funcionários, com o correspondente aumento de custos, a serviço da Rede Globo.

Se deitarmos um olhar sobre qual deva ser a missão de um administrador  publico  a resposta é óbvia: defender antes de tudo os interesses dos mais fracos no conjunto da sociedade.

Nas ruas e avenidas da cidade quem é o mais fraco: os ciclistas ou os grandes lojistas e comerciantes?

No futebol quem é o mais fraco: o torcedor que põe em risco sua integridade física e patrimonial circulando pelas ruas da cidade de madrugada ou a Rede Globo faturando seus milhões com direitos televisivos?

Sob essa ótica de quem foi a decisão autoritária? De cima pra baixo, sem enxergar os interesses de parcelas da sociedade? 

Pra terminar lembro que os trens CPTM tem faixas vermelhas pintadas em seus vagões e a linha do Metrô que serve o estádio Corinthians em Itaquera é chamada Vermelha. Mas na hora apoiar ou no mínimo se calar sobre as atitudes de uma certa corrente política do país, estas questões cromáticas são irrelevantes. Não são mesmo?








domingo, 27 de julho de 2014

Os Vejários

Creio que estejamos todos enganados ao enquadrar a publicação Veja na categoria de revistas. Para mim ela se qualifica muito mais para ser um Boletim Informativo.

Boletins Informativos como se sabe, são publicações de entidades dirigidas a um publico especifico: dos lojistas. dos advogados, dos paroquianos, dos moradores de um bairro e assim por diante e até, por que não, dos seguidores de seitas. 

Para mim o Boletim Veja se assemelha àqueles dirigidos aos seguidores de seitas que neste caso são os Vejários.

Não existe ainda uma definição para Vejários. Vejários não tem começo, nem meio e nem fim. Não existe em nenhum vocabulário do mundo palavras que possam dar cor, forma, cheiro ou o que seja ao Vejário.

Isso me remete às narrativas bíblicas, onde no Livro de Gênesis, ficamos sabendo que Adão apontava para as coisas e dava a nome a elas: isso é uma galinha, aquilo uma minhoca, o outro um pedregulho. Apenas as nomeava sem saber de grupos, categorias, utilidades e afinidades.

Assim são os Vejários: não se sabe a que grupos pertencem, como são categorizados, em que são úteis e em que são afins.  Pelo que se vê devemos estar vivendo uma edição revisada do Gênesis. Em lugar de Pedros e Marias poderíamos chamar os Vejários de Croinc, Druintys ou Xyz que daria na mesma.

A única coisa que se sabe até agora é que alguns membros Vejários são historiadores do futuro, colecionadores de chapéu, filósofos de botequim e comentaristas de livros que só eles leem, e, é claro, seguidos por uma multidão de outros Vejários com cérebros  em forma de funil.

Essa deformidade, o cérebro em forma de funil, surge na fase pré-Vejário. A respeito do pré-Vejário já se sabe alguma coisa: são indivíduos que aos poucos perdem a capacidade de perceber a diversidade das coisas, e se tornam generalizantes.

O primeiro pré-Vejário de que se tem noticia foi encontrado em uma loja de tintas e que, ao pedir uma lata de tinta para o vendedor, ouviu a pergunta: de que cor? e ele respondeu: qualquer uma.

Este é o pré-Vejário: diz que não deveria existir quatro estações no ano e sim apenas a que ele gosta. Do mesmo modo não existem correntes políticas tais como esquerda ou direita, e não existem sete notas musicais pois conhece apenas o sambinha de uma nota só ( perdão Tom Jobim ).

Existem ocorrências em alguns raros pré-Vejários de pensar de modo binário, as vezes confundem ecologia com capitalismo ou guerra com genocídio, mas estes aos poucos se igualam a maioria e acabam por optar pelo pensamento único.

E é nesta crença no fim da diversidade que aos poucos tudo se torna como a saída de um funil que desagua nas páginas do tal Boletim Veja.

Fiquei sabendo de fontes fidedignas, que não posso revelar agora, que estudiosos já descobriram que os Vejários são uma espécie de Gremlins ao contrário. Na história de Spielberg os Gremlins eram seres que se multiplicavam pelo contato com a água, os Vejários, porém, se fundem uns nos outros. Sendo que o elemento catalisador são os votos nas urnas que, na medida que significam antes de tudo liberdades de escolha, acaba por juntar os Vejários em uma maçaroca disforme e inominável.

Tomara.




sexta-feira, 18 de julho de 2014

As cambaleantes idéias de Aecio Neves


Sem querer dar duplo sentido à palavra cambalear, percebe-se que Aécio Neves é um cambaleante. Cambaleia em sua posições mudando o discurso de acordo com a plateia ou o tempo.

Junto com empresários ele diz que tomara medidas impopulares acenando com ajustes na economia, obviamente favoráveis a esta plateia. Mas em discurso para o publico em geral ele diz que não tomara tais medidas. Anda ombro a ombro com pessoas que habitualmente chamam o Bolsa Familia de sustento de vagbundos porém, e mais uma vez, ao discursar para o povo diz que quer incorporar o BF nas politicas de Estado.

Esta semana foi a vez de ele falar "mais-ou-menos-bem" do Programa Mais Médicos contradizendo-se totalmente em discurso raivoso que fez na tribuna do Senado chamando o Programa de eleitoreiro ( video aqui ) além de dizer que servia para sustentar a ditadura cubana. Em sabatina efetuada pela Folha Uol Aecio Neves cambaleou mais uma vez e disse que manterá o programa que ele havia chamado de eleitoreiro porém impondo à Cuba alterações na forma de remuneração dos médicos, a qual ele pretende mudar para pagamento direto pelo Brasil aos profissionais cubanos.

Como argumento para sua imposição ele diz que Cuba tem que aceitar uma vez que o Brasil é maior que ela.

Estranho critério esse do sr Neves, tendo como parametro para negociações o tamanho do país. Será que ele falou em tamanho da economia? Do território? Da população?  Nenhum desses critérios há de ser usado nas relações relações diplomaticas entre paises soberanos, a não ser que ele ainda viva nos tempos que o mundo era dividido entre imperios e colonias.

Esta na cara que esse é um discurso ou de quem pretende acabar com o Programa pois Cuba não vai aceitar suas imposições, ou de um demagogo sem noção.

Além desta clara falta de respeito por um país soberano que tem o direito de  tratar os assuntos relativos aos seus cidadãos do jeito que bem entender, o Sr Neves demonstra incapacidade de viver sob o pluralismo politico e ideólogico condição indispensavel para levar adiante no futuro, caso venha ser eleito presidente, relações de colaboração e comercio com o resto do mundo, ou seja, se o critério para aproximações com paises for unicamente ideológico, viveremos sob a sombra de quem nós já sabemos.

Quanto ao seu rompante interesseiro e eleitoreiro relativo ao salário dos médicos cubanos, não passa de balela, haja vista que se sua preocupação com os ganhos dos profissionais do serviço publico fosse sincera os médicos, professores, policiais e outros de Minas Gerais seriam os mais bem pagos do país. Não é?





http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,vamos-rever-regras-com-governo-cubano-diz-aecio-sobre-mais-medicos,1529610
"Vamos financiar os médicos cubanos e não o governo cubano." - See more at: http://www.aredacao.com.br/eleicoes/45992/aecio-promete-rever-acordo-do-mais-medicos-com-cuba#sthash.fYwO3MmA.dpuf
"Vamos financiar os médicos cubanos e não o governo cubano." - See more at: http://www.aredacao.com.br/eleicoes/45992/aecio-promete-rever-acordo-do-mais-medicos-com-cuba#sthash.fYwO3MmA.dpuf
"Vamos financiar os médicos cubanos e não o governo cubano." - See more at: http://www.aredacao.com.br/eleicoes/45992/aecio-promete-rever-acordo-do-mais-medicos-com-cuba#sthash.fYwO3MmA.dpuf

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Vagões rosa: proteção ou segregação?

Foi aprovada na Assembleia Legislativa de São Paulo lei que obriga a CPTM e o Metrô a reservarem um vagão - repito: um vagão - por composição apenas para passageiras como forma, segundo a pretensão do autor da lei, de poupar as mulheres de serem importunadas por passageiros aproveitadores da lotação do transporte e nelas se encostarem. A lei vai agora para ser sancionada pelo governador.

O mecanismo simplista proposto nessa lei ao reservar um vagão para mulheres, tem muito mais cara de segregação e parece nos levar de volta ao tempo em que os negros eram proibidos de usar espaços onde ficavam os brancos. Neste caso homens e mulheres não podem viajar juntos. Ponto.

Acima do absurdo do raciocínio usado para solucionar o que é muito mais de educação do que de convivência está ainda a entendimento estapafúrdio de que basta apenas um vagão para transportar todas as mulheres que hoje ocupam toda a composição. Não precisa ser um profundo conhecedor da nossa sociedade para saber que a proporção entre homens e mulheres é mais ou menos equivalente.

Isso leva a crer que uma parte grande das mulheres serão levadas a embarcar nos vagões, digamos assim, mistos para não perderem a hora de seus compromissos. Será por certo um prato cheio para os tarados de plantão que imediatamente pensarão: bem se ela esta aqui é por que quer, ou não se importa, de ser encoxada. Ou seja esta se expondo a vitima ao seu algoz.

Acrescente-se ainda a esperteza sempre presente em uns e outros que darão um jeito qualquer de embarcar nos vagões rosa. Não é difícil concluir isto basta observar que nas horas de rush o Metrô reserva as duas primeiras portas da composição para embarque daqueles com direito a atendimento preferencial: idosos, gestantes, adultos com crianças de colo, e outros. Não foram as poucas vezes que vi passageiros não incluídos nestas condições passarem pelo bloqueio na maior cara de pau e embarcarem nos espaços a que não tem direito.

Separar as pessoas não é um jeito de torna-las mais sociáveis, pelo contrário criam-se condições para agressividades em geral, passam a impressão de privilegiar uns em detrimentos de outros além de, é claro, inibir convivência civilizada e impedir o amadurecimento das relações humanas 

Bem mais eficaz poderia ser uma campanha "feroz" de punição severa aos aproveitadores. Leis para isso já temos de sobra. Pode-se pensar também que nas estações e nos trens as ocorrências  fossem sempre atendidas por agentes femininas a fim de evitar constrangimentos naquelas mulheres vitimas dessas violências.

Por fim há que se pensar em uma campanha educativa e massiva - do tipo que foi feita com a prevenção da Aids - escancarando para toda a sociedade que elementos que agem desse modo  são desequilibrados e, sendo assim, são estes que merecem ter um vagão só pra eles.


domingo, 13 de julho de 2014

O El Cid tupiniquim

El Cid, como se sabe, foi um nobre nascido na Espanha em 1043 batizado como Rodrigo Diaz de Vivar. Viveu uma vida de guerras, traições, barbaridades e lendas como era comum acontecer naqueles tempos. Uma das lendas diz que ele já morto foi amarrado em seu cavalo por sua mulher e, diante de seu exercito, partiu para a guerra contra os mouros que o supunham morto. Quando os mouros o viram fugiram e, claro, perderam a guerra.

Ontem no banco de reservas da seleção brasileira no jogo contra a Holanda, alguém teve a mesma ideia que teve a mulher de El Cid:  colocar o Neymar no banco, com o uniforme de jogador, para - santa tolice - quem sabe motivar nossos jogadores ou assustar os holandeses.

Guardadas as devidas proporções - Neymar não está morto e jogo não é uma guerra - não deu pra entender o propósito deste gesto tenha sido ele só de Neymar ou de toda a equipe de dirigentes e técnicos.

Primeiro de tudo e o mais óbvio ululante é que não me consta que Neymar tenha personalidade de lider a ponto de motivar ou não seus companheiros. Muito menos me parece que ele seja um estrategista do futebol e sua presença ali poderia servir para auxiliar Felipão a armar o time.

Em segundo lugar o efeito que poderia ser esperado - de Neymar motivar seus companheiros - pode ter acontecido ao contrario e os demais jogadores do time podem ter se perguntado no momento: mas quem esse cara pensa que é? Sim deixemos de lado esse romantismo de pensar que em um time de futebol todos se amam. Creio que aquele grupo é como qualquer grupo de humanos: cheio de inveja, ressentimentos, armações desonestas, fofocas porém , é claro,  também de boas e fieis amizades.

No adversário esta atitude de Neymar estar presente no banco também não serviu para nada uma vez que até entre todas as folhas do gramado do campo é sabido que Neymar não pode joga, por enquanto.

Pode-se ainda imaginar a hipótese de que isto tenha sido uma deferência especial ao craque e que a titulo de reconhecimento de sua importância, resolveram deixa-lo ali. Se for assim acaba de ser inaugurado um comportamento que em breve poderá causar congestionamentos nos bancos de reservas país afora uma vez que não são poucos os craques e ex-craques impedidos todo o tempo e circunstancialmente de jogar uma partida por seu time.

Além disso, Neymar já havia sido solenemente homenageado por seus companheiros no inicio da partida contra Alemanha na terça feira passada, quando exibiram a camisa dez do jogador durante a execução do nosso hino e que, convenhamos, diante do resultado daquele jogo não serviu para motivar ninguém.

A mim fica a pouco nobre conclusão de que Neymar estava naquele banco vestindo a camisa da seleção muito mais por razões contratuais do que por amor a arte. E se for mesmo assim e se apenas a força da grana é que acaba por forçar um jogador a trocar o conforto da sala de sua casa onde fica muito mais garantida a sua recuperação do machucado, já passou da hora de rever as normas que regem esta fabrica extraordinária de dinheiro que virou o futebol.