quarta-feira, 4 de abril de 2012

O copo para água, a camisinha e o Enalapril

Já faz muito tempo que fui incluido no rol dos individuos hipertensos e em razão disso, o médico me receitou usar o medicamento Maleato de Enalapril diária e continuamente. Lá no inicio de tudo, já faz uns 20 anos, não existiam esses programas de distribuição gratuita de remédios e eu pagava em preços de hoje por volta de R$ 17,00 uma caixa com 30 comprimidos. Depois passou a existir um subsidio para a compra deste medicamento e o preço foi reduzido em uns 80%. Mais recentemente o SUS subsidia totalmente e o usuário pode retirar o remédio nas farmácias de Postos de Saúde ou em algumas farmácias da rede privada totalmente de graça. Isso é muito bom, um serviço inquestionavelmente útil para a população.

Mas há uma burocracia a ser vencida por trás desse benefício.


 

Começa que ao receber a receita voce é informado que ela é valida por 4 meses. Porém isso não é bem verdade dado que ela vale mesmo por 120 dias corridos, ou seja, uma receita emitida no dia 01/12/11 não termina em 31/03/12 e sim em 27/03/12 e um ususário desavisado que deixar para o último dia para retirar seu remédio, dança. Foi o que aconteceu comigo esse mês.

Outro detalhe complicador é que o medicamento não pode ser retirado de uma vez só para os quatro meses de validade da receita, e o paciente tem que ir até a farmacia a cada trinta dias. E atenção de novo: trinta dias corridos e não um mês.

Por conta dessa curta válidade da receita (o que é um contrasenso na medida em que o medicamento é de uso continuo e não se tem conhecimento que algum hipertenso tenha ficado curado deste  mal) faz com que o paciente seja forçado a visitar seu médico a cada 120 dias ou um pouco menos para a renovação da tal receita. 

Agora tente você, meu caro leitor hipertenso, marcar uma consulta com o clinico geral do SUS com antecedência menor que 120 dias! No Posto de Saúde aqui perto de casa a agenda para o clinico geral será aberta na semana que vem, com datas a partir de outubro! Repito: na semana que vem eu poderei marcar uma consulta com o clinico geral a partir do mês de outubro.

Pergunta que não quer calar: como faço para continuar usando meu Enalapril, já que minha receita venceu?

E eu pensava em tudo isso enquanto olhava para o dar de ombros da funcionária que me atendia no Posto de Saúde, quando reparei que ao lado havia um bebedouro e pensei que um copo d´água poderia ajudar a engolir esse contratempo. Então pedi um copo para a atendente que me respondeu que, assim como não havia solução para meu caso, também não haviam copos descartáveis para eu tomar água!!!

Eu não me chatearia tanto com essa história se momentos antes eu não tivesse visto pendurado em uma das paredes daquele Posto um dispenser repleto de camisinhas à disposição de quem quisesse. E ví uma jovem senhora servir-se de várias delas enfiando-as na bolsa e indo embora. Não tenho nada contra a que se distribuam camisinhas fartamente.

Mas fico a perguntar se o Estado não pode me fornecer um copo para água dentro de suas instalações, não pode me fornecer medicamentos de uso continuo sem que eu cumpra uma burocracia que pode terminar em um beco sem saída, por que distribui mãos cheias de camisinhas inteiramente grátis?

Sem querer perguntar o que há por trás disso, quero saber do Estado  por que ele é um agente tão solícito  e atento para a segurança das atividades sexuais de seus cidadãos e não o é da mesma forma comigo e com outros milhares de brasileiros hipertensos na segurança da nossa saúde?

Fiquem em paz,

Jonas

PS Aqui estou falando apenas de hipertensos, mas outros pacientes de outros males - como diabéticos-, apesar de cobertos por programas de Saúde do Estado, passam pelas mesmas dificuldades e pela mesma burocracia.











2 comentários:

  1. É,Jonas,isso é o fim da picada... deveria ter um atendimento intercalado para entrega de receitas a pacientes que precisem de medicamentos de uso contínuo. Como eu tenho plano, busco receita na própria sede, com clínico, apresentando receita anterior. Para marcar novamente o médico correto, tbm demoraria meses...É um caso a ser pleiteado. Abraços

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  2. Pois é Denise. Quando se tratasse de renovação de receita que alguém habilitado o fizesse. Quem sabe a enfermeira chefe, ou a assistente social. Bastaria que o paciente apresentasse a receita original emitida pelo médico. Facilitaria um pouco a vida do vivente Abraços

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