Empobrecimento no Leste multiplica casos de tráfico de mulheres, levando violência até a países onde profissão foi regulamentada, como Holanda
Em pelo menos nove países da Europa a prostituição é legalizada, e as
profissionais do sexo têm direitos trabalhistas, tratamento médico
preventivo e proteção contra a exploração por gigolôs. Nem sempre tudo
que está nas leis é obedecido, mas o fato é que em países como a Holanda
a criminalidade que cerca a prostituição em outras partes do mundo é
bastante reduzida.
A relativa tranquilidade do chamado Red Light District (Bairro da Luz
Vermelha), onde encontram-se dezenas de bordéis e centenas das famosas
vitrines onde as prostitutas se exibem e tentam atrair seus clientes,
está sendo abalada nos últimos dois anos pela crise econômica que atinge
a Europa. Segundo as autoridades, aumenta a presença do crime
organizado no tráfico de mulheres que buscam fugir dos países mais
pobres (especialmente os da antiga União Soviética, como Moldova,
Ucrânia, Belorússia, Romênia, Bulgária, República Tcheca e outros).
Trazidas para os países mais adiantados, como Holanda, Alemanha,
Bélgica, Inglaterra e França, além da Escandinávia, muitas delas são
escravizadas através de dívidas que são obrigadas a assumir, ou da
violência pura e simples. Muitas vezes, elas passam antes por um
“estágio” em países intermediários como a Macedônia (parte da antiga
Iugoslávia), onde sofrem torturas e humilhações para ficarem “dóceis”
aos seus “donos”.
É impossível verificar os números envolvidos no tráfico de mulheres e
nas redes de prostituição, mas a polícia calcula que entre 200 mil e
400 mil mulheres e garotas sejam retiradas anualmente dos países do
Leste, e pelo menos a metade delas acaba sendo prostituída no Oeste – um
quarto iria para os Estados Unidos. Organizações de direitos humanos e
combate à escravidão lutam para que as polícias dos vários países ajam,
mas a corrupção neste setor é grande. O chefe de polícia encarregado de
combater este crime em Velesta, na Moldova, Vitalie Curarari, por
exemplo, chega a culpar as próprias mulheres: “Cinquenta por cento de
nossas mulheres vão para o estrangeiro procurar outros homens e depois
voltam apenas para se divorciarem de seus maridos”… Ele também culpa a
imprensa por fazer “sensacionalismo” ao denunciar as máfias do tráfico
humano e as crueldades praticadas contra mulheres prostituídas.
A situação econômica influencia na prostituição de várias maneiras.
Em primeiro lugar, força mulheres dos países pobres a aceitarem
convites ou atenderem a anúncios oferecendo empregos em países
distantes. Há casos, por exemplo, de jovens que pensavam estar
embarcando para um emprego de garçonete na Itália, mas depois de
entregarem seus passaportes ao “agente de empregos” foram embarcadas
para outros países, presas nos fundos de prostíbulos, espancadas e
obrigadas a praticarem serviços sexuais sob ameaça e em troca de comida.
Também muitas jovens estudantes nas principais cidades de toda a
Europa, diante dos elevados preços das escolas (os governos cortam
gastos com Educação como parte de seus “ajustes fiscais e
orçamentários”), dos aluguéis e demais despesas, acabam recorrendo à
prostituição através de agências de acompanhantes. Este trabalho lhes
permite horários flexíveis, boa remuneração, e visitas a hotéis e
restaurantes que uma estudantes jamais poderia frequentar.
Já no Bairro da Luz Vermelha, em Amsterdã, as prostitutas reclamam
que o volume de clientes tem diminuído, e que eles passaram a pechinchar
muito mais pelos serviços. Fora desta área organizada e mais protegida,
há muitas mulheres se prostituindo por valores mínimos, como no
Theemsweg, uma área do tamanho de um campo de futebol, onde a prefeitura
instalou vários pontos de ônibus. As mulheres se abrigam neles, e os
carros as apanham para uma relação rápida, dentro dos automóveis mesmo.
Um policial nos informa que ali 70% das mulheres estão no país
ilegalmente, e a maioria veio dos países do Leste europeu.
Tudo isso vem preocupando as autoridades holandesas, que legalizaram a
prostituição no ano 2000 para evitar a superexploração, a prostituição
de menores, a violência dos gigolôs, e a disseminação das drogas neste
meio. A legalização funcionou razoavelmente por vários anos, mas nada
fica imune diante da grave crise do capitalismo que atinge profissionais
de todas as áreas – inclusive as que comercializam o sexo.
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