quarta-feira, 11 de abril de 2012

Sobre Censura e Pontapés

Via ContextoLivre

Theófilo Silva
Shakespeare nos diz em Tímon de Atenas, que “Nenhum homem vai para o túmulo sem levar no corpo a marca de um pontapé dado por um amigo”. Se os amigos nos dão pontapés, o que não podem fazer outras pessoas? Já levei tantos pontapés na vida que perdi a conta. Portanto, quando fui impedido de emitir minha opinião, como vinha fazendo semanalmente, há cinco anos no Site do Jornal O Globo, Blog do Moreno, não me assustei, encarei como mais um chute, desses que a vida nos dá de vez em quando.

Afinal de contas a verdade é dura, incomoda e dói! Cometi o mais imperdoável dos crimes no Brasil: mexi com uma corporação. Jornalista não critica jornalista, como disse o dono do Blog – citei o nome de um jornalista e sua revista (Policarpo Júnior e Veja), que estão na boca de todo mundo. O corporativismo é a maior praga do país. Aqui, mesmo o maior dos criminosos, se pertencer a alguma categoria, é protegido por uma guarda pretoriana, impossível de ser furada. Quando um deles é pego, a primeira declaração que a corporação dá é: “É preciso cortar na própria carne!”. E não cortam. Que carne, que corpo?
 
 
 
Não sou jornalista profissional. Escrevo, apenas. O jornalismo é uma escada para a literatura. Jornalistas podem se tornar grandes escritores, a história está cheia deles. Estão aí, Jonathan Swift, Mário Vargas Llosa e Gabriel Garcia Marquez para provar. Mas poetas, romancistas, ensaístas, embora não saibam montar pautas, matérias e entrevistas, sabem opinar.
 
É preciso denunciar o grande circo em que se tornaram as relações entre políticos e a imprensa. Um jogo danoso para a sociedade, do tipo “eu te protejo, tu me proteges e juntos nos protegemos todos, assim nos locupletamos”. Um jogo em que a informação é eivada de mentiras! Não faço parte desse jogo, nem sou franco atirador. Busco a verdade, o fato, “verum facto”, e com ela uso a imaginação para torná-la mais interessante aos olhos dos leitores. Para isso, conto com a ajuda do meu mestre William Shakespeare que, como um farol, ilumina o que escrevo para a alegria dos leitores.
 
Muitos lutam para pegar “os nacos jogados pelo chão”; luto para fazer algo legítimo! Algo que torne a vida, tão cheia de mentiras e embustes, algo digno de ser vivido. Sigo o lema do Dr. Johnson – o maior dos ensaístas em língua inglesa – “A mente só repousa na solidez da verdade”. Que é um princípio cristão. Já que Cristo disse: “E direis a verdade e a verdade vos libertará”. Sob este princípio somos todos cristãos.
 
A filosofia discute o que é a verdade, a literatura acredita nela. Nietzsche, em seus aforismos, afirma que “Nós precisamos de arte para que a realidade não nos esmague”. É a arte que suaviza essa vida “cheia de som e fúria” e armadilhas de que falava Shakespeare.
 
Quanto ás corporações, os grandes impérios da mídia, que manipulam e escondem os fatos, que não dizem a verdade, a tecnologia está se encarregando de dobrá-los. Os jornalistas de talento estão abandonando-os – algumas publicações são exceções – cansados de serem humilhados, e de cumprir uma pauta que os faz vomitar, impedidos que estão de mostrar os fatos, eles estão criando seu próprio espaço, os Blogs. O que não impede que muitos blogueiros não passem de pistoleiros pagos – falei deles no meu artigo Refúgio de Canalhas. Mas tem muita gente séria nesse negócio.
 
Minha resposta à censura é continuar no mesmo tom, e lançar o meu livro Shakespeare Indignado, uma coletânea de artigos que escrevi nos últimos cinco anos, em que fiz o que Cervantes recomendou: “Acertei contas relativas a ofensas e insultos, corrigi injustiças, puni arrogância, derrotei gigantes e pisoteie monstros”.
Quem pensa assim está comigo e com a verdade! E vamos em frente!
 
Theófilo Silva, autor do livro A Paixão Segundo Shakespeare.
~ o ~
A matéria "O Refúgio dos Canalhas", a que o Theófilo Silva se refere acima está aqui, e esta não foi censurada.

Refúgio de Canalhas

“Quem é Charles Augustus Milverton, Holmes? O maior canalha de Londres, Watson”, responde Sherlock Holmes. O maior detetive de todos os tempos não economizou no adjetivo ao qualificar o sujeito, cuja ocupação era achacar pessoas honradas.
 
Chamo também de canalhas, aqueles que maculam a honra alheia plantando mentiras em veículos de comunicação. A pistolagem moderna – mesmo que ainda existam pistoleiros – chama-se reportagem caluniosa, uma matéria jornalística, imputando um crime a alguém, sem nenhuma prova material. É de pensar que esses textos são feitos apenas por crápulas que escrevem em Blogs de aluguel. Mas não é. A prática está disseminada em grandes veículos de comunicação, que estão rompendo com as mais elementares regras do jornalismo. Não estou me referindo ao caso do ministro dos esportes, nem sobre comentários de leitores em artigos e matérias em geral.
 
Falo dos órgãos de imprensa que estão entrando no mesmo nível de marginalidade dos adversários que combatem; usando os mesmos métodos vergonhosos de seus acusados; a mesma prática suja dos homens públicos envolvidos em falcatruas, e isso é muito ruim. Governo é para apanhar. A imprensa tem que fiscalizar, escarafunchar, desmascarar, bater mesmo. Outra coisa é colocar pessoas honradas no mesmo saco dos sujos, imputando-lhes crimes para atingir outrem. Essa prática é mercenária.
 
Ninguém é ingênuo, ao ponto de pensar que órgãos de imprensa e jornalistas não têm lado e que, a verdade não seja sacrificada em nome de interesses, sejam eles quais forem. Mesmo nos EUA e Inglaterra, a imprensa age assim. O velho inescrupuloso, Rupert Murdoch, dono de um império de comunicações, é prova disso. A diferença é que, nesses países, a justiça funciona, e os caluniadores pagam caro por suas canalhices.
 
Costumo dizer em rodas de conversa, debatendo nossos problemas, que, no Brasil, você gira, gira, discutindo coisas e, no final, conclui que nossas desgraças são causadas pela ineficiência do nosso estado de direito. Nossa justiça é ruim, muito ruim. Não temos como deter a corrupção no Brasil, em suas múltiplas formas, se não punirmos as pessoas. A Inglaterra deu certo por isso, e a Grécia está agonizando por que é corrupta.
 
Difamadores de aluguel sempre existiram, jornais venais também. Há cinco séculos, um caluniador chamado Aretino vendia sua verve a quem pagasse mais. Era contratado por nobres para destruir a reputação de seus inimigos, com seus panfletos difamatórios. Aretino chegou a ser apunhalado e espancado por suas vítimas, várias vezes.
 
A imprensa é livre e deve permanecer assim. Tudo que for visto de errado deve ser denunciado, principalmente na esfera pública. Mas o que fazer com os caluniadores e defensores de bandidos, contratados para espalhar mentiras, escondidos nas redações? Infelizmente, o refúgio para esses canalhas, como diria o Dr. Johnson, no Brasil, é o poder judiciário, que, na sua incompetência, não os pune como deveria.
 
Que ninguém pense que estou atacando o trabalho fiscalizador da imprensa séria. Do mesmo jeito que bato em homens públicos corruptos, todas as semanas, neste espaço, é meu dever também acusar o jornalismo nefasto.
 
Shakespeare nos disse em Medida por Medida: “Nem a grandeza, nem o poder, neste mundo mortal, podem escapar da calúnia que fere pelas costas e ataca a mais branca das virtudes.”. E pergunta: “Que Rei é bastante poderoso para conter o fel de uma língua caluniadora?”. A resposta é, nenhum! 
 
No passado, os ofendidos defendiam sua honra em duelos com pistolas, mas a lei proibiu a prática. Hoje, apenas os caluniadores podem usar pistolas e atirar pelas costas. No Brasil, a justiça garante

Nenhum comentário:

Postar um comentário