quarta-feira, 11 de abril de 2012

Quando a imprensa regional olha para o lado

Via Observatório da Imprensa

Atenção, atenção: estamos nos transformando num “Estado policial” ou “policializado”. Estado democrático, de direito, mas um Estado onde o interesse social só tem a proteção do Ministério Público, da Polícia Federal, da Receita Federal e dos magistrados que autorizam devassas. O resto – Executivo, Legislativo, imprensa e sociedade civil – está paralisado, entorpecido, inerte diante de um formidável lodaçal que se espalha, se infiltra e se aprofunda irremediavelmente. Nenhum desses poderes quer se comprometer, enredar-se. Todos, sem exceção, têm medo de respingos.

A sociedade brasileira está perdendo a capacidade de se defender, sabe apenas chamar a polícia. E depois entrega os malfeitores a um Judiciário atravancado, aturdido, lerdo, muitas vezes venal. Se o diagnóstico está correto estamos à beira de uma decomposição institucional.

Tudo começa numa imprensa desfibrada, burocratizada e mundana que já não sabe qual o seu papel. A imprensa regional mimetiza aquela que se apresenta como nacional e o resultado deste conluio de equívocos é que não temos vigilância na esquina nem nos grandes espaços.

Vício perigoso

Carlos Augusto Ramos, vulgo Carlinhos Cachoeira, começou na esquina, opera a sua rede de contravenções há pelo menos duas décadas num estado rico, próximo dos grandes centros e onde existe uma mídia regional bem implantada. A Organização Jaime Câmara, estabelecida logo em seguida à fundação de Goiânia (1935), edita o diário O Popular, um dos melhores do país, tem um sistema de rádio e outro de TV com onze emissoras e repetidoras.



Este complexo midiático, porém, não foi capaz de perceber a intensa e ousada movimentação do contraventor-mor, mesmo depois do seu envolvimento com Waldomiro Diniz, assessor do então todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, no primeiro mandato do presidente Lula da Silva.
Este observador não pretende lançar suspeições sobre o grupo midiático; está, sim, radiografando os sintomas da inércia jornalística que hoje domina grande parte da mídia regional brasileira. O poder da grande imprensa americana veio de uma brava imprensa regional treinada nas trincheiras jornalísticas locais. A interdependência dessas esferas gera uma comunidade atenta, ágil, que só recorre à instância policial na hora do desfecho.

Para não parecer provinciana nossa mídia regional adota um glamour desbotado, cerca-se de colunistas sociais e veste Prada, esquecida de que o seu pedigree ou virá da dedicação ao interesse público ou de nada valerá.

O Estado policializado, dependente do poder de polícia, incapaz de detectar ameaças e denunciá-las, é em última análise fruto de uma imprensa – grande, média ou pequena – viciada no perigoso jogo de olhar para o lado.

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