A pior maldição de São Paulo é seu gigantismo. Por mobilizar um dos
maiores orçamento da União, administrar a cidade parece não ser mais
algo que tenha valor em si.
Ao contrário, São Paulo é apenas uma passagem, seja para voos mais
altos, como a Presidência da República, seja para a utilização de seu
peso político na construção de novos partidos, seja para a luta pela
construção de hegemonias partidárias.
Há tempos a população paulistana não tem um prefeito, apenas um prefeito
-alguém que queira simplesmente administrar a cidade e debruçar-se não
sobre as taxas de juros do Banco Central ou dos grandes problemas do
país, mas sobre o trânsito infernal da avenida Brasil ou a falta de
bibliotecas na periferia.
Não por outra razão, a cidade nunca é referência quando se discute
soluções urbanas inovadoras. Não há mais pensamento urbano em São Paulo
-isto porque não há um poder público capaz de incentivá-lo e
implementá-lo no interior de uma ação integrada de planejamento.
Do ponto de vista da criatividade referente à vida nas grandes
metrópoles, São Paulo é uma cidade morta. Seus fios elétricos expostos,
seus semáforos que não funcionam e seus ciclistas atropelados lembram
como ela está parada no tempo, como alguém que parece desconhecer seu
próprio tamanho.
Colabora para isso o fato de, nos últimos anos, o morador da metrópole
ter sido obrigado a conviver com a mediocridade administrativa
travestida de autossatisfação.
Enquanto as pesquisas eram unânimes em mostrar o descontentamento
profundo da população com a metrópole, a ponto de vermos pesquisas em
que a maioria dos habitantes afirmava querer simplesmente mudar de
cidade, éramos obrigados a ouvir o atual prefeito dizer que daria para
si mesmo nota dez. Há de perguntar-se quem precisa de tanta
insensibilidade no cerne do governo.
De fato, é difícil para qualquer cidade sobreviver depois de uma série
de prefeitos como Jânio Quadros, Paulo Maluf, Celso Pitta e o atual.
Não por acaso, eles representam momentos do desenvolvimento do mesmo
grupo político, com concepções muito parecidas para a cidade. Todos eles
(à parte Celso Pitta, cuja carreira foi destruída por escândalos de
corrupção) entraram na prefeitura olhando para outros mares.
Por isso, a única coisa que a população paulistana pede nessas eleições é
que os candidatos mostrem querer realmente administrar a cidade, ter
ideias factíveis e detalhadas, do tamanho da real dimensão dos problemas
brutais que vivemos no cotidiano.
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