sábado, 15 de setembro de 2012

O que queremos ver

Sempre que o assunto é informação, cultura e lazer via mídia, há um consenso sobre a indigência do que é divulgado na imprensa escrita, falada e enxergada.

E é bem comum ouvir-se argumento de que é isso que o povo quer ler, ouvir e ver.

O que muitas vezes dá a impressão é que há um movimento não articulado e não declarado, porém convergente, de uma parte significativa de todos os que lidam com informação e cultura, na direção de ou manter o baixo nível informativo e cultural ou espetacularizar assuntos de interesse de pequenos grupos.

Por estes dias o caso do julgamento da AP 470, "mensalão", é um exemplo gritante de como os responsáveis pela informação podem dirigir e pautar um assunto de acordo com seus interesses, sendo que nesse caso o interesse é a acusar e condenar os opositores e nada mais que isso.

O que salta aos olhos é o excessivo destaque para a demonstração das maracutaias praticadas por um grupo de pessoas e suas respectivas condenações, mas não se vê o debate sobre como isso aconteceu, que oportunidades foram dadas para isso, e quais as possíveis soluções sobre como evita-las no futuro.

Muito menos deixa-se entrever que se trata de crimes feitos por um grupo de indivíduos que, embora abrigados sob um legenda partidária, não tem o poder de conduzir todos os milhares de partidários e simpatizantes da mesma legenda. Em outras palavras o que imprensa tem destacado é algo como se havendo um corintiano bandido todos os demais corintianos são bandidos. Eu aqui, esse pobre e pretencioso escriba, razoavelmente honesto e cumpridor dos meus deveres já estou começando a ter vergonha de dizer que sou eleitor do PT sem ser olhado como bandido, inclusive por familiares.

E ontem em São Paulo, no Rodoanel, aconteceu um protesto de moradores de um bairro marginal a esta via, protesto em que aqueles moradores queriam chamar a atenção para seus problemas de moradia.

E a repórter que dava a noticia teve a cara de pau de dizer que não sabia a razão do protesto, mas que o congestionamento causado era enorme e que os motoristas no local tinham aquela manhã muito tumultuada por conta do tal protesto. E só isso e nada mais. (Nesse momento vale lembrar que 06 dias por ano uma das pistas da marginal do Tiete, na mesma cidade de São Paulo, fica fechada para dar espaço para Formula Indy e a TV não mostra motoristas indignados com a confusão no transito.)

Fatos como o protesto dos moradores merecem reflexão um tanto mais profunda de toda a sociedade. Não é o caso de apenas olharmos para a justificada raiva daqueles que tiveram que se atrasar para seus compromissos por conta do congestionamento, mas em especial é necessário chamar para o debate os responsáveis pelas politicas habitacionais de todas as esferas e saber que providencias podem ser tomadas para resolver o problema. E cabe aos jornais e televisões promoverem esses debates e não tratarem o assunto apenas como mais uma confusão no transito.

Se nestes dois exemplos podemos perceber a manipulação do que realmente importa como informação e noticia para a população a mesma coisa se dá nas informações e noticias cotidianas da mídia em geral.

Será que não dá ao menos uma ou duas vezes por semana em horário nobre exibir a discografia de um Jobim ou de um  Chico Buarque?  Não será possível ao menos uma vez ou duas por mês exibir a biografia de um Drummond ou de um Fernando Pessoa? E que tal debates públicos sobre as demandas das populações locais, do país e do mundo com a presença de não só as autoridades envolvidas mas também técnicos, estudiosos e todos os diretamente interessados?  

Ao invés de encherem nossas cabeças de Hulks, Datenas e seus assemelhados?

Dá, claro que dá. Mas da mesma forma que não interessa debater sobre mecanismos que detenham a corrupção e do mesmo jeito que não interessa saber as razões que fazem pessoas interditarem importante via de transito, também não interessa entregar aos indivíduos cultura, lazer e informação que os levem a formar juízos sobre si mesmos e sobre tudo o mais que o cerca.

A informação e a cultura são bens da humanidade. E como tal devem ser minimamente protegidos e o seu acesso garantido pelos governos a todos os cidadãos. Negar cultura e em especial a informação é roubar a verdade. E roubo é crime. 

Governos que não tomam nenhuma atitude com as centenas de roubos da verdade cometidos diariamente pelos veículos de comunicação em geral são coautores destes crimes. 

Governos inertes diante das calunias, difamações e distorções ditas diariamente na mídia em lugar da verdade deixam a impressão de que tem coisas a esconder.

Governos que concordam em ver a população tendo seus cérebros embotados  pelos eternos e repetitivos enredos de novelas, em cujo universo o mundo se resume apenas em mocinhos e bandidos, e por cínicos Gugus travestidos de Robin Woods, são governos que não querem promover em seu país a erradicação de uma outra miséria, quem sabe tão fatal quanto a miséria de bens materiais, que nasce da carência de cultura e informação.






segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Mainardi, Eduardo Guimarães e A Onda

Três informações que chegaram até mim neste fim de semana me puseram a pensar sobre a possibilidade bem real de transformarmos nosso Brasil em uma ditadura, de novo.

Duas das informações são de blogueiros - se assim eu os posso chamar - colocados cada um de um lado da politica brasileira.

Um é  Diogo Mainardi que na minha opinião é a pessoa que inventou o ódio entre militantes políticos em razão da sua condenável pratica de sempre acusar de maneira grosseira e até com palavrões as instituições politicas brasileiras - qualquer uma ocupada por um petista - preservando sempre aquelas ocupadas pelo tucanato.

A outra informação vem de Eduardo Guimarães, jornalista, defensor aguerrido dos governos petistas mas nem de longe, é bom que se diga, um disseminador de ódios virulentos e escalafobéticos. Haja vista que são cancelados - apagados - comentários de leitores com linguagem impropria para crianças.

Eduardo Guimarães em seu Blog da Cidadania publicou um texto chamado A Menina Que Roubou o Ódio. Tudo começou com um outro texto do mesmo Eduardo em que, dada a doença rara e de cura muito difícil que acometeu sua filha, ele convida os seus leitores que opinem sobre decisões relativas a saúde da menina que ele, Eduardo, deve tomar.

E Eduardo, neste texto linkado, comenta sua satisfação ao ver que ali no espaço de seu blog, quase sempre ocupado pelos debates algumas vezes raivosos entre tucanos e petistas percebeu que, em razão da situação muito especial de sua filha, todos convergiram para comentários de solidariedade e alguma espécie de ajuda ou mesmo soluções para o caso. Se pode notar que afinal são todos seres humanos apenas.

Já sobre Mainardi foi no site BR 247 que encontrei a noticia dada por Mario Sabino a respeito do romance do ex colunista da Veja de nome "“A Queda – as memórias de um pai em 424 passos” livro cujo tema é a doença do filho de Mainardi, cuja intensidade e gravidade o fez perceber - ele Mainardi - o quanto a vida é frágil segundo  palavras dele mesmo "Em meus romances, eu era o narrador onisciente, que comandava o destino de um bando de personagens idiotas. Depois de Tito, eu me tornei o personagem idiota, e meu destino passou a ser narrado por um menininho de pernas tortas que nem sabia falar." 

E por fim, foi assistindo ao filme A Onda - leiam uma profunda e completa analise sobre esta obra aqui - que acabei por pensar um tantinho mais do que eu normalmente penso sobre o que está acontecendo com o debate politico no nosso Brasil, debate que, se é que existe, e em especial entre os militantes políticos anônimos, anda parecendo mais uma guerra.

O nível da violência verbal entre os comentaristas de blogs, ou manifestantes nas ruas, já passou dos limites do aceitável. Tanto tucanos como petistas em muitos momentos deixam florescer seus lados preconceituosos e gravemente excludentes apenas para defender o lado politico em que acreditam, sem no entanto entrarem no debate da politica tal como ela deve ser. Podemos ler quase todos os dias em blogues e sites que publicam comentários de seus leitores um verdadeiro campeonato de calunias e palavrões, ataques a honra e a dignidade de quem quer que seja, tudo sob o manto de um ódio inexplicável. Tudo devidamente alimentado noite e dia por jornalistas e cronistas radicais.

Este filme, A Onda, faz um alerta bastante preocupante sobre no que podem resultar essas atitudes radicalmente classistas.

Há um lado negro neste aparente e desejável exercício da democracia baseado em liberdade de expressão e de escolha. Tudo que é tomado em excesso, mesmo remédios, tem o efeito inverso. O uso que estamos fazendo daqueles dois bens tão caros para a humanidade estão pondo em risco justamente esses pilares tão necessários para uma convivência humana pacifica e ordeira.

O repudio automatico ao contraditorio; a repetição exaustiva de chavões, apelidos e ironias; o maniqueísmo sempre presente nos julgamentos apressados; esta estranha, porem confortável, sensação de pertença a uma das partes; a exaltação dos acertos daqueles que estão do mesmo lado e a relativização dos acertos daqueles que estão do outro lado; podem eliminar lentamente a capacidade que cada um tem de escolher por sí mesmo; sem medo de ser feliz, oops! falei.

PS Faço a importantissima ressalva que não estou generalizando, é claro. De ambos os lados tem muita gente sensata querendo de verdade fazer evoluir para o bem a prática da politica no Brasil.







sábado, 18 de agosto de 2012

Mensalis circencis.


Com essa história de televisionamento, (e espetacularização), do julgamento da AP 470 temos visto que suas excelências integrantes do STF são capazes de se comportar em plenário do mesmo jeito que os moradores de um edifício se comportam em suas reuniões condominiais. Mandam às favas a serenidade ou o senso de equilibrio. Pelo menos três vezes nos últimos 15 dias nós, os telespectadores brasileiros, pudemos assistir alguns barracos que bem poderiam ser armados em uma sala reservada, longe dos olhos do distinto publico que assiste a transmissão televisiva.

O protagonista principal dessas exibições barraqueiras é o senhor Joaquim Barbosa. Truculento e teatral, não transmite nem de longe a segurança de um julgador. Parece muito mais afeito aos rompantes dos donos da verdade do que uma pessoa apegada à justiça ou, por ultimo, um justiceiro pouco disposto ao dialogo e a análise serena dos fatos.

O senhor Joaquim Barbosa não é um julgador. É um inquisidor. Não se dá ao trabalho sequer de disfarçar sua sanha acusatória.

Seu primeiro piti deu-se no inicio do "mensalis circencis" quando, por iniciativa de um advogado defensor, foi solicitado o desmembramento do julgamento, Joaquim Barbosa não deixou barato e por todo seu escalafobético discurso ficou entendido que o importante era julgar o "conjunto da obra", ou seja, deitar-se um olhar sobre todo o suposto esquema quadrilheiro. Muito bem.

Veio então o julgamento das preliminares e, como eu já disse aqui no Saúva, o senhor Joaquim não pestanejou em atropelar toda a lógica de um julgamento e, sem ater-se aos autos julgou, e de forma claramente equivocada votou pelo indeferimento de um pedido de um dos réus que estava coberto de razão, conforme atestou toda a corte votando em seguida pelo deferimento do tal pleito, ou seja de maneira contrária a do açodado julgador-inquisidor.

Em outro momento e de maneira contraditória o senhor Joaquim propõe  que, sim!!, o julgamento deve ser fatiado, e que não tem nada disso de conjunto da obra e deve-se julgar ( e condenar é claro ) ato por ato de cada um dos envolvidos no "panis, mensalis et circus". Perdeu-se, portanto a visão de conjunto. Não há mais supostos quadrilheiros agindo em bando, mas indivíduos que desde o inicio, como alertou um dos nobres causídicos, ficariam prejudicados se fossem julgados em conjunto pela corte máxima uma vez que não poderiam fazer apelações a instancias superiores. Ao reconhecer a individualidade na participação nos crimes o senhor Joaquim desdisse o que disse no inicio.

Nesse mesmo dia do fatiamento (do julgamento, de suas atitudes e de seu cérebro) o senhor Joaquim lá pelas tantas e no meio de outro barraco armado em razão de suas  imposições destemperadas, ele mesmo disse que se as coisas não fossem do jeito que ele queria a corte corria o risco (vejam só a audácia!) de não ver o   nobre relator-inquisidor (ele mesmo) no final do julgamento, complementando que todos sabem de seu estado de saúde.

Péra ai!!! Sua excelência está padecendo de algum mal muito grave? É terminal? Sente dores muito fortes? Como pode um julgador dispor-se a formar juízo sobre o que for, estando ele tomado de uma dor desconfortável (quiçá insuportável) e que perturba sua concentração? Será que não é caso de ele declarar-se impedido de continuar a participar deste picadeiro inquisitorial?  É só pedir pra sair Joaquim!

Existem muitas pressas nesse julgamento: 

A primeira que se divulgou era que alguns delitos poderiam prescrever, mas pelo que sabemos as prateleiras dos Tribunais estão abarrotadas de casos esperando julgamento e ninguém parece se preocupar com prescrições.

 A segunda ficou por conta das vésperas da aposentadoria de um dos integrantes que poderia acabar por não votar se demorassem muito para armar a lona (para mim isso é incompreensível. Quantos outros milhares de julgamentos houve e continuarão a haver sem o voto deste douto senhor?) .

 E agora é o Joaquim que diz que está doente e que talvez não chegue ao final, e que então o voto daquele que esta prestes a colocar o pijama já nem importa tanto assim. 

Desnecessário dizer que sou leigo nessa coisa toda. Sou somente um cidadão tal e qual todos os milhões de brasileiros que podem agora estar a pensar o que eu mesmo estou pensando: tem alguma ciência desconhecida por trás dessa coisa toda. Alguma coisa está sendo armada e como eu já disse está me parecendo que é uma lona, um picadeiro e as arquibancadas. Precisa ver se o respeitável público vai gostar do espetáculo.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Julgaremos nossos Juizes?

Pude assistir o trecho final da sessão de hoje ( 15/08 ) do julgamento da AP 470. Vi o relator, Joaquim Barbosa, antes de dar inicio ao seu voto, colocar em votação as preliminares dos acusados.

Todos os pedidos, exceto o último, foram indeferidos. Joaquim Barbosa lia o pedido, indeferia e em seguida toda a Corte votava com ele. Não houve discussão.

Nessa altura eu já estava começando a achar que todos os advogados são uns bocós, ignorantes das coisas da Lei, tamanha era a facilidade com que Joaquim Barbosa argüia contra, citando artigos, decretos, outros julgamentos e coisas tais, e toda a turma votando fielmente com ele.

Veio então o ultimo pedido que era do réu argentino Carlos Quaglia. Joaquim Barbosa no inicio da sua leitura antecipou que aquele não seria um ato fácil de julgar. E começou sua leitura discorrendo sobre os fatos - tratava-se de uma questão de cerceamento de defesa mas não vou entrar no mérito - e o tempo todo Joaquim Barbosa desmerecia o réu chegando a dizer que aquela era uma atitude torpe, e que não tinha havido cerceamento de defesa coisa nenhuma e ponto final.

Foi então que o revisor Ricardo Levandowsky  disse que discordava do relator. 

Nesse momento estranhamente ( e mais estranho ainda ficaria diante do resultado que viria no final ) houve um burburinho entre os ministros alguns fazendo piadas, outros dizendo que aquilo não era hora pra essas coisas, e vamos deixar disso,  e segundo o próprio Levandowsky, Gilmar Mendes retirou-se da mesa ( a TV não mostrou )

E nesse momento fiquei cismado e passei a aguardar ansioso o que diria Levandowsky, que passou a  reclamar que ele tinha o direito sim de votar e que achava que não estava havendo respeito pelo trabalho dele.

Então lhe foi dada a palavra e Levandowsky começou a falar. E foi desmontando linha por linha os argumentos de Joaquim Barbosa. Passou a provar que o réu tinha razão e que isso estava nos autos. Levandowsky, com a firmeza natural de quem sabe do que esta falando, citou os autos, paginas datas, nomes e etc. E cada vez tudo ficava cristalino até para o mais leigo dos leigos: o réu tinha razão.

Em um daqueles momentos de rasgação de seda em que os Juízes trocam tantas gentilezas que a coisa acaba ficando cinica, Levandowsky disse que entendia - e não culpava -o relator Joaquim Barbosa, por não ter encontrado nos autos todas aquelas provas uma vez que aquilo é feito por outros e coisa e tal, então Joaquim Barbosa reafirmou dizendo que sim, que ele não tinha condições e jogou a culpa em anônimos funcionários.

Neste momento convido vocês, meus raros e pacientes leitores, a pensarem em como pode ser possível que um Juiz delegue pra anônimos funcionários esmiuçar todo o processo para depois proferir seu voto. Como Levandowsk encontrou tudo que Joaquim Barbosa não encontrou? Zelo de um e desmazelo do outro?

Que houvesse um debate em razão da interpretação dos fatos ou divergências em razão de aplicação desta ou daquela lei vá lá. Mas o que ficou nítida foi a má vontade de Joaquim Barbosa em debruçar-se sobre os fatos, tendo resolvido simplesmente desqualificar o réu, seus advogados e a defensoria publica. Sendo que esta ultima já havia decidido a favor do réu, coisa que Joaquim Barbosa também menosprezou chamando de gincana jurídica.

Não foi algo técnico. Ficou parecendo muito mais a exposiçao de uma crença inabalável na culpa de todo mundo, sem importar a realidade. Crença mesmo e não convicção. Pois pela primeira agimos com nossos instintos e pela segunda com nossa razão.

E veio a estranheza maior: todo o plenário votou com Levandowsky, inclusive Barbosa que, com cara de gato que derramou o leite, se contorcia todo e balbuciava algumas coisas em sua própria defesa, mas que, enfim, concordava com o revisor.

Some-se a este caso de hoje aquele outro havido no inicio deste julgamento em que Joaquim Barbosa deu piti por conta de um pedido de Marcio Thomaz Bastos a respeito do qual Levandowsky quis fazer comentários e então pode-se concluir: tem caroço por baixo desse angu. 

Será que no final de tudo não poderemos todos dormir tranquilos certos de que a justiça foi feita e teremos que julgar nossos Juizes?









terça-feira, 14 de agosto de 2012

Dora Kramer e sua antropologia barata

Talvez pelo fato de ter perdido o sono por causa dos rumos que toma o julgamento da AP 470, Dora Kramer perdeu também o senso pois passa a fazer uma análise do povo brasileiro com viés antropológico barato e filosofia de botequim.

Leiamos o texto, trecho por trecho, e que saiu publicado no BR 247:

 Nem tudo que é popular é justo, aceitável, verdadeiro ou incontestável. Disso dá notícia a História, a vida e as duas vitórias eleitorais do PT para a Presidência da República depois do advento do mensalão.
Interessante dona Dora. A senhora minimiza ou até despreza a tal de “opinião publica” que tanto a senhora quanto seus colegas de penas emprestadas sempre invocam quando se trata de atender aquilo que vocês defendem. Para entender isso basta ler o que a senhora diz a seguir.

Segundo pesquisa do instituto Datafolha, maioria expressiva (73%) da amostragem de 2.592 pessoas ouvidas uma semana depois de iniciado o julgamento no Supremo Tribunal Federal considera tratar-se de um caso de corrupção e espera pela condenação dos envolvidos.
Cevê Dorinha? A tal da “opinião publica” que você desprezou antes, agora virou sábia, e estranhamente politicamente ativa como raras vezes se vê em qualquer país do mundo.

Tal convicção não decorre da perfeição jurídica do relato dos autos, inacessíveis à avaliação leiga. A acusação não convence a maioria por estar juridicamente com a razão, mas porque sua narrativa faz sentido: conta que um partido valeu-se das facilidades do poder para arrecadar muito dinheiro e com ele conseguir sustentação política de que necessitava para governar.
Houve manipulação de grandes somas onde deveriam prevalecer posições políticas; é isso que as pessoas entendem e consideram impróprio.
Pois é dona Dora. O ser humano em geral, e não apenas o brasileiro, repudia os mal feitos. Até aqui a senhora não está dizendo novidade nenhuma. Experimente a senhora encomendar uma pesquisa sobre qualquer trambique em qualquer área de atividade humana e não se espante não: o resultado será esmagadoramente a favor de punir quem faz coisas erradas 

 Uma boa parte (43%), contudo, não acredita que haverá condenação, expressando algo que pode ser visto de duas maneiras: desconfiança na eficácia da Justiça e/ou antídoto prévio a frustrações devidas a um farto histórico de impunidade.
A adesão popular à tese defendida pela Procuradoria-Geral da República não quer dizer que o resultado do julgamento no Supremo Tribunal Federal vá ou deva necessariamente atender a essa demanda.
As coisas não são bem assim dona Dora. Existe pelo menos mais uma hipótese para esse “farto histórico de impunidade”. A tal tese que a senhora menciona, segundo as regras do jogo, deve ser submetida à apreciação técnica dos magistrados. Não deve nem de longe ser considerada verdadeira por antecipação, da forma como a senhora e seus colegas de penas amestradas estão fazendo. Pois ao final havendo comprovação de erros na acusação, a sua sanha acusatória se transformara em mais um tijolo na construção dos castelos de desilusões juridicas da população.

Tampouco é possível inferir que os resultados daquelas eleições vencidas pelo PT (reeleição de Lula e vitória de Dilma Rousseff) no pós-mensalão teriam sido diferentes se o enredo tivesse sido contado com a cadência e exposição de agora, porque a mesma pesquisa registra que 50% não se deixarão influenciar pelo resultado do julgamento na hora do próximo voto, em outubro.
Algumas conclusões, porém, são admissíveis. A primeira delas: o PT está longe da realidade quando diz que a população só quer saber de novela e de Olimpíadas. A segunda: a versão de que o mensalão é fruto de uma fantasia oposicionista simplesmente não pegou.
“Cadencia e exposição” dona Dora!? Mais uma vez a população em geral agradece seu pouco caso com a inteligência dos indivíduos que compõe o eleitorado. A senhora confessa sua crença de que basta insistir em uma idéia de maneira sistemática, e pronto! Todo mundo passa a torcer por ela. E eu não li em lugar nenhum que de maneira formal o PT disse que a população gosta mesmo é de novelas e Olimpíadas. Declaração formal disso quem está fazendo é a senhora ao tentar chamar a população de incoerente. 

Um último aspecto, relacionado à desconexão entre o voto e o resultado do julgamento pode, em princípio, soar estranho em face da expectativa de condenação.
Mas, se lembrarmos que o PT ganhou duas eleições presidenciais com mensalão e tudo – uma delas ainda sob o eco da CPI – vamos acabar concluindo que a população exige rigor da Justiça, mas não é tão rigorosa assim na hora de votar.
Um dado para se pensar antes de reclamar dos políticos e dos juízes.
A expectativa – e uma torcida fervorosa – de condenação é sua querida Dorinha e da parte da população que julga você como pessoa de indiscutível saber jurídico. Tem outra parcela da população que consegue perceber com clareza as manobras políticas perpetradas em torno desse julgamento. Uma parcela da população e que também vota consegue ver que se dependesse de você nem precisaria haver julgamento e que os uizes do STF são apenas figuras decorativas. Basta ler o que você tem coragem de escrever logo abaixo a respeito de um comentário sem provas, sem data, sem lugar, sem testemunhas sobre o comportamento do ministro Toffoli, publicado por seu colega de penas amestradas, Ricardo Noblat.

Desalinho
Na última sexta-feira, o ministro Antonio Dias Toffoli foi a uma festa em Brasília. Ia alta a madrugada quando explodiu em pesados palavrões referindo-se ao jornalista Ricardo Noblat que acabara de sair, mas voltou a tempo de ouvir e relatar a história em seu blog momentos depois.
Talvez pela interpretação de que se tratava de um caso atinente à vida particular de Dias Toffoli, os jornais não deram repercussão ao episódio e provavelmente por esse motivo o ministro não reagiu nem desmentiu.
A gravidade aí não está no fato de os impropérios terem sido dirigidos a um jornalista, mas por terem sido proferidos em público por um julgador de instância suprema cujo papel institucional requer equilíbrio, distinção, maturidade e, sobretudo, noção de limite.
Sabe prezada dona Dorinha? Talvez não tenha havido muita divulgação desse caso por que muitos ainda têm bem vivo na memória a lambança do senhor Gilmar Mendes, que fez escola em cima do senhor Noblat, ao contar uma história sem muito pé nem cabeça, sobre um encontro que teria havido com Lula e que todo mundo concluiu ser uma tentativa de tirar os holofotes da CPI do Cachoeira e vira-los para o julgamento da AP 470.
E ai está a senhora fazendo julgamentos acreditando em uma história sem conhecer o contraditório. Ai está senhora carimbando péssimos adjetivos em um magistrado que faz parte do corpo de juízes que julgará o caso que a senhora já decidiu sobre o veredicto.
Causa estranheza a senhora sugerir - mesmo relevando – que não se deve dirigir impropérios a um jornalista. A senhora pode explicar por que dona Dorinha? Não seria melhor a senhora se livrar desse espírito classista e escrever que é condenável qualquer pessoa dirigir ofensas. a qualquer cidadão. Talvez a senhora possa assim entender com um pouco mais de clareza isso que a senhora chama de incoerencia do eleitorado mas que é claro e cristalino, como são claras e cristalinas suas tentativas de enganar seus ocasionais leitores.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Nota do Jota #04

Ladrões também namoram. Devido a ocorrência de arrastões praticados por  ladrões em restaurantes de alguns points badalados da capital paulistana, veio a publico o sr governador Alckmin na véspera do dia 12 para anunciar números nada desprezíveis de soldados, viaturas, motocicletas, cavalaria e demais itens da parafernália da segurança pública que seriam colocados a disposição do publico na noite do dia dos namorados a fim de evitar novas ocorrências de assaltos. Na lógica do governador e de seus auxiliares os ladrões seriam atraídos pelo movimento anormal daquele dia a fim de obterem um faturamento extra e assim, com o reforço da segurança, o povo poderia namorar a vontade, pois estariam livres de ladrões. Primeira besteira: ladrões roubam em todos os 365 dias do ano assim como se namora também, concentrar um esforço de segurança em um dia só, permite a leitura contrária de que em outros dias a coisa é bem precária. Segunda besteira: ao fazer o tal anuncio sr Alckmin convidou os ladrões a ficarem em casa naquela noite com suas namoradas e voltarem no dia seguinte, quando estaria tudo liberado novamente. Na minha terra medidas assim chamam-se tapar o sol com a peneira.

Usurpando o direito à vida. Nossa constituição determina em seu artigo 196 que a saúde é um direito de todos e um dever do estado. Ter saúde implica em manter a vida e vice-versa. O que se vê, no entanto é que o Estado de maneira recorrente e já histórica tem alegado dificuldades financeiras para justificar a precariedade do serviço publico de saúde e, agindo assim, coloca em risco e de maneira generalizada a saúde e a vida de toda a população. Nestes últimos dias o sr Alckmin foi as raias do pouco caso com a vida e buscou a ajuda da Justiça para isentar o Estado de São Paulo da obrigação de fornecer remédios para portadores de doenças raras cujo tratamento exige medicamentos importados. A alegação fria e exclusivamente financista é de que o Estado “gasta” (aspas minhas, pois não entendo isso como gasto)  R$ 700 milhões por ano nessa rubrica (alguém precisa conferir isso, pois por dia dá R$ 1.917.808,21   o que eu acho um tanto demais) e que tal valor daria para construir um hospital por mês. 

Primeiro é bom falar da balela de construir um hospital por mês. Não construiriam por que é inviável e desnecessário. Além disso, um dos males dos governos brasileiros passa pelo péssimo gerenciamento de receitas. Dinheiro nós temos. O que ocorre é desperdício, erro de estabelecimento de prioridades, falta de planejamento, além de jogadas meramente marketeiras. Para não falar de suborno, corrupção e outras cositas mas.

Segundo é bom falar da sempre solicita imprensa paulistana que de uma hora para outra deu de exibir reportagens sobre esse assunto, sempre ressaltando o alto custo desse procedimento. E se a imprensa encampou uma ideia do Governo do Estado de São Paulo é bom ficar de olho, pois coisa boa para a população não é.

E por ultimo, porém o mais importante, por trás dessa atitude do governador está uma afronta à vida. Em outras palavras o que o sr governador diz é que a economia deve se sobrepor ao mais comezinho dos direitos civis que é ficar vivo. O governador declara que cada cidadão que se vire para tratar de sua doença. Quem mandou desenvolver um mal cujo tratamento é mais caro? O que demonstra pela enésima vez que o pensamento do sr Alckmin, um legitimo liberal tucano, é que nem o SUS deveria existir. Ou melhor, ele detesta o SUS.

O ovo ou a galinha? Nos últimos dias ficamos sabendo do triste episódio de uma esposa que decapitou seu marido e o esquartejou em seguida, motivada primeira por alguma insanidade insondável e depois por forte ciúme do cônjuge. A esposa, desconfiada da infidelidade do marido, contratou um detetive que o flagrou e o filmou encontrando-se com outra mulher. O inicio de tudo é simples: em algum momento a esposa julgou ter indícios - indícios que só ela conheceria - suficientes sobre a infidelidade do marido e partiu para confirmar sua desconfiança, contratou o detetive e soube da verdade.

E nestes mesmos dias fomos todos surpreendidos com a decisão do Desembargador Tourinho de tornar nulas todas as escutas telefônicas efetuadas pela PF na Operação Monte Carlo, alegando que não havia indícios suficientes para que fossem permitidas as tais escutas. O que salta aos olhos é o desafio que o desembargador faz ao juiz que autorizou as escutas. Parece haver muito mais subjetividade do que concretude na interpretação do que são indícios. Querer dizer que não havia indícios de crime diante das retumbantes revelações das ilegalidades trazidas pela policia, demonstra um modo de pensar muito especial sobre o caso que é bom nem comentar.

Fosse o sr Tourinho uma esposa traída ele esperaria antes que aparecessem manchas de batom pelo avesso da cueca do marido ou que a amante frequentasse sua própria cama,  para depois tomar providencias sobre a suposta infidelidade. Ao que parece nosso desembargador ainda se faz a velha e existencial pergunta sobre quem veio primeiro se o ovo ou galinha e, não podendo responder, confunde a ordem do surgimento de indícios e provas.

Indícios ou desconfianças são só isso mesmo: indícios e desconfianças. E no caso de crimes cabe a policia investigar para buscar as provas. Negar escutas telefônicas baseado em falta de indícios pode ser o primeiro passo para acabar com exames de DNA, coletas de digitais, detectores de mentira e tudo o mais que a policia usa para buscar provas que ajudem a condenar criminosos.  Até mesmo interrogatórios poderão ser nulos se forem feitos sem indícios de que o interrogado cometeu crime. 




domingo, 10 de junho de 2012

Nota do Jota #03

Mais Lulofobia. Desconfio que todos os computadores de propriedade das penas amestradas da grande mídia nacional tem uma tecla "odiar o Lula". Então, quando bate aquele vazio sobre o que dizer, o sujeito aperta essa tecla e pronto: qualquer coisa sobre o Lula vira noticia, e vira ódio. Um certo Lauro Jardim que tem uma certa coluna chamada Radar On Line, numa certa revista de nome Veja, deu a imperdível e essencial informação de que o nome de Lula está no primeiro lote de restituição do IR. Pronto. Bastou isso para que um exercito incontável de papagaios direitopatas, comentaristas daquele espaço, passassem a exercitar seus cinco minutos de ódio virulento e diário contra Lula. Vejam vocês que aproximadamente um milhão e oitocentos mil brasileiros receberão sua devolução do IR neste primeiro lote. Porém segundo o brilhante dono da coluna e seus papagaios sugerem, é que Lula é dono do Brasil e sendo assim o governo federal, para dar logo a grana do Lula,  disfarçou e botou mais 1.799.999 pessoas na lista, só pra ninguém notar. Coisa de gênios! Aguardemos a subida de Alvaro Dias na tribuna do senado, com a Veja embaixo do braço, indignado, pedindo que seja feita uma devassa na Receita Federal pelo inaudito privilégio concedido ao Lula.

Economia eleitoreira. Não tem jeito. O adjetivo "eleitoreiro" se incorporou de tal modo no vocabulário de críticos, analistas, viúvas do neoliberalismo e jornalistas em geral que qualquer passo que o governo federal dá, em especial no encaminhamento da economia do Brasil, viram apenas medidas eleitoreiras. Na falta de competência para discutir com profundidade ou apresentar alternativas para debate, colocam tudo de forma a sugerir que o governo federal trabalha somente de olho nas pesquisas de opinião, algo como faz exatamente a mídia que só trabalha de olho no ibope.

Pensemos: Lula foi eleito para seu primeiro mandato pelo motivo óbvio de que o eleitorado estava insatisfeito com o governo FHC. Depois Lula foi reeleito também pela obviedade oceânica de que o eleitorado estava satisfeito com seu governo. E em 2010 Lula elegeu sua sucessora, Dilma, pelo simples e inegável fato de que o eleitor continuava satisfeito com o Lula. De onde se pode deduzir que o plano de governo de Lula é um tantinho mais consistente que jogadas de efeito para conquistar eleitorado.

Muito bem continuemos pensando. Pelo que indica a fantástica aprovação da Dilma até agora e se não acontecer algo muito grave, ela será reeleita em 2014.  E não é loucura supor que ela fará seu sucessor em 2018. Dito isto temos que a linha mestra de governo inaugurada por Lula e seguida por Dilma poderá comandar o Brasil por pelo menos 20 anos. Diante desta hipótese é recomendável que os críticos, analistas, viúvas do neoliberalismo e jornalistas em geral parem de falar tanta idiotice e se debrucem com um pouco mais de seriedade sobre as grandes questões nacionais, critiquem sim, mas sem tornar tudo tão rasteiro e menor.

Não sorria: você está sendo filmado. Longe de querer debater as razões da rescisão do contrato entre o jogador Ronaldinho Gaucho e o Flamengo falo da minha surpresa ao ver exibido em cadeia nacional  vídeo interno de um hotel em que esteve hospedado o Flamengo e que mostra imagens de Ronaldinho indo e vindo do quarto de uma senhora durante a madrugada. Pelo que se sabe esse tipo de filmagem é regulamentado por lei que proíbe sua divulgação publicamente. Essa situação nos remete ao caso semelhante havido no Hotel Naoum em Brasília quando, durante hospedagem de José Dirceu naquele lugar, divulgaram-se imagens dos corredores internos exibindo pessoas que visitavam o petista. Em ambos os casos, e em tantos outros parecidos, existe uma infração da legislação. Numa ponta está quem cede as gravações e na outra está a imprensa. Sendo que esta ultima, autoproclamada vigilante da moral e da legalidade, não dá a mínima bola para o que diz a Lei e faz questão de levar ao conhecimento de milhões de pessoas fatos que dizem respeito  privacidade de cidadãos em pleno gozo de seus direitos civis. Fazendo de conta que desconhece as conseqüências, quem sabe graves, que isso pode trazer para a vida pessoal de cada um.

A internet funciona aos domingos? Creio que todos se lembram da piada da loira (olha o preconceito!) que, por não conseguir navegar na web, pergunta ao técnico se a internet funciona aos domingos. Pois não é que o eterno candidatado a qualquer coisa no Brasil, Dom José de La Sierra y Moóca, viajou para Nova York a fim de conhecer a interação on line entre a prefeitura de lá e moradores daquela cidade? Até Nova York? Serviços on line? Hã? Vai ver que a internet norte americana não funciona no Brasil...

A imprensa que humilha. No dia dez de maio passado o Brasil Urgente da Bahia exibiu e a Band reprisou nacionalmente uma certa senhora chamada Mirela Cunha e que se diz jornalista humilhando um cidadão negro e pobre que acabava de ser preso por conta de um suposto estupro. A ensandecida ria descaradamente da ignorância cultural do cidadão, desprezando totalmente o fato de que ali estava um ser humano. Fazendo piadas toscas ela se comunicava com outro desmiolado nos estúdios da TV, apresentador do programa policialesco, chamado Uziel Bueno. E tome todo tipo de palavras ofensivas, todo tipo de humilhação contra o rapaz preso.Quem quiser ver esse primor de "exemplo jornalístico" veja os vídeos aqui e aqui. Fiquei sabendo que um grupo de jornalistas enviou carta aberta ao governador, ao Ministério Público e à Defensoria Pública do Estado condenando os abusos de programas policialescos na Bahia.  O Ministério Público Federal decidiu investigar o caso. Até ai tudo bem. Ta certo. Concordo e assino embaixo.

Dado o perfil visivelmente autoritário de quem traz em sua genética heranças dos tempos da CasaGrande & Senzala eu diria que esses pseudos jornalistas são sérios candidatos a tornarem-se colegas ou concorrentes dos Mervais, Noblats, Augustos e Reinaldos que pululam pela imprensa nacional. 

Mirela Cunha e Uziel Bueno, agindo regionalmente, em nada diferem desses outros - digamos assim comentaristas políticos - que falam para o país todo especializados em esculhambar, achincalhar, xingar, ofender, mentir e desmoralizar o Lula e tudo que diga respeito a ele ou que venha do governo federal. 

Por isso aguardo confiante que os mesmo jornalistas que indignaram-se com os fatos do mês passado na Bahia ajam do mesmo jeito com o resto da chamada "imprensa nacional". Está dando nojo.








sexta-feira, 1 de junho de 2012

Nota do Jota #02

Itaquerão ou Arena do Corinthians? A imprensa esportiva paulistana está apoiando declaração do presidente corintiano, sr Mario Gobbi,  de que o novo estádio do Corinthians não deve ser chamado de Itaquerão e sim de Arena do Corinthians, sob a alegação de que o nome daquele local vai ser explorado comercialmente, haverá um contrato para isso. Difícil saber o que uma coisa tem a ver com outra, pois digamos que o São Paulo F.C. queira fazer a mesma coisa. Como se sabe o estádio do tricolor paulista chama-se oficialmente Cícero Pompeu de Toledo, mas é muito mais conhecido simplesmente como estádio do Morumbi. Será que haveria algum impedimento para essa transação comercial? Desconfio que a empresa que se propor a explorar uma marca deve ter competencia suficiente para superar difilcudades com essa e emplacar o nome que desejar.

Note-se ainda que os estádios da cidade de São Paulo são bem mais conhecidos pelo bairro onde estão situados que pelos nomes oficiais: Morumbi, Canindé, Pacaembu, Parque Antártica, Parque São Jorge. E agora os corintianos já consagraram e popularizaram o seu novo estádio como o Itaquerão, uma vez que está localizado no bairro de  Itaquera.

Itaquera, para quem não sabe, é um bairro da periferia de São Paulo e que, como todo bairro de periferia, é majoritariamente pobre, carente de muita coisa e um tanto distante da zona central da cidade. Transito complicado, transporte publico super-lotado, e serviços em geral meia boca.

Como vivemos em uma sociedade de castas não estará havendo aqui algum tipo de preconceito?  Deixa pra lá né?

A quem interessa pressionar o STF? Por estes dias estamos sendo afogados por uma enxurrada de declarações partindo, em sua maioria esmagadora - talvez seja em sua totalidade- do braço midiático da direitona paulista ( Veja, O Globo, Folha e Estadão) de que os acusados do mensalão, seus simpatizantes e partidários estão pressionando o STF para adiar o julgamento do dito mensalão. Isso já está assim tem uns dois meses e se acirrou nos últimos dias por conta das declarações espalhafatosas e contraditórias de Gilmar Mendes acusando Lula de tê-lo chantageado para adiar o julgamento do "maior crime da história do Brasil" , nome dado ao mensalão pelo mesmo braço midiático.

Isso carece de lógica. Vamos fatiar o assunto pra ver no que dá.

1) Para que os envolvidos no tal crime vão provocar os juízes? Uma provocação dessas resultaria em um julgamento sumário e condenação de todo mundo no melhor estilo "você-sabe-com-quem-está-falando?".

2) Consideremos o contrário: que os tais juízes cedam às pressões e inocentem um monte de gente, deixando a sociedade brasileira com a sensação que o STF é uma pizzaria no pior sentido. Quem quer isso? A direita? A imprensa? Sim. Pois a cartada seguinte seria uma "campanha de moralização das instituições nacionais" ou então um golpe mesmo, para falar o portugues mais claro.

3) Se pressionarem o STF os envolvidos no julgamento acabam por entregar o jogo para a oposição que, se a pressão puder ser comprovada, terá um enorme trunfo nas mãos durante as campanhas eleitorais municipais deste ano, trunfo este muito mais valioso até que as próprias condenações, caso ocorram, uma vez que essas possíveis condenações não atingem candidatos a nada.

4) Nada vai mudar no Brasil por conta desse julgamento. Não é possível que Lula tenha um projeto político tão pequeno, restrito apenas à um julgamento por conta de crimes nos quais 80% dos brasileiros não o inclue. Lula com toda certeza tem projetos bem maiores e mais ambiciosos, do que ficar bancando a candinha do momento.

E fico por aqui, pois se continuar eu vou acabar dizendo que a oposição é quem está pressionando o STF.

Lulofobia e lulomania Seguindo a mesma trilha de Gilmar Mendes, um assessor do governador Perillo disse sem meias palavras: "Lula vai se arrepender amargamente de ter colocado Marconi Perillo no olho do furacão". Este assessor atribui ao Lula poder de pautar e resolver assuntos internos da CPMI.

Vivemos tempos de contradições políticas nunca dantes observadas na história desse país. Se repararmos bem, jamais houve na nossa política uma figura tão execrada, xingada, amaldiçoada, odiada e ao mesmo tempo tão poderosa - segundo a oposição - como Lula.

Sofrendo de um  misto de fobia com mania, a oposição não consegue propor uma agenda de debates positivos para a nação, não consegue discutir qualquer coisa que não passe pelo blá-blá-blá de uma corrupção "jamais vista", do projeto do PT para dominar o mundo e da onipresença do Lula.

Ou seja, sem se dar conta a oposição contribui para que aconteça aquilo que devemos verdadeiramente temer: a existência de um projeto único para o país, a ausência de contraditórios, a inexistência de alternativas para qualquer proposta. Isso é péssimo.

A saia justa diplomática. Esperemos ser essa a última vez que falamos no Gilmar Mendes. Precisamos daqui para frente deixá-lo onde ele merece estar: na Caverna do Ostracismo, fundos. Pois muito bem. Devido suas declarações ainda carentes de confirmação sobre Lula tê-lo pressionado o meritíssimo disse, no meio de tudo, que “aqui não é Venezuela onde o Chávez manda prender juízes”. Isso custou uma nota do embaixador da Venezuela no Brasil, que nos envergonha a todos:

“Nota oficial da Embaixada da República Bolivariana da Venezuela no Brasil

As declarações do ministro do STF Gilmar Mendes ao jornal O Globo, se de fato ocorreram, constituem uma afronta à população venezuelana, e demonstram profunda ignorância sobre a realidade de nosso país.

Nossa Constituição, elaborada pela Assembléia Constituinte e referendada pelas urnas, determina a separação de poderes, estabelece direitos de cidadania e configura os instrumentos judiciais cabíveis, ou seja, o presidente da Venezuela não manda prender cidadão algum, independentemente do cargo que ocupe.

Recorrer à desinformação para envolver a Venezuela em debates que dizem respeito apenas aos brasileiros é uma atitude indecorosa – ainda mais partindo de um ministro da mais alta corte da nação irmã – e não reflete a parceria histórica entre Brasil e Venezuela.”

A gente podia dormir sem essa.


terça-feira, 29 de maio de 2012

Nota do Jota

Começando do mais distante, talvez até desatualizado, e vindo até o mais recente faço algumas notas sobre três ou quatro assuntos:

Alckmin e a greve do metrô. A mídia como era de se esperar fez um enorme esforço para fazer coro ao governador paulista que, de modo muito simplista para o cargo que ocupa, definiu a greve dos metroviários como sendo algo de natureza politico-eleitoral promovido por  um grupelho radical. O simplismo do governador é tamanho que não o impede sequer de chamar a mobilização de oito mil trabalhadores como coisa de um grupelho. Além disso Alckmin reitera sua pouca disposição de se manifestar publicamente,  em favor de reivindicações sociais e trabalhistas quando reduz os pleitos dos metroviários a coisas de uma campanha político-eleitoral.

Eis que no entanto e na tarde do mesmo dia, houve um acordo entre os trabalhadores e o Estado, cujo resultado é bem próximo da reivindicação inicial. De duas uma: ou Alckmin reconheceu apenas internamente a legitimidade dos pedidos, ou foi condescendente com os radicais e cedeu a eles. De qualquer jeito pega muito mal um governador simplificar as coisas com algumas palavras e depois se contradizer com os próprios gestos. Pois corre o risco de mostrar que quem é chegado em marketagem politico-eleitoral é ele mesmo.

Xuxa e pedofilia. Dias atrás soubemos diretamente de Xuxa através de uma entrevista dada ao Fantástico que ela foi vitima de abusos sexuais quando criança. Xuxa tem toda minha solidariedade no repudio a qualquer tipo de violência, seja sexual ou não. Mas como se trata de Xuxa, uma conhecia e sempre muito discutida celebridade, não é possível tratar de assuntos da vida dela pontualmente e, sendo assim, há que se perguntar a razão de esse assunto ser trazido à tona depois de tanto tempo que Xuxa se expõe à mídia. Por que justamente nas vésperas do julgamento  dos direitos sobre o filme " Amor estranho Amor" que, como se sabe, contém cenas de sedução ( que Xuxa quer varrer da face da terra ) entre Xuxa e um menor de idade.?

A Globo deve muito a Xuxa. Foi através da autoproclamada "rainha dos baixinhos" que a Globo conseguiu fidelizar uma geração inteira de crianças que, depois de adultos, fidelizaram suas próprias crianças, e depois foi a vez destas...... criando assim um circulo pernicioso de repetição das macaquices globais, de um consumismo desvairado e da erotização pré-matura. carreando para os cofres da outrora Venus Platinada incontáveis milhões de reais.

Sendo assim não surpreende  que a Globo empreste seu poder de divulgação de alguns fatos para que Xuxa, talvez quem sabe possa sensibilizar os juízes que vão julgar os seus pedidos sobre o tal filme.

Gilmar, Lula e o mensalão. Depois de dizer coisas que só quem duvida da inteligência e da perspicácia de alguém que governou o Brasil por oito anos diz, Gilmar Mendes foi até o Jornal Nacional ( onde mais ele iria??) para dizer que não disse o que ele disse na Veja.

Isso fica parecendo algo assim como o que fez o Bob Jefferson que, tempos depois das denuncias sobre o mensalão confessou que o mensalão não era bem um mensalão do jeito que ele tinha dito. Mas, sabe-se agora, que por trás de todo aquele rompante republicano haviam interesses bem menores que estavam sendo contrariados.

Arrisco dizer que no encontro havido no escritório de Jobim a conversa pode sim ter sido encaminhada no sentido de algum acordo, sabe-se lá sobre o que, e passados trinta dias, Gilmar Mendes não viu prosperar o que ele propunha  e daí resolveu dar uns tiros pra cima bem ao estilo de jagunços só pra intimidar e se fazer lembrar.

O Congresso da Industria da Comunicação que realiza-se em São Paulo traz entre muitos debates em pauta a discussão sobre a liberdade de expressão.  E dos defensores da liberdade de expressão eu não ouvi nenhum dizer que existe também a liberdade de se conhecer a verdade. As relações humanas não restringem-se apenas em falar mas também em ouvir. O Homem além de falando caminha desde sempre ouvindo também. E é ouvindo que o Homem faz suas coisas, decide seus caminhos, aprende a viver. E a Verdade é crucial para que o Homem aprenda e decida coisas que resultem em benefícios para si próprios e para seus semelhantes.

Portanto quando se defende a liberdade de expressão é bom que se diga que quem se compromete com a liberdade de expressar-se deve comprometer-se também com a Verdade. Pois tanto a expressão quanto a Verdade  devem andar juntas em favor do progresso humano. 

Expressão ou informação e a Verdade não são bens mercantis, ideológicos ou privados, não são concedidos. São isso sim um patrimônio natural de todos.

Assim seria bom que o sr Civita - um dos palestrantes do Congresso e que discursou como defensor da liberdade de expressão - avisasse o Sr Reinaldo Azevedo, o seu principal e mais fiel escudeiro - que antes de tudo se comprometesse em escrever a verdade e nada mais que a verdade e que permitisse aos eventuais visitantes de seu blogue terem seus comentários publicados, mesmo aqueles contrários ao que pensa o sr Azevedo. Coisa que o sr Azevedo de maneira publica e sem meias palavras já declarou que não publica.

Radio Estadão ESPN. Já faz um bocado de tempo que esta emissora tem na sua programação gravações de personalidades de todas as áreas e que falam sobre a corrupção. A chamada para essas declarações é algo mais ou menos assim: a corrupção te incomoda? E entra a tal personalidade dizendo todas as coisas obvias contra a corrupção. Isso está há tanto tempo no ar, e tem tantas obviedades que já está se tornando insípido, incolor e inodoro.

Estou aguardando aparecer alguém que seja a favor da corrupção, apenas pra variar.



domingo, 20 de maio de 2012

O Saúva está de férias

Teia 


O Saúva vai dar uma paradinha. Esse é um  momento de rever prioridades e concentrar esforços para superar dificuldades que, embora momentâneas, exigem dedicação total.