Nesta semana começam efetivamente os trabalhos da CPI que investigará
as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos, autoridades e
empresários. Um dos alvos, a Delta Construções, de Fernando Cavendish.
Suspeita-se, com base em informações da Operação Monte Carlo, realizada
pela Polícia Federal (PF), do envolvimento da empresa com Cachoeira.
No dia da instalação da CPI do Cachoeira, 19 de abril, o governador
Geraldo Alckmin (PSDB), ao ser questionado sobre os contratos da Delta
com o Estado de São Paulo, disse não estar preocupado com eles, segundo a
Folha de S. Paulo: “Nem sei se tem [contratos], se tem são ínfimos ”.
E verdade é outra. Levantamento feito pelo blog Transparência SP revela
que, de 2002 a 2011, a Delta fechou pelo menos 27 contratos (incluindo
participação em consórcios) com empresas e órgãos públicos do governo do
Estado de São Paulo.
Na lista de contratantes, Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa),
Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Departamento de Águas e
Energia Elétrica (DAEE), a Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo (Sabesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Somam
cerca de R$ 800 milhões em valores nominais. Em valores corrigidos
(considerando a inflação do período) chegam a R$ 943,2 milhões.



DERSA CONTRATOU DELTA PARA A NOVA MARGINAL DO TIETÊ POR R$ 415.078.940,59
O maior contrato da Delta com órgãos e empresas do governo do Estado
de São Paulo foi com a Dersa para executar a ampliação da marginal do
rio Tietê: R$ 415.078.940,59 (valores corrigidos)
Apesar de condenada por ambientalistas, geólogos e urbanistas, a Nova
Marginal do Tietê foi anunciada em 4 de junho de 2009, com bumbos e
fanfarras, pelo então governador José Serra (PSDB) e o prefeito Gilberto
Kassab (hoje PSD, na época DEM).

Na época, o portal do governo do Estado de São Paulo informou:
Investimento de R$ 1,3 bilhão prevê, além de novas pontes e viadutos,
plantio de cerca de 83 mil árvores e implantação de ciclovia.
“irá o tempo das viagens em cerca de 35%;
“tráfego para as rodovias Castelo Branco, Ayrton Senna, Dutra, Fernão
Dias, Anhanguera e Bandeirantes terá fluxo mais rápido”; junto com o
Rodoanel e o Complexo Anhanguera, a Nova Marginal pretende aliviar o
trânsito nas principais interligações de bairros de São Paulo e evitar o
trânsito de veículos de passagem por bairros e o centro da cidade”.
Serra ainda afirmou:
“É uma obra que é financiada com recursos
do Tesouro e com dinheiro público das concessionárias, que é dinheiro
do pedágio, segundo projeto e orientação do próprio Governo”.
”é uma obra que está tendo todo o
cuidado ecológico, o que não é tradição em São Paulo, pois as obras e a
devastação andavam de mãos dadas, mas isso acabou nos tempos atuais”.
A obra tinha dois lotes: 1 e 2. A concorrência do chamado lote 2 foi
vencido pelo consórcio Nova Tietê, liderado pela Delta (participação de
75% a 80%).
Extrato do contrato assinado em 13 de maio de 2009 e publicado no dia seguinte no Diário Oficial Empresarial revela o valor da obra: R$ 287.224.552,79.

PAULO PRETO E DELSON AMADOR ASSINAM O CONTRATO PELA DERSA COM A DELTA
O consórcio da Delta venceu a licitação para o lote 2 da Nova
Marginal do Tietê com uma diferença de R$ 2,4 milhões em relação ao
segundo colocado, o Consórcio Desenvolvimento Viário (EIT – Empresa
Industrial Técnica S/A — e Egesa Engenharia), que, por sinal, ganhou o
lote 1.
Curiosamente 1: 1 ano 4 meses depois, o consórcio da Delta conseguiu um “aditamentozinho” de R$ 71.622.948,47 no contrato.

Curiosamente 2: Na época da licitação, Paulo Vieira de Souza era diretor de Engenharia da Dersa, e seu presidente Delson José Amador, que acumulava a superintendência do DER.
Paulo Vieira de Souza é o Paulo Preto, ou Negão,
como é mais conhecido. Até abril de 2010 foi diretor da Dersa. Com uma
extensa folha de serviços prestados ao PSDB, foi apontado como
arrecadador do partido e acusado pelos próprios tucanos de sumir com R$ 4
milhões que seriam destinados à campanha do então presidencial José
Serra. O dinheiro teria sido levantado principalmente junto a
empreiteiras com as quais ele possuía relações estreitas.
O nome de Paulo Preto apareceu ainda na investigação feita pela
Polícia Federal que resultou na Operação Castelo de Areia. Na ação,
executivos da construtora Camargo Corrêa são acusados de comandar um
esquema de propinas em obras públicas.
Delson Amador também apareceu na Operação Castelo de
Areia. Assim como Paulo Preto, seu nome constava da apreendida pela
Polícia Federal na Camargo Corrêa.
Em 1997, durante a presidência de Andrea Matarazzo, Amador virou
diretor da Cesp. Aí, foi responsável pela fiscalização de obras tocadas
pela Camargo Corrêa, como a Usina de Porto Primavera, e a Ponte
Pauliceia, construída sobre o Rio Paraná para ligar os municípios de
Pauliceia, em São Paulo, e Brasilândia, em Mato Grosso do Sul. Amador
foi ainda chefe de gabinete de Matarazzo na subprefeitura da Sé.
HERALDO, O FORAGIDO, É QUEM ASSINOU PELA DELTA O CONTRATO DA NOVA MARGINAL
Curiosamente 3: Certidão emitida pela Junta Comercial de São Paulo mostra que o representante legal do Consórcio Nova Tietê é Heraldo Puccini Neto, diretor da Delta Construções para São Paulo e Sul do Brasil.
Escutas realizadas com autorização judicial revelam que é um dos
interlocutores mais próximos de Cachoeira. Documentos disponibilizados
na internet referentes ao processo contra Carlinhos Cahoeira no Supremo
Tribunal Federal (STF) mostram a proximidade de Heraldo com o bicheiro e
como a quadrilha preparava editais para ganhar licitações.




É possível que esse mesmo modus operandi tenha sido aplicado pela Delta em várias licitações como as feitas pelo governo do Estado de São Paulo.
Heraldo teve a prisão decretada pela Justiça Federal
na semana passada. Foi a partir de investigações realizadas no âmbito
da Operação Saint Michel, braço da Monte Carlo.
Um grupo de policiais civis de Brasília chegou às 6 horas da última
quarta-feira 25 ao apartamento dele, no Morumbi, em São Paulo. Heraldo
não estava nem foi localizado pela polícia. É considerado foragido da
Justiça.
Curiosamente 4: Num despacho de setembro de 2011 do
Tribunal de Contas de São Paulo (TCE-SP) referente ao contrato da Nova
Marginal, aparecem juntos Paulo Preto, Delson Amador e Heraldo Puccini
Neto. Os dois primeiros como contratantes. O último como contratado.

DEPUTADOS PEDEM AO MP QUE APURE INDÍCIOS DE IRREGULARIDADES
A essa altura algumas perguntas são inevitáveis:
1. Considerando que o senador Demóstenes Torres é sócio oculto da
Delta e apoiou José Serra em 2010, será que dinheiro da Nova Marginal do
Tietê irrigou a campanha do tucano à presidência?
2. Entre os R$ 4 milhões que teriam sido arrecadados por Paulo Preto e
não entregues ao PSDB, haveria alguma contribuição da Delta?
3. Paulo Preto ou Delson Amador teve algum contato direto com Cachoeira?
Na sexta-feira 27, parlamentares paulistas protocolaram representação
no Ministério Público Estadual de São Paulo (MPE-SP) para que
investigue indícios de irregularidades, ilegalidades e improbidades nos
contratos formalizados pela Dersa com empresas e consórcios, entre os
quais o Consórcio Nova Tietê, capitaneado pela Delta.
Encabeçada pelo deputado estadual João Paulo Rillo e assinada por
Adriano Diogo, ambos do PT-SP, a representação pede que o MP apure
possíveis atos de improbidade administrativa praticados por José Serra,
Paulo Preto e Delson Amador, diante de sinais de superfaturamento das
obras de ampliação da Marginal Tietê.
A propósito. Lembram-se que, em 2009, durante o lançamento da Nova
Tietê, José Serra disse: “é uma obra que está tendo todo o cuidado
ecológico, o que não é tradição em São Paulo, pois as obras e a
devastação andavam de mãos dadas, mas isso acabou nos tempos atuais”?
Na ocasião, a propaganda do governo estadual indicava que as pistas
seriam cercadas por frondosas árvores e arbustos. E a secretária de
Saneamento e Energia, Dilma Pena (atualmente preside a Sabesp),
ressaltou a importância de recuperar o espaço das margens do Tietê com
uma via parque, uma ciclovia e o plantio de 65 mil mudas.

Pois bem, dois anos após o término das obras, a marginal Tietê ainda
está à espera das 65 mil mudas que deveriam ter sido plantadas pelo
governo paulista como compensação ambiental, em 2010. Ainda árvores
morreram ou não se desenvolveram no solo árido das margens do rio. A
falta de árvores foi conStatada em perícia realizada pelo Sindicato dos
Arquitetos. A entidade move ação civil pública contra a Dersa, que, como
responsável pela obra, é obrigada a repor cerca de 30% dos espécimes.
Será que a Nova Marginal do Tietê, além de mãos dadas com a devastação, também se banhou na cachoeira preta?
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