A edição desta semana da revista Veja comete uma contradição
escandalosamente evidente para qualquer um que possua quociente de
inteligência ao menos mediano: apesar de manter intensos contatos com
uma imensa organização criminosa, a publicação, que se notabilizou por
realizar intrincadas investigações, alega que “não sabia” das atividades
dela.
Informações extraídas da investigação da Polícia Federal que prendeu
dezenas de integrantes da quadrilha do bicheiro goiano Carlinhos
Cachoeira mostram que expoentes da publicação da Editora Abril trocaram
centenas de telefonemas com o criminoso. Em sua última edição, a revista
admite esses e outros tipos de contato com ele e apresenta gravações da
PF em que membros da quadrilha reclamam do editor da revista Policarpo
Jr.
A revista não explica concretamente a razão de se relacionar tão
intensamente com criminoso que chefiava uma quadrilha que, segundo
inquérito judicial em curso, reunia “43 agentes públicos, distribuídos
entre 6 delegados da Polícia Civil, 30 policiais militares, 2 delegados
da Polícia Federal, 1 servidor administrativo da Polícia Federal, 1
policial rodoviários federal, 2 agentes da Polícia Civil e 2 servidores
públicos municipais”.
Ao reproduzir diálogo de membros da quadrilha que reclamam do editor
Policarpo Jr por não ter atendido uma solicitação que fizeram, a revista
permite inferir que aquela solicitação (para que atacasse alguém que
incomodava a organização criminosa) não foi atendida, mas que outras
podem ter sido.
Afinal, se um bandido pede uma matéria a um órgão de imprensa, certamente o faz achando que poderia ser atendido. Certo?
Mas o pior só chega agora: uma organização criminosa do tamanho dessa
que revelou a Operação Monte Carlo agia de maneira escandalosa em Goiás
e uma revista que se especializou em denunciar escândalos, apesar dos
intensos contatos com os criminosos, não notou nada?!
Supõe-se que a Veja e o resto da mídia tampouco notaram relações de
Demóstenes Torres com Cachoeira, relações que o próprio senador
anunciou, da Tribuna do Senado, que eram de amplo conhecimento público…
Sim, porque não se tem notícia de matéria alguma da Veja – ou do
resto da grande mídia – sobre as atividades de Cachoeira até que a
Polícia Federal desbaratasse a quadrilha.
A revista também faz uma afirmação no mínimo polêmica: afirma que
seus jornalistas mantinham contato com Cachoeira e seus asseclas tanto
quanto todos os jornalistas de outros grandes veículos. No entanto, até o
momento só se tem informações sobre um grande meio de comunicação que
se relacionava com os criminosos: a Veja.
Aliás, o blog já ouviu vários jornalistas de renome e nenhum deles
reconheceu ter mantido qualquer tipo de contato com Cachoeira e
companhia limitada, apesar de a revista Veja afirmar que “todos” os
jornalistas de “todos” os grandes veículos falavam ou se encontravam
fisicamente com ele o tempo todo, como os seus.
Se isso fosse verdade, a investigação da Polícia Federal deveria ter
detectado esses outros contatos entre os bandidos e jornalistas, mas,
até agora – repito –, só um grande meio de comunicação apareceu
conversando ou se encontrando com a quadrilha e com seu chefe.
Supõe-se que outros jornalistas de renome e outros grandes meios de
comunicação sairão a campo para confirmar ou negar a informação da Veja,
pois ela envolve a todos eles com uma organização criminosa. E se
todos tinham tais relações, resta explicarem por que jamais desconfiaram
de nada, pois jamais publicaram matéria alguma denunciando.
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