No momento em que o senador Demóstenes Torres pede aos seus pares - e
a Renan Calheiros - para não ser julgado politicamente, um dos
capítulos de sua parceria com a revista Veja: o caso Francisco Escórcio.
Revela bem os métodos utilizados, posteriormente, no caso do grampo sem
áudio.
Coube a Demóstenes, em combinação com a revista, deflagrar a
manipulação, ao dizer que tinha sido informado - por telefonema de
Pedrinho Abrão - sobre as intenções de Escórcio de filmar Torres e
Marconi Perillo no hangar.
Nas investigações posteriores, Abrão negou peremptoriamente e
informou que a razão do telefonema foi outra. De nada adiantou: mais um
falso escândalo havia sido gestado na usina de Demóstenes e Veja.
Capítulo 1: cria-se a história de que assessor de Renan teria ido a Goiania espionar Demóstenes.
No auge das denúncias contra o então presidente do Senado Renan
Calheiros, Veja(edição 2029, 10 de outubro de 2007) publica que
Francisco Escórcio, assessor de Renan, foi a Goiânia montar um esquema
de espionagem contra os senadores Demóstenes Torres (DEM) e Marconi
Perillo (PSDB).
A testemunha chave seria o empresário e
ex-deputado Pedrinho Abrão, a quem Escórcio teria pedido para filmar
embarques dos dois senadores no hangar da empresa de Abrão. O pedido
teria sido feito na presença de dois advogados, Heli Dourado e Wilson
Azevedo.
Só no último parágrafo da matéria se descobre que nem os advogados
nem o empresário confirmam a denúncia: " Pedro Abrão, por sua vez,
confirma que os senadores usam seu hangar, que conhece os personagens
citados, mas que não participou de nenhuma reunião", diz a revista.
A matéria "O jogo sujo de Renan Calheiros" (http://veja.abril.com.br/101007/p_060.shtml)
é assinada, no alto, pelo chefe da sucursal. Policarpo Junior, e no pé,
pelo repórter Alexandre Oltramari, que viria a ser assessor de Perilo
na eleição de 2010. O avalista principal é Demóstenes Torres.
Capítulo 2: Folha compra a história e repercute, apesar dos desmentidos das testemunhas
Naquele mesmo fim de semana, a Folha de S. Paulo compra a história da
revista e ouve um dos advogados citados: Heli Dourado conta que recebeu
Escórcio para tratar de processos políticos do Maranhão (foi ele quem
redigiu a representação, acolhida um ano depois pelo TSE, que levou à
cassação do governador Jackson Lago, adversário de José Sarney, que é o
padrinho político de Escórcio).
Dourado diz também que foi Pedrinho Abrão, e não Escórcio, quem falou
em filmar Perilo:"E aí o Pedrinho Abrão disse que o senador Marconi
Perillo sempre saía do hangar dele e que, se [Escórcio] quisesse, podiam
fotografar, filmar ele [Perillo] entrando e saindo", contou Dourado.
A matéria da Folha (http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u334551.shtml) não informa se a sugestão teria sido aceita, mas afirma no título: "Assessor de Renan tratou de espionagem, diz advogado"
Capítulo 3: repórter cede gravação para Demóstenes transmitir no som do Senado
O trecho da gravação da entrevista da Folha, cedido a Demóstenes pelo
repórter Leonardo Souza, é reproduzido no sistema de som do Senado,
numa das sessões mais vergonhosas da história da casa (aqui o relato da
Agência Senado: http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2007/10/09/demostenes-torre...)
Uma semana depois, o então corregedor da Câmara, Romeu Tuma, decide ir a
Goiânia para ouvir a testemunha-chave, PedrinhoAbrão:.
Capítulo 4: testemunha nega formalmente o episódio, mas desmentido não é publicado.
Ouvido formalmente, Abrão nega tudo. "Não tratamos de fotos e
filmagens" disse Abrão ao corregedor, "mas o senhor pode ver que tenho
18 câmeras aqui, todas elas instaladas como medida de segurança". " Ele
me disse também que não ligou para Demóstenes com o intuito de avisá-lo
do plano de espionagem, mas para falar de obras no aeroporto de Goiânia,
uma vez que Demóstenes é o relator da CPI do Apagão Aéreo" - disse
Tuma.O registro está apenas na Agência Senado (replicado aqui no site
Direito 2: http://direito2.com/asen/2007/out/17/tuma-vai-conferir-depoimento-de-ped...) Nem a Veja nem a Folha deram uma linha registrando a negativa de mais um escândalo em off)
A encenação de Demóstenes na sessão do Senado, tratando como
escândalo uma mentira, denota o mesmo modus operandi do caso do grampo
sem áudio. Na ponta midiática, impreterivelmente, a revista Veja.
Brasil
O jogo sujo de Renan Calheiros
O jogo sujo de Renan Calheiros
O senador manda espionar a vida
de adversários do PSDB e do DEM
de adversários do PSDB e do DEM
Policarpo Junior e Otávio Cabral
Fotos André Dusek/AE
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Sob risco de perder o mandato, Renan apela para bruxarias
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Para
salvar seu mandato, o senador Renan Calheiros já usou a tática de
constranger e ameaçar colegas do Parlamento com a divulgação de
informações supostamente comprometedoras. Fez isso com dois respeitáveis
senadores, Pedro Simon e Jefferson Peres, transformando-os em alvos de
boatos sórdidos. Repetiu a fórmula com os petistas Tião Viana e Ideli Salvatti,
aliados fiéis que pensaram em se rebelar contra a permanência dele no
cargo e acabaram acuados por denúncias de irregularidades. Às vésperas
de enfrentar três outros processos no Conselho de Ética, Renan Calheiros
é flagrado em outro movimento clandestino e espúrio: a espionagem de
senadores. VEJA apurou que Calheiros montou um grupo de arapongas e
advogados para bisbilhotar a vida de seus adversários. Na mira estão
dois dos principais oponentes do presidente do Congresso: o tucano
Marconi Perilloe o democrata Demostenes Torres. Ambos tiveram a vida privada devassada nos últimos três meses. A ousadia chegou ao ponto de, há duas semanas, os arapongasplanejarem
instalar câmeras de vídeo em um hangar de táxi aéreo no Aeroporto de
Goiânia para filmar os embarques e os desembarques dos parlamentares. O
objetivo era tentar flagrar os senadores em alguma atividade ilegal para
depois chantageá-los em troca de apoio. O plano só não foi em frente
porque o dono do hangar não concordou em participar da operação.
Fotos José Varella/CB e Paulo Rezende
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Francisco Escórcio: o assessor de Renan tentou instalar câmeras em hangar do aeroporto de Goiânia
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O grupo de espionagem é comandado pelo ex-senador Francisco Escórcio,
amigo, correligionário e assessor direto de Renan Calheiros. No dia 24
passado, o assessor se reuniu em Goiânia com os advogados Heli Dourado e Wilson Azevedo. Discutiram uma estratégia para criar uma situação que comprometesse os senadores Perillo e Demostenes. "Vamos ter de estourá-los", sentenciou Escórcio.
Um dos advogados disse que a melhor maneira de constranger os senadores
oposicionistas era colher imagens deles embarcando em jatos
particulares pertencentes a empresários da região. Um dos presentes lembrou que os vôoseram feitos a partir do hangar da empresa Voar, cujo proprietário é o ex-deputado Pedro Abrão, um ex-peemedebista.
Na mesma noite, Abrão foi convidado a ir a um escritório no centro de
Goiânia. Lá, na presença dos advogados, ouviu a proposta diretamente de
Francisco Escórcio: "Nós precisamos de sua ajuda para resolver um problema para Renan", disse Escórcio. Os dois já se conheciam do Congresso Nacional. "Queremos instalar câmeras de vídeo para gravar Perillo e Demostenesusando seus aviões." E completou: "Quero ver a cara deles depois disso, se eles (os senadores) vão
continuar nos incomodando". Abrão ouviu a proposta e ficou de estudar.
Depois, preocupado, narrou o estranho encontro a um amigo.
Vivi Zanatta/AE
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Marconi Perillo: virou alvo depois de defender o voto aberto
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Ex-governador de Goiás, Perillo está em seu primeiro mandato. Na reta final do processo que investigava o envolvimento de Calheiros com o lobista de empreiteira, foi Perillo que apresentou a tese vencedora de que o voto no Conselho de Ética deveria ser aberto. Já Demostenes Torres, ex-promotor público, é hoje um dos mais destacados parlamentares da oposição. Não é a primeira vez que ele, titulardo Conselho de Ética, é vítima de arapongas. Em junho passado, logo depois das primeiras denúncias contra Calheiros, Demostenes foi um dos primeiros a defender com veemência a instalação do processo por quebra de decoro. Os arapongas de Renan passaram a investigá-lo desde então. Sem cerimônia, estiveram na cidade de Rio Verde, no interior de Goiás, onde moram pessoas próximas a Demostenes. Lá, procuraram amigos e amigas que já fizeram parte da intimidade do senador. Uma dessas pessoas chegou a receber uma oferta para gravar um depoimento. Os arapongas se apresentavam como advogados, tinham sotaque carregado e, ao que parece, estavam muito interessados em fazer futrica. Não escondiam que o objetivo era intimidar o senador.
Na semana passada, Demostenes Torres e Marconi Perillo foram procurados por amigos em comum e avisados da trama dos arapongas de Renan. Os senadores se reuniram na segunda-feira no gabinete do presidente do Tribunal de Contas de Goiás, onde chegaram
a discutir a possibilidade de procurar a polícia para tentar flagrar os
arapongas em ação. "Essa história é muito grave e, se confirmada, vai
ser alvo de uma nova representação do meu partido contra o senador Renan
Calheiros", disse o tucano Marconi Perillo. "Se alguém quiser saber os meus itinerários, basta me perguntar. Tenho todos os comprovantes de vôos e os respectivos pagamentos." Demostenes Torres
disse que vai solicitar uma reunião extraordinária das lideranças do
DEM para decidir quais as providências que serão tomadas contra
Calheiros. "É intolerável sob qualquer critério que o presidente utilize
a estrutura funcional do Congresso para cometer crimes", afirma
Demóstenes.
Cristiano Mariz
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Demostenes Torres: o líder da oposição teve a vida bisbilhotada
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Francisco Escórcio foi
contratado em novembro do ano passado pelo senador Calheiros como
assessor técnico da Presidência. Antes, trabalhou com o ex-ministro José
Dirceu no cargo de assessor especial da Casa Civil. Despacha em uma
sala a poucos metros de Renan e ganha um salário de 9.301 reais. O que
ele faz? "Faço o que Renan me mandar fazer", disse a VEJA. Escórcio, o advogado Heli Dourado e seu sócio Wilson Azevedo foram ouvidos simultaneamente sobre o plano para bisbilhotar os senadores. Escórcio afirmou que esteve em Goiânia no dia 24 "para pegar umas fotos", que se reuniu com o advogado Heli Dourado
e "outras pessoas" num escritório e que, por acaso, o empresário Pedro
Abrão "apareceu por lá e eu até disse que ele estava bem magrinho". Heli Dourado confirma que esteve reunido com Escórcio "para
discutir um processo judicial de interesse da família Sarney" e garante
que "Pedro Abrão não participou da conversa". Wilson Azevedo, seu
sócio, diz que "esteve com Escórcio há
uns dez dias num encontro informal" e que não vê Pedro Abrão "há uns
seis anos". Pedro Abrão, por sua vez, confirma que os senadores usam seu
hangar, que conhece os personagens citados, mas que não participou de
nenhuma reunião. O empresário, que já pesou mais de 120 quilos, fez uma
cirurgia de redução de estômago e está bem magrinho, como disse Escórcio. Renan Calheiros não quis falar.
Da Agência Senado
Demóstenes Torres cobra a demissão de Francisco Escórcio
Da Redação
Em
pronunciamento nesta terça-feira (9), em Plenário, o senador Demóstenes
Torres (DEM-GO) cobrou a exoneração do assessor da presidência do
Senado, Francisco Escórcio, acusado pela revista Veja de
ter ido a Goiânia solicitar a ajuda de um empresário para espioná-lo e
ao senador Marconi Perillo (PSDB-GO). O plano incluiria a instalação de
câmaras em um dos hangares do aeroporto da capital goiana.
Em
resposta ao senador por Goiás, o presidente da Casa, senador Renan
Calheiros, disse que afastou o funcionário e que ordenou a abertura de
sindicância para apurar o caso. Demóstenes Torres, porém, rebateu
dizendo que tal informação não correspondia à verdade e que o presidente
do Senado poderia ir além. Em nota divulgada na segunda-feira, Renan
repudiou alegações de que teria usado um servidor da instituição para
"práticas inescrupulosas, imorais e ilegais".
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Todos aqui sabemos o quanto Francisco Escórcio é destrambelhado, para
não usar um termo mais desqualificado. Não é Francisco Escórcio que irá
me constranger. O Francisco Escórcio não é procurador-geral da
República. O Francisco Escórcio não é ministro do Supremo Tribunal
Federal. Ele não pode mandar investigar um senador. Ele não tem esse
direito. Ele não tem essa competência legal - disse Demóstenes.
Demóstenes disse que manteve contato telefônico com o empresário Pedro Abraão, que teria confirmado a ida de Escórcio a Goiânia.
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Chiquinho Escórcio teria dito a ele que estava lá numa missão de
'arapongagem' e que estava resolvendo também problemas relativos ao
Maranhão, mas queria me flagrar e flagrar o senador Marconi Perillo
voando de forma ilegal - contou.
Por
solicitação de Demóstenes, durante o seu discurso foi reproduzido o som
da gravação de uma conversa de aproximadamente cinco minutos mantida
entre o jornalista Leonardo Souza, da Folha de S. Paulo, e o advogado Heli Dourado, que também teria se reunido com Escórcio, em Goiânia.
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Vossa Excelência pode verificar, nessas declarações, primeiro, que a
reunião aconteceu. Segundo, que Francisco Escórcio mandou buscar
Pedrinho Abraão, convidou-o para ir lá. Terceiro, que eles falaram em
nome de Vossa Excelência, ainda que indevidamente - disse Demóstenes,
referindo-se a Renan Calheiros.
"Onde estamos?"
Depois
de ouvir a gravação, o senador Valter Pereira (PMDB-MS) perguntou a
Demóstenes Torres: "Onde estamos? No Senado Federal ou numa delegacia de
polícia?". Em resposta, o senador pelo DEM goiano afirmou: "Vossa
Excelência pode responder. Não sei qual a intenção da pergunta de Vossa
Excelência, mas o Conselho de Ética é justamente para apurar quebra de
decoro. É isso que Vossa Excelência quis dizer ou quis fazer uma defesa?
Se quiser, faça, Vossa Excelência tem direito". Valter Pereira concluiu
dizendo: "Estamos diante de um rosário de episódios que deprimem
extremamente a imagem do Congresso".
Já
o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) pediu que Renan se afastasse da
presidência da Casa, como forma de se defender das acusações que pesam
contra ele e para que o Senado volte à normalidade. Na avaliação de
Cristovam, Demóstenes, "querendo ou não" mostrou que está faltando
credibilidade a Renan para exercer a Presidência.
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Mesmo que o senhor esteja com a verdade, a credibilidade se esvaziou.
Neste momento, seria um gesto patriótico e inteligente - patriótico para
o país e inteligente do seu ponto de vista, da sua defesa - que o
senhor não estivesse na presidência do Senado - argumentou Cristovam.
Quando Demóstenes quis conceder mais um parte, Renan o interrompeu
dizendo que seu tempo estava esgotado. Demóstenes argumentou que Renan
havia falado antes, por 20 minutos, quando teria, igualmente, cinco
minutos para se pronunciar. O senador por Goiás exigiu tratamento
igualitário. Renan desconsiderou a reclamação e declarou encerrado o
tempo de Demóstenes, que agradeceu e deixou a tribuna.
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