sábado, 24 de março de 2012

Haddad não está pedindo muito a Lula?

Publicado no Brasil 247

Até mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já começa a desconfiar. Publicamente, como fez hoje, ao receber no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, o pré-candidato Fernando Haddad, Lula continua sendo seu único arrimo. Mas já emite discretos sinais, aos seus mais próximos, de que poderá ceder. Um desses toques foi a reflexão de Lula, feita a um amigo, de que ainda é cedo para avaliar em definitivo o potencial de Haddad, à medida em que, legalmente, os partidos tem até junho para oficializar suas candidaturas. O ex-ministro, já se lembra dentro do PT, ainda não é um candidato homologado. Lula teria admitido com a concessão de mais tempo ao pupilo, sem dizer, que, se Haddad não prosperar, será sim possível, às vésperas do prazo final, indicar outro candidato. De outra forma, o presidente apenas poderia ser enfático, à sua maneira, nesse período de convalescência, renovando seu aval sobre Haddad com algo como ‘até o fim’. A alternativa é a senadora Marta Suplicy.


Enquanto Lula agrega dúvidas, Haddad não consegue agregar praticamente nada nem ninguém à sua candidatura – ele continua tendo um único eleitor de peso, o próprio Lula. E praticamente mais ninguém. Desde dezembro, ele não criou um fato político de repercussão. Com a mesma aplicação, ainda andou para trás. O deputado federal Ricardo Berzoini recusou publicamente a coordenação política da campanha de Haddad. Nos bastidores, o ex-ministro Antonio Palocci e o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, recusaram a tarefa de olhar pela questão financeira. Entre os partidos, o PSB nunca esteve tão longe de apoiar o PT (leia aqui). O PCdoB já ocupa seus espaços na televisão para praticamente lançar Netinho e Lecy Brandão. No PDT, o jogo de espera está bem mais perto de ser definido a favor do apoio a José Serra.

Nesse cenário, Haddad mal tem conseguido se expressar. Suas entrevistas não têm resultado em mensagens sobre seu programa de governo. Quando conseguiu fazer isso, ao prometer acabar com a esdrúxula taxa de inspeção veicular, chegou a provocar uma reação contrário de Serra, adepto da cobrança ao público. Mas foi só. Sabe-se que o esboço de seu programa de governo – que está mais na cabeça do candidato do que, organizadamente, em algum outro lugar – inclui metas para acabar com o analfabetismo na cidade. Ele tem outras excelentes ideias para São Paulo, e pode-se apostar que daria um bom prefeito. Mas a certeza do momento, unânime, é de que Haddad é um mau candidato. Estruturalmente fraco.

Na internet, no endereço mais óbvio que se poderia imaginar para obter informações sobre ele e seu programa, o endereço www.fernandohaddad.com.br, é inexistente. Se teclar www.fernandohaddad.com, sem o br, fica engraçado. Vai dar num lindo site, de um cabelereireiro!

É insuficiente, para um candidato intelectualizado, nem ter onde mostrar seu programa de governo. Só o que ele tem, olhe-se por todos os lados, é o apoio de Lula, cuja influência já começa a ser desgastada em relação a esse episódio em particular. É mesmo preciso alguma pesquisa para se crer que o potencial de transferência de votos de Lula era um, no final de 2010, quando ainda se esperava um Haddad mais esperto, do que agora? Não parece demais Lula ter de carregar sozinho esse andar, ainda mais nas condições atuais, precisando de tranquilidade e descanso? O próprio Haddad, é certo, é o primeiro a pedir de mais de Lula. Isso é correto com o ex-presidente?

Abaixo, notícia de 247 sobre a visita de Fernando Haddad a Lula, internado no hospital Sírio-Libanês:

247 – O pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, visitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, na manhã desta sexta-feira 23. Segundo informações publicadas pelo Instituto Cidadania, a visita durou cerca de meia hora, mas não foi divulgado o conteúdo da conversa. Lula foi até o hospital realizar uma sessão de fonoterapia.
Ao portal G1, Haddad disse que Lula está otimista em relação a uma aliança com o PSB para apoiar sua candidatura em São Paulo. Lula "está confiante", disse Haddad. "Tem uma relação muito estreita com o Eduardo. Tem muito respeito pela liderança que ele é. A conversa é não só com o PSB, mas com os demais partidos", disse o ex-ministro ao site da Globo. Lula deve receber entre domingo e segunda-feira o presidente do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em seu apartamento, em São Bernardo do Campo.

Indicado de Lula para as eleições paulistanas, o ex-ministro da Educação se comparou à candidata Dilma Rousseff nesta quinta-feira, em entrevista à Rádio Capital. O que os une, segundo Haddad, é o “faro” do padrinho político que ambos compartilham: Lula. Foi ele quem pressionou o PT a lançar Haddad como pré-candidato, tirando do páreo nomes mais fortes como o da senador Marta Suplicy. “Ele elegeu alguém que no primeiro ano de governo superou a sua própria popularidade. E eu penso que é isso que ele deseja para São Paulo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário