domingo, 17 de abril de 2011

FHC, a classe média e a Páscoa

Desde que passamos a viver sob a ditadura dos números econômicos me parece que a vida humana, ou melhor, a natureza humana, passou a ser entendida por dados estatísticos, renda per capita, bens, riquezas e nada mais.

Determinados setores, em especial os governos, passaram a montar suas estratégias de aproximação do publico alvo, desconsiderando as individualidades e levando em conta apenas a posição econômica da população sem imaginar que a massa é composta de indivíduos pensantes, dotados de discernimento.

Essa semana que passou ouvimos FHC recomendar aos seus colegas de partido que desistam de tentar dialogar com os mais pobres e dediquem-se a tentar a aproximação com a chamada classe média.

Espanta-me imaginar que um homem como FHC, supostamente conhecedor do comportamento social e das mudanças que podem ocorrer na sociedade em razão das idéias dos indivíduos, queira agora dizer que um determinado setor da sociedade, agrupado apenas por sua renda financeira, possa ser mais facilmente seduzido por promessas propositadamente montadas em cima de valores econômicos.

Difícil pensar que FHC seja apenas um espertalhão, mas é o que parece. Não consigo imaginar que ele acredite mesmo que um ser humano possa mudar seus ideais, suas crenças, seu modo de enxergar a própria vida apenas por que não ganha 500,00 e sim 1.500,00 reais.

Ao deitar os olhos apenas em um grupo de pessoas ele despreza, em primeiro lugar, a inter-relação existente entre todos os indivíduos da sociedade, e mais ainda a interdependência. Em segundo lugar torna visível um aspecto preconceituoso de seu comportamento, dando a entender - repito - que seres humanos são diferentes ( quem sabe mais inteligentes ) na medida em que ganham mais. FHC quer nos convencer que as preocupações e necessidades de quem ganha mais são mais fáceis de serem entendidas e atendidas. É como se os de vida mais abastada não tivessem princípios cidadãos, solidários e nem valores éticos e morais, e muito menos passassem por crises e tragédias pessoais, e, portanto seriam menos exigentes nas suas aspirações cidadãs.

E o oposto também é verdade. FHC dá a entender que as classes menos favorecidas não são capazes de entender e distinguir entre as dificuldades naturais de um governo e a incompetência para gerir um país.

Em síntese, FHC acha que a Floresta Amazônica não tem nada a ver com as geleiras da Antártida. FHC enxerga o funcionamento do mundo apenas e graças àqueles que aceitam aquilo que ele diz e para quem ele acha que pode fazer alguma coisa.

Estamos às vésperas de celebrar a Páscoa. FHC sabe que o significado maior dessa festa é a passagem para uma nova vida, deixando para trás o que escraviza, o que é mal, o que oprime. Foi com esse espírito que, de acordo com as narrativas bíblicas, o povo judeu fugiu do Egito onde era escravo em busca da terra prometida, em busca da sua liberdade.

Não é o outro o simbolismo cristão. A morte e ressurreição de Cristo têm o mesmo significado: o renascimento, a vitória da vida sobre a morte, sobre a opressão da escravidão.

FHC ao dar conselhos para aqueles que pretendem ser os lideres desta nação deveria lembrar a eles que busquem libertar a todos os brasileiros - em especial os menos favorecidos - da escravidão das carências todas. E que criem condições para que todos os cidadãos de todas as classes possam fugir daquilo que os fere em sua auto-estima, e que lhes nega a sua realização plena.

Fiquem em paz, feliz Páscoa.

Jonas


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