quinta-feira, 21 de abril de 2011

Das minhas vilezas

Muitas vezes em conversas por aí, e a depender de meu interlocutor, senti-me péssimo parecendo que em mim residem as mais perversas limitações,  que carrego toda a fragilidade do mundo e pior que tudo isso, todas as vilezas.

E quando chegam festas assim como a Páscoa ou Natal tudo se torna especialmente incomodo pois, fazendo a auto critica que esses tempos sugerem,  a mim sempre me parece que ando muito errado.

E lendo N mensagens que parecem querer me mostrar como é fácil ser como eles, faço  promessas que de que agora em diante não vai ser mais assim e que vou me tornar o ser humano que todos são, e que não me amargurarei mais por parecer diferente.

Ilusão. Passa um tempo e me vejo igual ao que sempre fui e me pego pensando de novo na droga da natureza que carrego, essa natureza que me faz parecer piegas e muitas vezes ter vergonha de mim mesmo.


Mas hoje encontrei Fernando Pessoa ( Alvaro de Campos ) desabafando por mim e imediatamente me ocorreu vir aqui, tornar isso publico.

Por que tem dia que não dá pra segurar sozinho essa inquietante e inexplicável demora que Deus resolver levar para me fazer chegar a plenitude e me tornar perfeito.                                ( Obrigado Escrevinhador)

Fiquem em paz e feliz Páscoa.

Jonas

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza”.

6 comentários:

  1. hehehe


    Diliçaaaa

    Poema em Linha Reta é como uma porrada em linha reta.
    Eita, Fernando Pessoa.

    Jonas, te ofereço mais, do mesmo

    Alberto Caeiro

    Novas Poesias Inéditas

    Não sei quantas almas tenho.
    Cada momento mudei.
    Continuamente me estranho.
    Nunca me vi nem acabei.
    De tanto ser, só tenho alma.
    Quem tem alma não tem calma.
    Quem vê é só o que vê,
    Quem sente não é quem é,
    Atento ao que sou e vejo,
    Torno-me eles e não eu.
    Cada meu sonho ou desejo
    É do que nasce e não meu.
    Sou minha própria paisagem;
    Assisto à minha passagem,
    Diverso, móbil e só,
    Não sei sentir-me onde estou.

    Por isso, alheio, vou lendo
    Como páginas, meu ser.
    O que sogue não prevendo,
    O que passou a esquecer.
    Noto à margem do que li
    O que julguei que senti.
    Releio e digo : "Fui eu ?"
    Deus sabe, porque o escreveu.


    Jornal de Poesia http://www.jornaldepoesia.jor.br/caeiro.html
    * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

    Este é o barato da vida >

    adoro Whitmann http://vimeo.com/6774881
    Contra digo-me

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  2. Serei Oh Pai, mais forte que o mundo
    Mais forte que o ódio, neste lugar

    Revelarei, por estas chagas
    O meu espírito, o meu amor

    Pelas almas abandonadas, pelos pobres e sofridos
    Pelos pequenos e excluídos e por aqueles que me negam

    Para que os homens por mim amados
    entendam todo este sofrer, que vem destas gotas

    O Sangue da cruz
    Por todas as almas será
    Derramado sobre a terra
    A saciar
    A Sede de almas
    De todas as almas salvar
    É o que sinto ao me entregar
    Neste lugar, neste momento
    E expirar

    Não deixarei Oh Pai, a dor consumir
    As minhas forças, o meu coração

    Tua vontade é, o meu mistério
    A minha Paixão, para amar

    As almas pecadoras, almas doces e frágeis
    Almas puras e justas, e daqueles que me perseguem

    Para que os homens por mim amados
    Entendam todo este sofrer, que vem destas gotas


    Uma música por nós conhecida, para um dia especial...

    Abraços, com muita saudade

    Filhoti (Porto ainda Alegre/RS)

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  3. Cara Carmem, mais uma vez obrigado pela gentileza das colaborações que voce deixa neste modesto espaço.

    Abraços

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  4. Querido Filhoti,

    Que surpresa boa. Que lembrança mais bonita. Voce nos fez - a mim e à Rita - muito bem.

    Muitos e sacudidos abraços.

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  5. esses poemas do fernando pessoa são de ler e chorar... obrigado por colocar uma das mais grandiosas páginas da língua portuguesa...
    o sobrinho, edu

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  6. Edu, obrigado por sua constante presença por aqui e seus comentários sempre estimulantes.

    De fato F Pessoa é daqueles poetas com quem a gente se identifica quase sempre.

    Abraços,

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