Comandada por Fábio Barbosa, maior editora de revistas do País avalia se deve afastar o redator-chefe de Veja, Policarpo Júnior, para evitar o constrangimento de se ver exposta numa CPI; decisão ainda não foi tomada e divide a redação
Acostumada a provocar CPIs, a revista
Veja está prestes a se tornar protagonista de uma Comissão Parlamentar
de Inquérito no Congresso Nacional. Tudo em função das estreitas
ligações entre o redator-chefe da revista, Policarpo Júnior, e o
contraventor Carlinhos Cachoeira. Os dois trocaram mais de 200
telefonemas no último ano. Em conversas interceptadas pela Polícia
Federal, Cachoeira se vangloriou de ter repassado diversos furos de
reportagem ao jornalista – muitos deles, fruto de grampos ilegais. Num
outro diálogo, o bicheiro deu ordens a um assessor para que buscasse
Policarpo no “aeroporto pequeno”, num indício de que talvez tenha
mandado um avião particular buscá-lo.
Essa relação estreita fará com que a CPI de Carlos Cachoeira se
transforme também na “CPI da Veja”, como definiu o jornalista Ricardo
Noblat, do Globo. Por isso mesmo, nesta sexta-feira, discutiu-se na
Abril se a melhor saída não seria o afastamento de Policarpo – ainda que
temporário – para tentar estancar o problema. Até agora, Veja se
mostrou acuada e não defendeu abertamente seu redator-chefe. Duas
semanas atrás, num box dentro de uma matéria sobre o caso Cachoeira,
Veja apenas publicou um diálogo entre o bicheiro e o araponga Jairo
Martins, onde os dois exaltam as qualidades do jornalista. Depois,
soube-se que, no diálogo completo, os dois também falavam de negócios na
área educacional que foram retratados numa capa posterior de Veja. Do
diretor de redação da revista, Eurípedes Alcântara, não se leu uma única
linha em defesa de Policarpo Júnior após o escândalo. Até agora, o
único que saiu em sua defesa, na Abril, foi o blogueiro Reinaldo
Azevedo.
Em situações anteriores, Veja adotou uma postura mais agressiva. Anos
atrás, quando alguns de seus jornalistas foram convocados a prestar
esclarecimentos pela Polícia Federal, a revista publicou editoriais,
reportagens e uma coluna de Diogo Mainardi repreendendo a atitude da PF.
A cautela de agora talvez decorra do desconhecimento sobre o teor total
dos grampos, que vêm sendo vazados seletivamente.
A exemplo dos governos
A estratégia de gestão de crise da Abril é semelhante à que se adota
em governos. No Distrito Federal, o chefe de gabinete de Agnelo Queiroz,
Claudio Monteiro, pediu afastamento quando seu nome foi citado em
conversas com Carlos Cachoeira. No governo de Goiás, o procurador-geral
do Estado, Ronald Bicca, acaba de se afastar, numa estratégia de
contenção de danos.
Ocorre que Policarpo tem décadas de Veja e é querido na redação. É
simpático, afável e tem um histórico de serviços prestados à revista.
Por isso mesmo, a decisão ainda não foi tomada. Neste fim de semana, às
vésperas da CPI que investigará seus métodos, Veja dificilmente
conseguirá preservar o silêncio. A resposta virá na manhã deste sábado.
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