Trabalhadores do Consórcio Construtor Belo Monte declararam greve,
nesta quinta (29), após uma morte ter ocorrido, ontem, em um dos
canteiros da maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
do governo federal. A saída dos ônibus que levariam os trabalhadores do
perímetro urbano de Altamira para Vitória do Xingu, no Pará, teriam sido
bloqueadas.
Um acidente matou o operador de motosserra Orlando Rodrigues Lopes –
o velório está ocorrendo nesta quinta, em Altamira, cidade natal e de
residência do trabalhador. A morte não teria sido o motivo da greve e
sim uma série de reclamações sobre remuneração e condições de trabalho,
mas funcionou como um estopim, contribuindo para a insatisfação. As
reivindicações incluem aumento salarial, redução dos intervalos entre as
visitas dos trabalhadores a suas famílias de seis para três meses, a
manutenção do pagamento de adicional de tempo gasto com transporte até a
obra (horas in itinere) e a melhoria dos ônibus usados no transporte, que estariam em más condições.
Também reclamam que o acordo coletivo anterior não estaria sendo
cumprido. “Nós não temos segurança nenhuma lá. Falta EPI [equipamento de
proteção individual], sinalização e principalmente gente pra
fiscalizar”, afirmou um trabalhador ouvido por Ruy Sposati, repórter do
Movimento Xingu Vivo.
O Consórcio responsável pela obra disse, através de sua assessoria de
imprensa, que o trabalhador era contratado de uma empresa terceirizada
(Dandolini e Peper) e atuava no processo de terraplanagem e “supressão
vegetal”. O Consórcio nega que a morte tenha qualquer relação com a
paralisação.
Já em nota distribuída à imprensa, o Consórcio Construtor Belo Monte
afirmou que “teve suspensa a produção em dois de seus canteiros de obras
– Sítio Belo Monte e Sítio Pimental. Outras três frentes de obras – as
unidades Canais e Diques; Portos e Acessos; e Infraestrutura – seguem
com suas rotinas normais de trabalho”. Também disse que “aguarda
o envio da pauta de reivindicações dos trabalhadores, por meio do
sindicato da categoria, para que as mesmas possam ser analisadas”.
Quando o canteiro de obras da usina hidrelétrica de Jirau, em
Rondônia, foi destruído por protestos de trabalhadores, o governo
federal começou a gestar um pacto com empresas e sindicatos para evitar
novos conflitos. Na época, o ministro-chefe da Secretaria Geral da
Presidência da República, Gilberto Carvalho afirmou que a idéia era
“prevenir para que não haja, em relação as obras da Copa, eventuais
atrasos”.
Apresentado pela presidente Dilma Rousseff, neste mês de março, como
um “novo paradigma” nas relações entre trabalhadores, empresários e
governo o Compromisso Nacional para o Aperfeiçoamento das Condições de
Trabalho na Indústria da Construção não provocou até agora mudanças
significativas no setor. Problemas graves persistem, mesmo nas grandes
obras, para as quais o texto foi prioritariamente pensado.
A situação é especialmente delicada nos canteiros das hidrelétricas
de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia, duas das
principais obras do país,nos quais cerca de 43 mil operários fazem greve
– 18 mil em Jirau e 25 mil em Santo Antônio, de acordo com a Federação
Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada
(Fenatracop). Em ambos, a mobilização tem como principal reivindicação
aumento salarial e de benefícios.
Apesar de ter sido anunciado como um acordo que mudaria as relações
trabalhistas na construção civil em todo o Brasil, o compromisso foi
assumido apenas por nove empresas, que puderam optar por segui-lo por
obra e não como um nova política permanente. Hoje, o acordo abrange dez
obras. Isso em um contexto em que paralisações acontecem de Norte a Sul.
Segundo a Fenatracop, 138,5 mil trabalhadores do setor entraram em
greve recentemente. Muitos permanecem. A maioria das mobilizações, 75%,
afetou as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde, de acordo com a
federação, “salários e condições de trabalho são piores e a
informalidade é a regra”.
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