sexta-feira, 30 de março de 2012

Operário morre em Belo Monte e trabalhadores entram em greve

Via Blog do Sakamoto

Trabalhadores do Consórcio Construtor Belo Monte declararam greve, nesta quinta (29), após uma morte ter ocorrido, ontem, em um dos canteiros da maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. A saída dos ônibus que levariam os trabalhadores do perímetro urbano de Altamira para Vitória do Xingu, no Pará, teriam sido bloqueadas.


Um acidente  matou o operador de motosserra Orlando Rodrigues Lopes – o velório está ocorrendo nesta quinta, em Altamira, cidade natal e de residência do trabalhador. A morte não teria sido o motivo da greve e sim uma série de reclamações sobre remuneração e condições de trabalho, mas  funcionou como um estopim, contribuindo para a insatisfação. As reivindicações incluem aumento salarial, redução dos intervalos entre as visitas dos trabalhadores a suas famílias de seis para três meses, a manutenção do pagamento de adicional de tempo gasto com transporte até a obra (horas in itinere) e a melhoria dos ônibus usados no transporte, que estariam em más condições.

Também reclamam que o acordo coletivo anterior não estaria sendo cumprido. “Nós não temos segurança nenhuma lá. Falta EPI [equipamento de proteção individual], sinalização e principalmente gente pra fiscalizar”, afirmou um trabalhador ouvido por Ruy Sposati, repórter do Movimento Xingu Vivo.
O Consórcio responsável pela obra disse, através de sua assessoria de imprensa, que o trabalhador era contratado de uma empresa terceirizada (Dandolini e Peper) e atuava no processo de terraplanagem e “supressão vegetal”. O Consórcio nega que a morte tenha qualquer relação com a paralisação.

Já em nota distribuída à imprensa, o Consórcio Construtor Belo Monte afirmou que “teve suspensa a produção em dois de seus canteiros de obras – Sítio Belo Monte e Sítio Pimental. Outras três frentes de obras – as unidades Canais e Diques; Portos e Acessos; e Infraestrutura – seguem com suas rotinas normais de trabalho”. Também disse que aguarda o envio da pauta de reivindicações dos trabalhadores, por meio do sindicato da categoria, para que as mesmas possam ser analisadas”.

Quando o canteiro de obras da usina hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, foi destruído por protestos de trabalhadores, o governo federal começou a gestar um pacto com empresas e sindicatos para evitar novos conflitos. Na época, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho afirmou que a idéia era “prevenir para que não haja, em relação as obras da Copa, eventuais atrasos”.

Apresentado pela presidente Dilma Rousseff, neste mês de março, como um “novo paradigma” nas relações entre trabalhadores, empresários e governo o Compromisso Nacional para o Aperfeiçoamento das Condições de Trabalho na Indústria da Construção não provocou até agora mudanças significativas no setor. Problemas graves persistem, mesmo nas grandes obras, para as quais o texto foi prioritariamente pensado.

A situação é especialmente delicada nos canteiros das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia, duas das principais obras do país,nos quais cerca de 43 mil operários fazem greve – 18 mil em Jirau e 25 mil em Santo Antônio, de acordo com a Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada (Fenatracop). Em ambos, a mobilização tem como principal reivindicação aumento salarial e de benefícios.

Apesar de ter sido anunciado como um acordo que mudaria as relações trabalhistas na construção civil em todo o Brasil, o compromisso foi assumido apenas por nove empresas, que puderam optar por segui-lo por obra e não como um nova política permanente. Hoje, o acordo abrange dez obras. Isso em um contexto em que paralisações acontecem de Norte a Sul. Segundo a Fenatracop, 138,5 mil trabalhadores do setor entraram em greve recentemente. Muitos permanecem. A maioria das mobilizações, 75%, afetou as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde, de acordo com a federação, “salários e condições de trabalho são piores e a informalidade é a regra”.

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