sexta-feira, 23 de março de 2012

Morre Chico Anysio, a personificação do humor brasileiro

  Por Guilherme Bryan, especial para a Rede Brasil Atual

Azambuja, Coalhada, Painho, Bento Carneiro, Professor Raimundo, Bozó, Nazareno e Alberto Roberto. Esses e muitos outros personagens ocupam posição de destaque no imaginário popular e têm em comum o mesmo criador – o cearense Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, mais conhecido como Chico Anysio. Ator, escritor, compositor, dramaturgo e radialista, ele encantou diferentes gerações com tipos e um humor que nunca descambava para a piada chula. Sempre havia algo de inteligente em seus textos, mesmo que, em muitos momentos, soasse conservador.

Nas dezenas de programas que comandou, ele procurava representar toda a sociedade brasileira. Não à toa, uma de suas mais brilhantes criações foi “Chico City”, exibida entre 1973 e 1980, pela TV Globo, e que representava os vários personagens de uma cidade em plena época do regime militar. Outra criação inesquecível foi Baiano, que formava uma dupla musical com os Novos Caetanos, ou melhor, o falecido ator e compositor Arnaud Rodrigues, que fazia uma sátira aos artistas baianos que alcançavam projeção nacional, no caso Caetano Veloso e os Novos Baianos. A dupla tinha tanta qualidade, inclusive musical, que emplacou sucessos como “Vô Batê Pá Tú”.



É verdade que houve uma época em que o humor que Chico Anysio e Jô Soares, entre outros, praticavam foi considerado ultrapassado. A  televisão exigia mudanças e, assim, surgiu a "TV Pirata" e, depois, o "Casseta & Planeta Urgente". Num período em que o Brasil havia acabado de se redemocratizar, a velha escola do humor brasileiro parecia ultrapassada. Isso não foi motivo para abater o humorista. Prova é que, em 1990, ele recuperou "A Escolinha do Professor Raimundo", revelando novos humoristas, como Lug de Paula, Pedro Bismarck e Tom Cavalcante, e abrindo espaço para a velha guarda do humor brasileiro voltar a brilhar, com nomes como Brandão Filho, Castrinho, Grande Otelo, Lúcio Mauro, Olney Cazarré, Orlando Drummond, Antônio Pedro, Rogério Cardoso, Walter D’Ávila e Zezé Macedo, entre outros. Estava provada a grandeza de um artista que gostava de exercer sua arte coletivamente e não tinha medo da concorrência. Muito pelo contrário. Gostava de incentivar e apostar nos artistas em que identificava muito talento.

Incansável, mesmo com graves problemas de saúde, Chico Anysio não queria deixar de atuar e o fez até quando aguentou, mesmo tendo retirado parte do intestino grosso, feito uma angioplastia e passado por vários problemas cardiorrespiratórios, entrando três vezes em coma. Ele morreu hoje (23), no Rio de Janeiro (RJ), após ficar internado por 112 dias. A razão da morte foi a falência múltipla dos órgãos, causada por um choque séptico resultante de uma infecção pulmonar.O país torceu por sua recuperação até o final.

“Chico Anysio, possivelmente, não passará para a história como um dos nossos grandes intelectuais. A posteridade, é claro, não faz jus aos humoristas. Dificilmente colocarão seu nome em uma enciclopédia – das antigas, opinativa – como um dos nossos maiores ficcionistas. No entretanto, ele criou a mais perfeita e completa galeria de tipos humanos brasileiros – autenticamente brasileiros, unicamente brasileiros, só existentes no Brasil – da ficção nacional. Se nos recordarmos bem de todos os seus tipos – que a ligeireza da televisão pode fazer com que nós, de memória curta – nos esqueçamos – veremos que ali não falta um só dos nossos average Brazilians”, garantiu o escritor e cartunista Ziraldo, em 2007, no livro “É Mentira, Chico?”, em que desenhou vários dos personagens do artista nascido em Maranguape (CE).

Tendo iniciado a carreira como ator e locutor de rádio, em 1947, na rádio Guanabara, do Rio de Janeiro (RJ), Chico Anysio é o símbolo de uma geração que criou a televisão brasileira, mas não se restringiu a ela, tendo atuado como ator de cinema e teatro; escrito livros de ficção e uma autobiografia; e dirigido shows. Por isso, toda vez que se pensar nos grandes nomes das artes e da comunicação brasileira o nome deste artista tão completo precisará, obrigatoriamente, estar em destaque.

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