terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Mas isso é aperfeiçoamento?

Sempre defendi uma tese de que o ser humano é o mesmo em sua essência desde que caminha sobre a terra, seja sobre a ótica criacionista ou darwiniana. E o que chamo de essência são os sentidos e as emoções . Acredito que este ser humano que conhecemos ( ou não ? ) hoje em dia é o mesmo ser humano que rabiscava paredes nas cavernas.

Coisas como sono, fome, alegria, dor, inteligência, amor, necessidade de viver em grupo, inveja, ódio, etc, etc.. vivem dentro do homem exatamente do mesmo jeito desde sempre.

O que nos diferencia de nossos irmãos habitantes das cavernas e todos os que existiram entre eles e nós são os avanços no conhecimento que é o que parece causar a equivocada impressão de que somos melhores.



Pois não é por que aprendi algo sobre os vegetais, bovinos e suínos que sinto fome diferente de um milhão de anos atrás.. Não é por que aprendi alguma coisa sobre astronomia que deixei de me encantar com a lua e de sentir-me pequeníssimo sob um céu cheio de estrelas. Não é por que hoje em dia a água chega até mim através de canos e torneiras que sacio minha sede melhor que o sujeito que tinha que sair de sua caverna e debruçar-se sobre o córrego para beber. Pode ser que haja mais conforto entre uma situação e outra, mas água continua sendo água e sede continua sendo sede como sempre foi.

E os rabiscos em paredes de cavernas que citei no inicio são na sua intenção e na sua essência os mesmos rabiscos que fazemos hoje em telas de computador ou seja, necessidade de comunicar-se.

Acredito que com o passar do tempo estabeleceu-se, ou se quis estabelecer, uma igualdade entre conhecimento e desenvolvimento com aperfeiçoamento humano.

Se nos acostumássemos a separar  o que é evolução cultural e tecnológica do que são os sentidos e as emoções humanas tenho certeza de que entenderíamos com muito mais clareza a natureza do homem, e o descobriríamos tão básico e tão primário como sempre foi.
 
E dado que hoje estou um tanto presunçoso, bem ao contrário do meu habitual reconhecimento de que nada sei, corro um certo risco e afirmo que essa sensação, ou essa quase convicção, de que somos melhores hoje do que fomos ontem e que se tudo continuar como está seremos ainda melhores amanhã, nasce das crenças, ideologias e acumulo de riquezas defendidas sempre por pequenos grupos.

Praticamente todos os dias somos convidados, e quase sempre aceitamos, a embarcar em uma nova maneira de viver seja lá o que for em uma nova maneira de olhar para nós mesmos. E assim vivemos nossos dias sempre achando que agora vai, mas ao final nos descobrimos de volta ao mesmo ponto de onde partimos, ou seja: ainda imperfeitos, ainda inseguros, ainda ignorantes a respeito de tudo e de todos.

E todo esse preâmbulo ( mas Jonas isso é só o preâmbulo?!) é para falar sobre algo que tem me feito conversar com meus botões e travesseiro como poucas vezes eu fiz na vida. Estou cada vez mais admirado com a crescente devoção - quase canina - aos cães.

Por favor donos de cachorros e defensores do ideário do politicamente correto não atirem pedras. Ainda. Mas a verdade é que estamos assistindo  acontecer com os cachorros a mesma coisas que umas tantas crenças e ideologias e interesses comerciais aconteceu conosco, seres humanos.

Como eu já disse, eu e meus botões, e não poucas vezes meu travesseiro junta-se a nós, temos tido longos, porém inconclusivos, debates sobre a crescente cultura da assunção dos cachorros como seres humanos.

Uma estranha, e para mim incompreensível, convicção de que os cachorros são os melhores amigos do homem tem levado multidões a tratá-los como se fossem bibelôs, objetos de decoração, ou como aquelas estatuetas brancas de gesso que a gente compra na loja para colorir ao nosso gosto.

Antes de tudo eu acredito que o melhor amigo do homem é o homem mesmo. Sob todos os sentidos o homem é capaz de praticar para outro homem uma imensa quantidade de bem inimagináveis para um cão.

Outro aspecto infundado é o da fidelidade. Embora reconheça-se que um cão ( e de resto todos os animais ) demonstram gratidão aos seus donos sendo-lhes fiéis acima de todas a coisas, sabemos também que o dono do cão é aquele que o alimenta, protege, aquece, etc.... vão me dando licença, mas a mim me parece que na lógica canina fidelização é muito mais uma troca de atenções do que um legitimo sentimento de amor e respeito.

Mesmo que a essa altura eu já esteja sentindo pedras vindas em minha direção, continuo ainda a confessar meu espanto com a insistente - ou quem sabe já obsessiva - tentativa de inclusão de cães no universo humano, fato esse comprovado pelos diálogos - perdão monólogos - praticados dia e noite pelos donos com seus cães. Para mim a diferença entre falar com cães e com paredes é que esse últimos reagem. Atenção eu disse que apenas reagem. Não contradizem, não ponderam, não aconselham, não consolam e nem ensinam e muito menos nos dizem: cara, você tá louco! Apenas reagem latindo ou sacudindo o rabo o que não é exatamente uma resposta da qual se possa saber o significado.

Aqui no Saúva há muito tempo atrás eu falei de uma grave subversão praticada pelos humanos contra a natureza dos cães: anulou-se nesses últimos a sua instintiva caça aos gatos. Quando vejo fotos de cãezinhos e gatinhos juntinhos, comparo-os àqueles pássaros assum-preto cujo olhos são furados para que cantem supostamente melhor. O canto desse bichos, outrora de alegria, passa a ser de dor e de solidão. E agora  o que se vê são cachorros que sufocam seus instintos e paparicam gatos apenas para deleite de seus donos.

Floresce por ai um mercado cada vez mais promissor cujo faturamento já deve chegar a casa dos milhões. Já se vê muito mais lojas de penduricalhos para cães do que de brinquedos para crianças. Alguma coisa está errada.

Quero apenas com essas considerações tentar demonstrar que uma boa dose de dominação ou submissão pode ser disfarçada com gestos caridosos e de amizade.

Tudo bem, existe algo para dizer em favor dos donos de cães. Eles dividem seu amor com outra criatura. Reservam uma boa dose de afeto e de atenção para outros seres. Mas afirmo sem nenhum medo de errar que a maioria esmagadora de donos de cães consomem com tranqüilidade as carnes de outros animais. São bilhões de bichos mortos todos os anos para consumo humano.

E antes que me joguem mais pedras falando sobre um certo "abate humanitário" recomendo a leitura desse artigo aqui.

Não. Eu não sou vegetariano. E também não crio um cachorro. O que não me faz nem mais e nem menos coerente que qualquer outra pessoa. Mas se eu saio por aí fazendo discursos para que não se coloque pássaros com olhos furados em gaiolas, ou que não se açoitem leões em circos, que não se abandone cães na rua, também não exigirei de um eventual cão de minha propriedade que não corra atrás de gatos ou que vista camisetas do meu time de futebol.

É bom esclarecer aqui que o que estou chamando de "dono de cachorro" são aquelas pessoas que por atitudes, palavras e gestos depositam nesses bichos mais confiança, dinheiro e tempo do que depositam em pessoas. E são bem mais do que possamos imaginar.

É bom olharmos com atenção para o monte de bobagens cometidas ao longo do tempo em razão da confusão entre conquistas de conhecimento  e com aperfeiçoamento da espécie para que não façamos a mesma coisa com cães.

E vejam aqui um vídeo da Band mostrando o que é subverter a natureza.

Fiquem em paz,

Jonas

Um comentário:

  1. jonas,concordo com vc quando diz que a humanidade pouco ou quase nada evoluiu. a alta tecnologia é só uma casca, que uma vez rompida,chega-se ao cerne: somos os mesmos homens das cavernas. agora, sobre os cachorros, salvo exageros, quem defende os animais está no fundo defendendo o direito à vida; sem subverter a natureza (também acho ridículas fotos que mostram cachorrinhos e gatinhos juntos).essa subversão à natureza me faz lembrar a história do escorpião e do sapo...

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