quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Natal, os moradores de rua e os bichos.

Lembro que quando eu era criança, lá em casa tínhamos cachorros. Tivemos dois. Não simultaneamente. O primeiro morreu de velhice e o segundo não me lembro como terminou a história dele conosco.

E lembro que nós os tratávamos tal e qual se tratam cachorros, pois essa era a natureza deles. Viviam em uma casinha no quintal, sem jamais entrar em casa, recebiam comida - as sobras de nossa mesa - água em latas próprias pra isso e periodicamente tomavam um banho. As vezes brincávamos com eles. E só.

E lembro também de alguns mendigos que andavam pelo bairro e que batiam nas portas das casas pedindo comida. E da nossa casa, assim como das outras casas da vizinhança, eles recebiam um prato de comida, bem arrumadinho, um copo d água e garfo e faca. E faziam suas refeições sentados nos portões das casas.

E depois a roda do mundo girou, eu cresci e fui trabalhar em Porto Seguro no sul da Bahia. Por força das minhas atividades por lá, acabei tendo um contato muito próximo tanto com a PM local quanto com o Ibama. E naqueles dias eu me surpreendi quando da minha primeira visita a estes locais. O posto da PM era uma casa velha, enfiada no meio de um jardim velho, com carros velhos na porta e internamente as instalações eram deploráveis não tendo sequer ambientes separados para os soldados masculinos e femininos trocarem suas roupas.

E na mesma quadra ficava o posto do Ibama. Ahhh que beleza. Ar condicionado, computadores, pintura moderna, quadros nas paredes, banheiros impecáveis e todos os demais equipamentos de conforto para os usuários do local. 

Naqueles dias pensei com meus botões. Caramba! Um local que abriga os profissionais que cuidam da segurança de seres humanos está em ruínas enquanto que o que cuida de passarinhos e cachoeiras é todo reluzente e moderno.

E a roda do mundo girou mais um pouco e, hoje em dia, ao mesmo tempo que se vê florescer a violência, a intolerância, a solidão e a tragédia entre seres humanos se vê também florescer  um mercado cada vez mais próspero de apetrechos para "pets" além de serviços de uma lista enorme de profissionais nas mais diversas áreas, inclusive psicologia, especializados em animais e que apresentam todo tipo de soluções e idéias para fazerem os bichinhos mais felizes e realizados.

Do lado de dentro das casas, animaizinhos fofos, perfumados e recém saídos do cabeleireiro e da manicure usufruem de confortos e serviços inimagináveis para muitos seres humanos. E do lado de fora dessas mesmas casas, separados por interfones, cercas eletrificadas e porteiros eletrônicos estão os que, impossibilitados de se comunicarem com o mundo - sem portas para bater e pedir ajuda - reviram sacos plásticos catando restos de comida que comem com o resto de suas dignidades.

Tantas soluções para pets e nenhuma para viciados em crack, crianças abandonadas e malucos em geral que habitam as ruas de nossa cidade. 

Alguma coisa está errada. Alguma coisa está fora de lugar.

Fiquem em paz.

Ah !! Eu  já ia me esquecendo: Feliz Natal - al -al - al....

Jonas

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