segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Nós a insultamos todos os dias na TV ( Lennon)

A Globo prestou um desserviço às suas telespectadoras - de novo - ontem durante as exibições do Carnaval.

Uma das letras de musica mais contundentes de John Lennon composta em 1972, sim(!) 1972, ficou atualizadissima nas palavras do comentarista do Fantástico. Só faltou ele gritar o verso mais polemico da canção de John: nós a fazemos pintar e dançar! Vejam o video do show de Lennon cantando Woman Is The Nigger Of The World aqui.

E abaixo eu copio um texto sobre o assunto, do jornalista Fernando de Barros e Silva publicado hoje na Folha de São Paulo.

"Com a palavra, o apresentador do "Fantástico": "A polêmica acabou em samba. Lembra da Geisy, aquela do vestidinho rosa que provocou um rebuliço numa universidade em São Paulo? Ela está de volta, modificada, revista e ampliada". Assim começava a reportagem do dominical da Globo sobre a lipoescultura a que se submeteu a estudante Geisy Arruda. Tratava-se de mostrar em primeira mão o "novo visual" que a musa acidental da Uniban iria exibir durante os festejos momescos.

"Samba, vestidinho rosa, rebuliço" -as expressões engraçadinhas do locutor dão o tom acafajestado do suflê destinado a entreter os lares no final do domingão.


Uma das coisas que mais chamam a atenção no caso Geisy é a conversão do trauma em oportunidade, da humilhação em dinheiro, da selvageria em diversão de massa. A passagem entre uma coisa e outra se deu de maneira instantânea, sem que houvesse tempo para a elaboração do luto ou preocupação em refletir sobre o que aconteceu.


Depois de dizer que cinco litros de gordura foram pelo ralo, que "a barriga virou bumbum" e que Geisy ganhou quase meio litro de silicone em cada peito, o repórter pergunta: "Será que uma lourona dessas passa despercebida nas ruas?"


Vemos então miss Uniban desfilar pelos bares, entre marmanjos ouriçados a emitir sons de aprovação e correr para clicar a "nova Geisy" com os celulares. A cena lembra a turba em fúria nos corredores da universidade.


Aquilo que a escola prometia como perspectiva remota (uma vida melhor com o canudo na mão), Geisy alcançou num estalo, não pelo que aprendeu, mas como vítima da estupidez e da atrocidade do ambiente de ensino que frequentava.


Talvez ainda exista a tentação de criticar o deslumbramento da garota com sua fama descartável. Mas por quê? Ela não é mais vulgar do que as apelações da mídia a seu respeito. Ela não é mais frívola do que o jornalismo de celebridades e seus espectadores."





Fiquem em paz.


Jonas

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