sábado, 20 de julho de 2013

Ainda sobre a vinda de médicos estrangeiros

Passadas a primeiras e acaloradas justificativas daqueles que são contrários ou a favor da vinda de médicos estrangeiros para o Brasil, resta torcermos para que os debates daqui para a frente sejam menos apaixonados e um tanto mais ponderados sobre do que realmente se está falando, ou seja, da saúde de milhões de brasileiros, naquilo que pode ser a diferença entre a vida e a morte, a saber, atendimento médico minimamente decente.

Faço um esforço para não tornar preponderante nessas minhas intromissões a sensação que tenho de que na verdade tudo tem um forte viés ideológico e um outro, nem tanto, interesse corporativista.

Primeiro é bom que se diga que o muito conhecido, para muitos famigerado, SUS foi criado pela Constituição de 1988 em seu artigo 196, sessão Da Saúde, sustentado por cinco princípios básicos: universalidade - a saúde é um direito de todos e portanto dever do Estado; integralidade - atendimento integral ou ainda desde a simples prevenção de doenças até os procedimentos médicos mais complexos; equidade - todos são iguais perante a lei e perante os benefícios do Estado e não precisa dizer mais nada; descentralização - o que quer dizer que a administração do sistema é de obrigação e responsabilidade das três esferas de poder executivo: União, Estados e Municípios; participação social - implica em que deve haver participação de toda a população na gestão do sistema.

Para mim qualquer debate que queira excluir um ou outro desses princípios nem merece atenção.

Isto posto, combinemos que condenar o SUS por si mesmo é uma baita bobagem dado que o modelo é baseado no que pode haver de melhor em segurança da saúde para todos os brasileiros inclusive para os críticos do Sistema.

Se temos carências no Sistema elas são devidas em boa parte ao conjunto daqueles responsáveis pela administração do mesmo, mas não devemos nos esquecer também da parcela de culpa que cabe aqueles que o operam no dia a dia do atendimento ao publico e aqui incluem-se, é claro, os médicos.

Anote-se que enquanto redijo estas intrometidas  linhas circula por ai uma noticia ainda não totalmente confirmada de que há uma tentativa de boicote ao programa Mais Médicos, boicote este perpetrado por órgãos representativos dos profissionais médicos. Tal boicote ou sabotagem consiste em fazer com que médicos inscrevam-se no programa e em seguida cancelem suas inscrições o que denota dois objetivos desonestos: o primeiro implanta descrédito ao programa por parte da população uma vez que os ex inscritos  alegam falta de benefícios previstos na  CLT nas contratações, e os segundo objetivo muito mais nefasto é atrasar os procedimentos do sistema com esse entra e sai de inscritos.

Feita esta anotação retorno ao assunto e declaro minha estranheza de que em todos os debates e argumentos que ouvi, de todas as partes envolvidas, não ouvi em nenhum deles argumentos do tipo salvar vidas, preservar a saúde de seres humanos, atender pessoas carentes, elevar a auto-estima de pessoas debilitadas, etc e etc.

O assunto gira sempre em torno de planilhas e de benefícios, de tecnologia, de  instalações modernas, de equivalência nas formação dos doutores estrangeiros com os brasileiros.

A respeito desse ultimo item vale a pena perguntar: mas será que os cidadãos naturais sejam lá de que pais forem, não tem um atendimento médico competente nos hospitais, ambulatórios e consultórios de seus países? Será que os médicos brasileiros são o creme de la creme na douta ciência de curar pessoas? Os males que atacam cubanos, franceses, sul-africanos, portugueses são menos complexos dos males de todos nós brasileiros? Por lá padecem apenas de resfriados, prisão de ventre ou diarreia e nós aqui padecemos de doenças que ainda sequer descobriu-se nem a causa e nem a cura? Ora, ora

Voltemos ao centro dos debates. Existe um repetitivo argumento de que nos distantes rincões brasileiros não existe infraestrutura nem de instalações e nem de tecnologia para auxiliar nossos profissionais de medicina em seus diagnosticos sendo esse um fator preponderante para afasta-los de laborar nessas terras. Primeiro há que se saber se querem, as organizações de médicos, que seja construido um Sírio Libanês em cada esquina brasileira. Se assim for percamos desde já todas as esperanças. Para além disso precisamos saber com certeza se são mesmo necessários e indispensáveis uma lista com incontáveis itens de exames laboratoriais, supostamente úteis para a investigação sobre o mal que atinge o paciente, e que vão desde exames de fezes, sangue e urina até raios X e eletros disso e daquilo, invasões nas intimidades das senhoras e dos senhores para tudo terminar na prescrição de uma aspirina ou de um tranquilizante. É virose ou stress dizem invariavelmente os médicos deitando um olhar sisudo à folha dos resultados dos exames. Tome aqui este remédio durante uma semana, se não melhorar volte daqui três meses. Obrigado doutor.

Sinto um cheiro de pressão de laboratórios de análises clinicas e de outros exames  habitualmente efetuados em nossas intimidades. São procedimentos caros como se sabe. Sabe-se lá quanto custa um reagente ao coco do senhor que sente dores no ventre. O que se dirá do custo daquela cultura das secreções das partes pudicas da gentil senhora que tem sentido uns incômodos ao urinar. Pois então. Nada disso se usa na chamada medicina preventiva. Bons hábitos de higiene, de alimentação e do cotidiano de todos nós servem para prevenir tantos males para os quais, tardiamente,  se convocam batalhões de técnicos laboratoriais para escarafuncharem nossas secreções em busca de deus sabe lá o que, e que esse que quase nunca é encontrado. Restando ao médico o prosaico e simplorio ato de receitar uma medicamento de combate ao mal anteriormente detectado pelos batalhões de técnicos e seus reagentes às nossas secreções.

Por ultimo mas não menos importante, e seguindo ainda a linha de raciocínio de que os debates tem passado ao largo de cuidar de vidas humanas, não me parece factível que as organizações representativas dos médicos queiram decidir por estes onde devem trabalhar ou não e por quanto. Pois havemos de concordar que os caminhos a serem trilhados na profissão escolhida, os projetos de vida de cada um sejam econômicos ou de aspirações mais nobres, são questão de foro intimo e que cabe a cada um , na intimidade com seus botões e ressalte-se que cada um conhece melhor que ninguém os seus próprios botões, perguntar e encaminhar sua vida do modo que lhe parece mais conveniente. O que vemos aqui, nas organizações representativas dos profissionais de medicina, é uma descarada intrusão, uma ofensa mesmo, às competências que cada um deve possuir para resolver sua vida por si mesmo. Ou então se os médicos  estão a entregar a outros a decisão de sonharem seus sonhos, urge que Deus nos livre de entregar a estes profissionais as questões que dizem respeito à nossa saúde e nossas vidas.

Repito, por ser importante, que o debate deve se dar em torno dos cinco princípios básicos citados lá em cima e sem os quais a saúde de nós todos brasileiros corre serio risco de definhar até a morte e, a depender de nossos recursos financeiros, cabendo aos mais ricos prolongarem suas vidas um tanto a mais, mesmo que lá adiante vão encontrar a morte que todos encontram e não há medico que disso os livre, e aos pobres em vê-las, as suas vidas, interrompidas muito precocemente.










Nenhum comentário:

Postar um comentário