"E a partir daí, cada letra de cada palavra do editorial, cada palavra de cada linha e cada linha de cada parágrafo escorrem a baba envenenada do preconceito. Na sanha implacável do insulto, insinua que a prática de colocar minhoca no anzol é um imperativo técnico-científico para o exercício do cargo de ministro da Pesca e Aquicultura.
Ora, como se o ministro da Defesa atirasse de canhão, o dos Esportes fosse atleta ou o Serra, quando na Saúde, soubesse aplicar injeção."
Todos se lembram quando o maior demagogo da história capitalizou as
dificuldades financeiras para envenenar o povo alemão com as quimeras da
vingança.
Aí seguiu o fechamento do parlamento, a mordaça na imprensa, a adesão do
grande capital e a submissão das forças armadas. Os judeus estavam na
primeira fila do ódio do Führer, depois viriam os ciganos, os negros...
Era a marcha da insanidade. Como é odioso o preconceito e a que ponto
pode chegar!
Li perplexo o ataque que a Folha fez no editorial "Pescaria fisiológica"
(4 de abril) ao Ministério da Pesca e Aquicultura e a mim, o ministro,
há apenas 28 dias no cargo.
Cabe primeiro, quanto a compra das lanchas, resgatar a verdade do
entulho de mentiras e injúrias. São boas e necessárias, e isso foi
escrito na ata de recebimento das lanchas por oficiais da Marinha.
Convenhamos, ninguém entende mais de barco que eles. Demoraram a entrar
em uso? Sim. Mas nem todas.
Em visita a Campo Grande, conversei com o coronel Matoso, do Batalhão
Florestal, que disse usar diariamente a lancha para reprimir a pesca
predatória no Rio Paraguai.
Do mesmo modo, os técnicos do BNDES consideram o potencial de produção
de pescado do Brasil, sobretudo na aquicultura, um segundo pré-sal.
Irrelevante, portanto, não é o ministério -é o editorial.
Fosse apenas essa a crítica, paciência, porque se entende a imprensa, mesmo com as suas demasias.
O que não se entende é que a Folha procure detratar a pessoa do ministro
por ser "bispo evangélico e cantor gospel", como se isso me
desqualificasse a priori.
E a partir daí, cada letra de cada palavra do editorial, cada palavra de
cada linha e cada linha de cada parágrafo escorrem a baba envenenada do
preconceito. Na sanha implacável do insulto, insinua que a prática de
colocar minhoca no anzol é um imperativo técnico-científico para o
exercício do cargo de ministro da Pesca e Aquicultura.
Ora, como se o ministro da Defesa atirasse de canhão, o dos Esportes
fosse atleta ou o Serra, quando na Saúde, soubesse aplicar injeção.
O problema, contudo, não é a minhoca. O problema é o "bispo evangélico".
Isso por si só já basta para, em uma trama cerebrina, a Folha maldar
que barcos e bispos se compram com o dito fisiologismo do PT.
Ora, devagar. Que o jornal tenha a sua concepção de governo e o perfil
de quem deve ou não participar do ministério, é natural e devemos
respeitar, ainda que os 77% de aprovação da presidenta, mesmo depois de
ter nomeado um ministro evangélico sem o consentimento e a aprovação
prévios da Folha, mostrem o contrário.
O que devemos repudiar é que, em plena Semana Santa, o jornal use de sua
verve para promover o preconceito contra os evangélicos e, por tabela,
contra a liberdade de culto e a livre expressão do pensamento.
Comportamentos do gênero, sabemos pela história, se extravasam sempre na intolerância, na truculência, na opressão e no ódio.
E já não é de hoje que a Folha assume o melancólico papel de vanguarda
de uma imprensa facciosa e inimiga jurada dos evangélicos. Como agora
nessa espécie de libelo do Santo Ofício da Inquisição.
Será esse o papel da Folha? Capitalizar a indignação popular por
supostos escândalos ainda investigados pelo TCU para envenenar seu
público numa cruzada contra evangélicos em uma luta fratricida sem
ideal, sem nobreza e grandeza?
Que lamentável eclipse jornalístico, tão distante das tradições democráticas que fizeram da Folha o maior jornal do país.
MARCELO CRIVELLA, 54, é ministro da Pesca e Aquicultura
Nenhum comentário:
Postar um comentário