A popularização do acesso à internet e o uso de sites de compartilhamento de informações, como Twitter e Facebook,
transformaram a rede mundial de computadores em uma importante
ferramenta de debates, luta por democracia e espaço livre de circulação
de informações. Características somadas ao poder de organização de
manifestações diversas, como os protestos contra supostas fraudes na
eleição presidencial iraniana de 2009, acompanhados pelo Ocidente por
meio de vídeos postados no Youtube, ou da Primavera Árabe, que
varreu regimes ditatoriais de Tunísia, Egito e Líbia no inicio de 2011,
com levantes populares acionados nas redes sociais.

Redes
sociais se firmam como ambiente de denúncias e debates livre de
interferências de governos ou setores da mídia. Foto:Istockphoto
Nestes casos, a internet funcionou como uma trincheira para circular a
informação e organizar movimentos democráticos. Na última semana, as
redes sociais brasileiras também deram um exemplo de força. Leitores de
CartaCapital em Goiás denunciaram o sequestro da edição 691 da revista, comprada misteriosamente em lotes por cliente nas bancas da cidade.
A “operação” ocorreu n o domingo 1º, logo após a abertura das lojas
por volta de 8h da manhã. Na capa, havia reportagem sobre a relação
comprometedora do bicheiro Carlinhos Cachoeira com o governo do tucano
Marconi Perillo (leia a reportagem completa clicando AQUI).
Devido ao elevado número de avisos dos internautas, a reportagem
percorreu, na terça-feira 3, cerca de 100 quilômetros em Goiânia para
averiguar a situação nas principais bancas da cidade. Não encontramos a
revista e confirmamos as informações dos leitores. (Leia mais aqui)
Em meio à tática denunciada pelos internautas, Pedro Celio Alves
Borges, doutor em Sociologia e professor da Universidade Federal de
Goiás, defende que a atitude é “completamente inócua”, devido à
circulação livre de informações pela internet.
“A comunicação dos textos e também das imagens não se dá mais principalmente pelos exemplares nas bancas. A web é um território livre com diferentes redes, listas e circuitos de comunicação informal. Isso tem muito mais efetividade.”

Costa
diz que a ação não tem o mesmo efeito da censura prévia na ditadura,
pois não se pode mais controlar o fluxo das informações. Foto: Gabriel
Bonis
Silvio Costa, cientista social, professor da PUC de Goiânia e
filósofo, vai além e defende que a ação não tem o mesmo efeito da
censura prévia na ditadura. “Hoje, dificilmente se impede uma informação
de circular e tentativas neste sentido não produzem resultados.”
Tudo isso, devido às redes sociais, que mobilizaram um público jovem
contra a atitude, antes diretamente fora deste círculo, diz o professor
da UFG. “O poder de irradiação de uma atitude fora de contexto como esta
cresce em tempos e internet.”
Caso exemplificado por Costa, ao relatar que um estudante
universitário, indignado com o sequestro das revistas, se juntou a um
grupo de colegas e tirou 230 fotocópias da reportagem sobre Goiás. “Eles
a distribuíram gratuitamente em praça pública para denunciar.”
“A internet é um instrumento recente importantíssimo e precisa ser
aperfeiçoado, pois contribui para uma visão mais crítica da população”,
completa e deixa a mensagem: “esses instrumentos não agem sozinhos, é
preciso indivíduos a fim de propagar as informações.”
Segundo Borges, o sequestro das revistas denunciado pelos leitores
indica que opinião pública moderna não convive com esse tipo de atitude
em plena democracia.
“O meio tecnológico da informação é cada vez mais predominante e
hegemônico, e as novas democracias se abastecem também nos ambientes
virtuais.”

Para Borges, a opinião pública moderna não aceita mais o cerceamento de informação. Foto: Gabriel Bonis
É por isso, aponta Costa, que há uma tentativa dos setores
conservadores em tentar estabelecer mecanismos de controle sobre a
internet.
O filósofo se refere ao projeto de Eduardo Azeredo (PSDB-MG). O projeto, tido como o AI-5 digital (leia mais aqui), prevê a punição para diversos crimes digitais.
Neste cenário, a internet, diz Borges, se transformou em um ambiente
adicional da manifestação e formação de opinião, com correntes diversas
de ideias.
“Isso implica em um tipo de militância virtual sem os riscos da militância tradicional dos movimentos sociais”, finaliza.
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