Quanto mais o Congresso Nacional e o Judiciário são desmoralizados
por seus próprios membros, mais sobe a estrela da presidente Dilma
Rousseff, que registrou esta semana novo recorde de popularidade, ao
bater nos 77% de aprovação na pesquisa CNI/Ibope, após 15 meses de
governo.
Em meio ao mar de denúncias sobre maracutaias variadas que atingem os
três poderes da República, incluindo o seu governo, Dilma navega
soberana, encarnando a figura do bem contra o mal que colou na opinião
pública _ mesmo, e principalmente, entre aqueles que não votaram nela.
Por mais negativo que seja o noticiário sobre o governo Dilma e seu
ministério de alta rotatividade, a presidente mantém intacta a sua
imagem de mulher brava e destemida enfrentando os políticos malvados e
safados que infestam o país.
Cada vez que estoura um escândalo como o do senador Demóstenes Torres
(sem partido-GO), até outro dia o mais feroz crítico da oposição
demotucana, a presidente Dilma Rousseff ganha ainda mais força para
tourear a sua rebelde base aliada com o apoio da maioria da população.
"Mesmo as notícias potencialmente negativas, como prisões e
demissões, são lidas como sinais de limpeza e não de sujeira", constata o
analista José Roberto Toledo, em sua coluna desta quinta-feira
publicada no Estadão, sob o sugestivo título "Dilma Teflon".
De fato, como já havia acontecido com o ex-presidente Lula, Dilma
consegue se descolar dos "malfeitos" denunciados no governo e aparecer
como a justiceira que vai "dar um jeito nisso", o porto seguro para as
nossas angústias, cada vez que terminamos de ler os jornais ou ver o
noticiário da TV.
Mas só o desprestígio dos políticos, na contra-mão do crescimento do
seu prestígio pessoal na última pesquisa, não justifica esta aparente
contradição entre a figura da presidente e a da paisagem política cada
vez mais poluída que a cerca.
Para explicar melhor o que está acontecendo, talvez seja o caso de
pegar a manchete aqui do nosso R7, que acabei de ler antes de escrever
este texto: "Inflação desacelera e é a menor desde março de 2009". Ou
seja, as pessoas estão podendo comprar mais gastando menos, que é o que
realmente interessa na vida real dos brasileiros: o bolso e o estômago.
Diante disso, o fato de o Ministério da Pesca ter torrado uma verba
milionária para comprar 28 lanches inúteis ( e o PT de Santa Catarina
ter recebido da empresa fornecedora uma "doação espontânea" para as suas
despesas eleitorais) ou um alto assessor do Ministério da Saúde
confessar que embolsou a módica propina de R$ 200 mil para saldar
dívidas de campanha, fica parecendo coisa menor. Não deveria.
Dilma poderia aproveitar esta maré favorável para enquadrar a sua
volumosa e insaciável base aliada, mas também para mobilizar a sociedade
na discussão de reformas que o país reclama, a começar pela reforma
política e eleitoral.
No artigo que escrevi com o título "É a política, Dilma!" para a
edição de abril da revista Brasileiros, que vai às bancas na próxima
semana, no qual faço um balanço dos primeiros 15 meses de governo,
procuro mostrar o esgotamento do chamado presidencialismo de coalizão
(ou de colisão), inaugurado no governo de José Sarney, matriz do
loteamento de verbas e cargos entre os partidos, e das sucessivas crises
políticas.
Com o cacife dos seus 77% de aprovação, a presidente Dilma tem a faca
e o queijo na mão para inaugurar um novo ciclo político, acabando com o
"é dando que se recebe" para montar um governo verdadeiramente
comprometido, não só com a estabilidade econômica e as conquistas
sociais, mas também com valores e princípios de nação civilizada. De
jeito que está, certamente, nem ela aguenta mais.
Caso contrário, o verdadeiro poder político continuará nas mãos dos
Carlinhos Cachoeira da vida e de outros "empresários", que transformam
políticos em despachantes dos seus interesses privados, tanto no
Legislativo como no Executivo.
A hora é agora, presidente Dilma.
Como está na capa do livro sobre a sua vida escrito pelo nosso amigo Ricardo Amaral, "A vida quer é coragem".
Em tempo:
depois de terminar de escrever o texto acima, aconteceu comigo uma
coisa que ilustra bem o que quero dizer ao falar da necessidade de
resgatarmos "valores e princípios de nação civilizada".
Sem muitas esperanças, fui à feira aqui perto de casa para tentar
recuperar um peixe que
Ao me ver, antes que eu falasse qualquer coisa, ele me reconheceu:
"Não foi o senhor que esqueceu o peixe aqui em cima do balcão?..." Mais
do que depressa, pegou outro linguado do mesmo valor, limpou e me
entregou.
Até fui cumprimentar o dono da banca de peixe pela honestidade. Para
quem estiver interessado em comprar um peixe honesto de gente honesta
(ainda tem muita!), anote aí: Barraca do Aldo, montada às quintas-feiras
na rua Barão de Capanema e, aos domingos, na Alameda Lorena, no Jardim
Paulista.
comprei duas semanas atrás. Explico: pedi e paguei o peixe, mas uma pessoa veio falar comigo, me distraí, e deixei o embrulho sobre o balcão. Será que o vendedor iria lembrar de mim depois de tanto tempo tempo e tantos fregueses?
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