quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

E como se sentem os soldados?

É indiscutível a responsabilidade direta das autoridades dos três níveis de Governo e mais as do Judiciário na desastrada operação de desocupação do terreno do Pinheirinho em S J dos Campos - SP. Muito já se falou sobre isso e chegou-se a conclusões óbvias de que faltaram em especial respeito e compaixão  pelo próximo,  para tornar aquela operação menos dolorida possível para a população envolvida no assunto.

Isso é ponto pacifico e não há o que se acrescentar.

Mas todo esse evento trouxe-me a lembrança um encafifante pensamento que carrego comigo já faz muito tempo: como se será que se sentem os ocupantes da base da escala hierárquica e que por fim foram os que botaram a mão na massa para fazer com que tudo acontecesse? Falo dos soldados que entraram em campo e foram, literalmente, os executores da infeliz ordem e pior que isso foram a tradução palpável e visível, do pouco caso com que o assunto foi tratado.

Como será que cada soldado viu e sentiu aquilo tudo? Pois é sabido que aqueles soldados para além de funcionários públicos que são pagos para fazer manter a normalidade jurídica do Estado, são também seres humanos. Não é difícil imaginar que muitos deles, quem sabe a maioria, também constroem suas vidas com dificuldades, também perderam noites de sono planejando o mês de salário, as contas, comida, escola, moradia, remédios etc., etc. Quem sabe uma parte deles também more em locais cuja propriedade legal seja difícil de ser comprovada.

A mesma coisa pode ser perguntada a respeito da outra ação desastrada do Estado efetuada na Cracolandia - SP. Como é que sentem-se os soldados que levaram a cabo ações de repressão e humilhação a que submeteram os dependentes de crack que vivem por ali?

Muita gente poderá dizer que o soldado é treinado para cumprir ordens e não fazer perguntas. Tudo bem. E eu acho que na maioria das profissões as coisas se dão assim mesmo. Para isso existe a hierarquia, para isso existem penalidades para quem não cumpre ordens recebidas.

Mas todo mundo sabe que se um comandante mandar seu soldado tomar um copo de veneno ele não vai tomar. Ele também não vai se atirar pela janela do vigésimo andar mesmo que seja ameaçado de ser expulso da corporação.

E deve ser do consenso geral que um oficial militar não pode mandar seu soldado atirar em membros da própria família por óbvias razões de envolvimento emocional.

O que temos então? Temos que um policial não é totalmente desprovido de valores que passam por sua auto-estima e vão até a vida familiar e que ele tem dentro de si todo o conjunto de emoções, sentimentos e critérios que isso envolve.

Sendo assim cabe uma pergunta: por que diabos um soldado agride gratuitamente quem não representa o menor perigo? Por que diabos um soldado invade lares e grita com crianças e idosos, e os expulsa como se fossem animais?

E nesse momento me ocorre outra pergunta: será que se fosse dado a todo ser humano escolher sua profissão de maneira livre e independente, quantos será que escolheriam ser soldado? 

Quantas são as contradições que cada um nós vive? E qual a magnitude do estrago que provocam em nossas almas?

Não vou continuar pensando, escrevendo e perguntando. Na maioria das vezes me sinto impertinente demais me envolvendo no que não sou chamado e naquilo a respeito do que nada sei.

Mas quem sabe ao menos possamos continuar refletindo sobre isso..

Fiquem em paz,

Jonas

2 comentários:

  1. Oi Jo: com raras exceçoões, as pessoas em geral escolhem suas profissões, e ,também, em geral sabem quais serão suas funções, ao exerce-la. Isso posto, quando alguém entra para a policia, já sabe que terá que tomar atitudes antipáticas e as vezes crueis. Então a policia é igual em tudo mundo, o pior é que muitas das vezes, são tão valentes com os mais fracos.
    Abrs
    The.

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  2. Tê, como é possivel algém prever o que vai fazer o resto da vida? Como é que pode alguem gostar hoje de algo que vai durar por 30, 40 anos? Desculpe mas a escolha da profissão não é algo perene. Muita gnte se arrepende na metade do caminho e não vê com sair dela.

    Abraços

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