Foi lá nos idos da década de 70, em pleno vigor da ditadura militar a mesma que deixou tantas viuvas chorosas e saudosas por esse país afora, que eu tirei minha carteira de motorista. No dia do exame no Detran eu ouvi de meu instrutor da auto-escola que eu poderia tirar minha carteira sem fazer os testes, bastava dar uma caixinha que a emissão de minha CNH estava assegurada.
Em meu recente retorno à São Paulo tomei conhecimento que o Detran mudou de lá da 23 de Maio para a Avenida do Estado e, à boca pequena, comenta-se que a mudança deu-se pelo fato de que as ratazanas corruptas que habitavam aquele prédio por muitas decadas já estavam roendo os alicerces do mesmo, e que este já ameaçava ruir tamanho eram os descalabros e roubos cometidos entre aquelas paredes e nas suas redondezas povoada por centenas de outras ratazanas denominadas despachantes.
O Brasil deve ser o único pais do mundo que tem essa praga-mãe da corrupção chamada despachante, que aos poucos está se extiguindo, não por causa do apego a ética e a honestidade de uma parcela significativa da população do nosso país, mas por que aos poucos surgiram mecanismos de atendimento ao publico que tornaram desnecessárias essas figuras.
Mas o despachante ainda anda por aí, chamado agora de lobista, consultor ou intermediador - eufemismos chiques para corruptor - e que continua levando e trazendo propinas para funcionários publicos de primeiro, segundo, terceiro e ultimo escalão.
O meu unico neuronio portador de algum conhecimento de sociologia desconfia que o corrupto despachante surgiu da estranha ojeriza que o brasileiro tem por esperar sua vez na fila e menos ainda por cumprir todos os tramites junto as repartições publicas.
Não sei bem se o despachante é filho da burocracia ou vice versa, ou se ambos são irmãos, filhos da mesma mãe, mas o fato é que a existencia dos dois levam à corrupção.
A mim me parece que desde sempre é assim: seja para a emissão de uma simples certidão de qualquer coisa até regularização da documentação de uma empresa (que em seu passado possui historico nebuloso sobre suas atividades) é só contratar um despachante - ou que outro nome tenha - desses que tem acesso, jeitinho e amigos nos orgãos publicos e que especialmente conheça os valores de litros de uisques, carros zero ou viagens para paraisos fiscais e pronto está tudo certo.
Tenho um outro neuronio bastante solitário metido a economista e que vive me dizendo que nem precisa se reunir com seus colegas da mesma área para perceber que uma grande fatia do bolo de dinheiro que circula no mundo - mas estamos falando apenas do Brasil - passeia livre, leve e solto pela informalidade - um outro eufemismo para ilegalidade - fruto de atividades corruptoras praticadas por especialistas em furar a fila, obter favores para amigos ou ajoelhar-se submisso em frente dos balcões das repartições.
De um jeito ou de outro uma parte grande da nossa sociedade sempre tolerou ou, pior ainda, estimulou e aplaudiu o chamado jeitinho brasileiro que acabou tornando-se a pedra angular da corrupção quase epidemica que assola nosso Brasil.
Os discursos indignados do pessoal da UDN, do Tea Party tupiniquim, do Cansei, das viuvas da criminosa ditadura militar e dos preconceituosos em geral são cinicos. Nunca ouvi do PIG uma noticia sequer sobre as pequenas corrupções e infrações cometidas por esse pessoal, dentro de supermercados, nos estacionamentos, nas filas de bancos, nos cartórios, nas leis de transito, etc. etc. etc., e que julgam que corrupção só tem uma via - aquela que leva ao funcionário público - e se esquecem da via em que trafegam os corruptores que certamente são individuos e representantes de empresas em geral que buscam todo tipo de vantagens. Noticias essas que se fossem publicadas poderiam quem sabe servir de elemento constrangedor para aqueles que, despossuidos de coluna vertebral, servem àqueles que melhor lhes remuneram não importa de que jeito. Nunca vi ser publicada a foto dos corruptores emcimadas por manchetes sensacionalistas e nem sempre verdadeiras.
Deve ser por causa de uma outra visão miope do funcionalismo publico e que julga que os representantes dos serviços dos governos são propriedadas do pais e que podem ser achincalhidos e humilhados do jeito que melhor convier.
Antes que digam que vim aqui apenas justificar a corrupção como sendo algo que se faz há muito tempo e por muita gente, informo que indigno-me tanto quanto qualquer brasileiro por sentir-me lesado. Sinto-me , na maioria das vezes, um perfeito idiota por cumprir meus deveres de cidadão e todos os outros deveres que dizem respeito aos vários papéis que exerço no meu cotidiano. Mas minha indignação não é APENAS contra os funcionários publicos que se deixam corromper mas também contra a parte da sociedade civil que os corrompe.
Ah! Já ia me esquecendo: NÃO dei a caixinha sugerida pelo meu instrutor da auto-escola. Prestei exame normalmente.
Mas todo esse papo aqui é apenas um preambulo ou justificativas iniciais para meu próximo texto através do qual pretendo contribuir - contribuições estas que tem o mesmo tamanho da minha importancia nas decisões do país, ou seja, nenhum - e que passam inevitavelmente pela reforma politica como forma de diminuir a corrupção. Até já.
Fiquem em paz,
Jonas
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