Contrariando o que sempre faço por aqui aos domingos cuja proposta é contribuir um tantinho e de modo descompromissado com o lazer de quem me lê, hoje quero prolongar um pouco mais as reflexões que fizemos esta semana por causa da tragédia que acabou com a vida de alguns brasileirinhos lá em Realengo - RJ, faço-o porém sem perder o hábito de falar em música.
Tenho certeza que a pergunta que todos repetiram para si mesmos e para outros é por que um ser humano faz o que o Wellington fez. Em que canto escuro de nossas almas esconde-se a coragem de cometer ato tão insano. Assusta-nos que pessoas que cometem gestos desse tipo são na maior parte do tempo pessoas assim como qualquer um de nós.
Mesmo lembrando sempre que atos de violência de toda natureza são cometidos todos os dias, esse tem uma carga especial de apelo emocional sendo esta uma justa razão para ser pensado, debatido e lembrado por muito tempo.
Mas deixemos que as músicas inspirem nossas reflexões.
A letra de Sêmen, composta por Sibá e Braulio Tavares, cantada por Mestre Ambrosio transcende a nossa costumeira visão apenas física de nossas origens e faz pensar na totalidade da vida contida na semente de onde viemos. E empacamos sempre na tentativa de desvendar o que somos e por que somos. O que fazemos e por que fazemos. E nivela a todos nós no mesmo grau de desconhecimento do que seja a alma humana. Dificil imaginar que um dia saberemos a resposta. Pois ao que parece, jamais tocaremos a semente profunda.
Luis Carlos Sá e Sérgio Magrão compuseram e Milton Nascimento cantou Caçador de Mim. Um inspiradíssimo convite para que tentemos conhecer a nós mesmos, buscando a explicação para essa doce prisão em paixões que nunca tiveram fim. E, diz a letra, longe se vai sonhando demais, mas onde se chega assim? Vou descobrir o que me faz sentir, eu caçador de mim.
E sonhar pode ser mesmo um bom caminho para exorcizarmos nossos ódios e exaltarmos nossos amores.
E Bono (U2) ao compor Original Oh The Species deve ter lembrado dos amores egoístas, daquele tipo de amor que parece dizer ao outro: olhe, dê-se por muito satisfeito por eu amar você, tá bem?
Quantas histórias não existem por aí de amores mesquinhos e ranzinzas que mais parecem subversão de um dos mais nobres sentimentos humanos, pois só fazem sufocar e negar a vida para o outro.
E é bem apropriado relacionar o despertar dos monstros adormecidos nas profundezas de nossos lagos com amores desse tipo, quando lemos esse trecho da letra:
"Eu vou dar que tudo que você quiser, exceto a coisa que você quer"
E eu não seria eu mesmo se não colocasse aqui uma música nascida da genialidade daqueles moços lá de Liverpool. Na verdade trata-se de uma música já da fase solo de John Lennon chamada Beautiful Boy.
E é uma linda confissão de amor ao próprio filho Sean, mas que podemos sempre cantar para nossos filhos.
E nestes dias tão conturbados, corridos e sofridos nada melhor que ouvir o que todos os pais deveriam dizer aos seus filhos:
" antes de atravessar a rua segure minha mão, pois vida foi o que aconteceu a você enquanto você estava ocupado fazendo outros planos"
Fiquem em paz.
Jonas
Jonas: minha mãe tenta, tenta, mas nunca consegue postar comentários aqui... trata-se do único comentário da internet que vi que, no afã de tentar entender o que aconteceu, trata o assassino com uma quase intimidade... uma exibição de condescendência? acho que não. Abraços do sobrinho, Edu
ResponderExcluirem tempo: as músicas estão uma beleza, parabéns