terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A enfermeira, a vaselina e a morte

Todos estamos sabendo da infeliz ocorrencia havida com a enfermeira Katia e a menina Stephanie em razão da troca de embalagens de soro por vaselina.

Paralelamente à tragédia em sí mesma, quero comentar sobre um trecho de uma entrevista que lí da enfermeira.

Diz a enfermeira Katia de uma maneira que me pareceu sincera:

" Fui colocar as garrafas em cima da mesa, eu olhei uma garrafa e vi: 'solução de reparação', que é o soro. E na outra eu olhei, mas eu não vi. Eu acreditei, eu jurava de pés juntos que as duas garrafas se tratavam da mesma coisa. De soro"

e depois:

" - Eu acho que foi um conjunto de erros, um conjunto de falhas. Mas esse instante de que eu olhei para a garrafa, mas não vi, esse momento que meu cérebro desligou - não sei, por causa de outras coisas que eu tinha na cabeça, responsabilidades - esse instante eu não tenho como fugir, como escapar. Mas eu acredito que existem outras coisas que colaboraram para que isso acontecesse"

Nas preleções que faço às minhas equipes eu sempre falo sobre algum tipo de acomodação que é comum acontecer no exercicio das tarefas, em dado momento tudo fica muito mecanico, e pode ser que nesse momento problemas graves aconteçam.

Nós, profissionais de hotelaria, lidamos quase sempre com segurança, higiene e bem estar das pessoas. Se passarmos a fazer tudo mecanicamente vamos acabar prejudicando ou a segurança, ou a higiene ou o bem estar dos outros.

E assim é em todas as profissões. Em qualquer atividade, penso que seja necessário cuidar para que tudo não caia na mesmice, na rotina e consequentemente na desatenção no fazer das coisas.

É preciso estar atento a tudo sempre, pois nada é igual ao segundo anterior, tudo muda o tempo todo. As circuntancias são variantes imprevisiveis, nunca se pode saber o que virá no minuto seguinte.

O soro que a enfermeira injeta, a limpeza que uma camareira faz, uma prova que a professora aplica, a manobra que um motorista executa, tudo deve ser feito sempre com cuidado e atenção como se estivesse sendo feito da primeira vez.

E assim é também nas relações, nas convivencias, onde se deve evitar que as coisas passem a ser feitas mecanicamente, ou sem a atenção desejada. Tudo que se diz deve ser dito com sincero desejo de dizer, tudo deve significar exatamente o que se quer que signifique. Não se pode confundir palavras e nem gestos.

Tudo deve carregar a originalidade da primeira vez. Tudo deve ter o peso da atenção exclusiva. Para onde nosso olhos olham é onde devem estar nossas mãos e nosso coração.

Fiquem em paz.

Jonas

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