sábado, 20 de novembro de 2010

Pensamos o que somos ou somos o que pensamos?



Em tempos de preconceitos a flor da pele nada melhor que pensarmos a respeito de até onde vai nossa autonomia sobre nossas próprias vidas. Se eu sou branco, preto ou amarelo; se eu sou do lado de cima do Equador ou do lado de baixo; se eu sou dotado de forte e saudavel fisico ou se , ao contrário, sou franzino e de saúde frágil, sabidamente essas coisas não são opção minha.

Praticamente tudo que sou, eu sou devido a uma quantidade infinita de circunstancias que quase nunca estão sob meu controle. Há um nexo irresistivel na vida de todas as pessoas. Raramente se pode alterar a trama da vida. Muitos destacam situações pontuais de suas vidas e dizem com orgulho e vaidade: eu fiz isso, eu conquistei aquilo ou as coisas são assim por que eu quero!

Besteira pura. A busca por realizações, a obstinada perseguição de um projeto, passará sempre e inevitavelmente por circunstancias criadas fora dos projetos pessoais que permitirão que estes se realizem ou não.

A par dessa besteira é que ocorrem os equivocados entendimentos de que uns individuos são melhores que os outros. Sendo que os melhores são aqueles que conquistam coisas e os piores são aqueles que não conseguem nada.

Comprar uma casa, um carro, ter a profissão dos sonhos, viajar, cuidar da saude, saber mais, tudo, absolutamente tudo tem que passar  por uma especie de "autorização" da vida, algumas oportunidades precisam acontecer autonomamente, ou seja, sem a vontade pessoal. Não confundir com esforço próprio, ou dedicação, ou ainda uma lista de virtudes que podem levar um sujeito a realizar-se, não é disso que estou falando. Estou falando das condições criadas no macro, para o sujeito realizar-se no micro.

É dessa maneira que se pode concluir a respeito da idiotice do preconceito. Raça - conceito em vias de extinção -, genero sexual, status social ou cultural, posse de bens, quase nada  é resultado de escolhas pessoais, quase tudo se dá senão nas vias do acaso, mas ao menos pela ação de agentes externos. Desafio qualquer pessoa a comprovar que deu um passo sequer na vida do tipo " contra tudo e contra todos". Isso não acontece. Haverá sempre um conjunto de circunstancias favorecendo os passos de alguém.

E quem são esses agentes externos? Exceto pelo local de nascimento e da genética sendo que nesses casos a  "culpa" é de nossos pais, quase todos os agentes que vão ajudar o individuo a realizar-se, fazem parte do modelo de sociedade, modelo de governo e do modelo do grupo em que se vive. 

É dentro desta compreensão que se formam os governos progressistas. É devido ao entendimento de que precisam ser criadas condições para todos os individuos da sociedade evoluirem em conjunto, é que surgem os governos progressistas.
Os governos ditos liberais ou conservadores acreditam na individualidade, acreditam que a cada um é dado de maneira autonoma a capacidade de buscar a própria evolução. Um erro grosseiro. Ao entregarem o destino das pessoas às iniciativas de cada um os governos liberais e conservadores condenam os individuos a permanecerem onde estão, haja vista imaginar-se que a vida de cada um é ditada por seus esforços individuais, quando não pelas suas condições raciais - conceito em vias de extinção - ou culturais, de genero, etc, etc.. e jamais por circunstancias desfavoraveis ou erros de definição no conjunto dos grupos.

Uma prova desse equivoco é que apesar das tantas conquistas das mulheres no mundo ocidental são estas que ainda recebem - por uma razão inexplicavel - salários menores quando comparados aos salários dos homens.

Ser progressista é acreditar em proporcionar condições iguais para todos, é acreditar em criar as tais circunstancias favoráveis no macro para que cada um se realize no micro.

Fiquem em paz.

Jonas

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