sexta-feira, 16 de abril de 2010

Epitáfio

Sempre que morre alguém famoso e dependendo do tamanho da fama, lemos e ouvimos a noticia em todos os meios de comunicação e, cronistas, radialistas, ancoras de tv, jornalistas, correm a escrever, cada um mais compungente que o outro, epitáfios emocionantes quando não pequenas biografias que, obviamente, louvam a vida e as obras do falecido. Isso é bom e desejável. Muita coisa boa sobre muita gente, só ficamos sabendo depois que morrem, o que é uma pena é claro, mas não dá pra saber tudo de todas as pessoas todo o tempo.

Correm em paralelo às noticias de mortes individuais as mortes coletivas, e que temos visto acontecer em tragédias uma atrás da outra - essa semana tem uma na China -tragédias que se sucedem em terremotos e enchentes cada uma levando centenas de vidas precocemente. Se bem que esse termo precoce é um conceito nosso e bem humano, dado que independente da fé de cada um e se olharmos com um pouco de frieza, o que ocorre de verdade é que se morre na hora certa.

E no turbilhão de imagens instantaneas, redes de TV, rádios, jornais, e o que mais houver vemos jornalistas e reporteres narrando e nos atualizando a respeito dos resultados das catástrofes. 

E tome ancora fazendo olhar triste e voz embargada, e tome técnicos e especialistas de todas as coisas, fazendo análises que demonstram que a tragédia podia ser menor se certas medidas tivessem sido tomadas antes, e tome reporteres de microfone em punho entrevistando sobreviventes para os quais faz as perguntas mais óbvias sobre dor e sofrimento, como se ele esperasse encontrar alguém que estivesse festejando a perda de parentes e amigos.



Não sei se sou só eu mas eu chego a perceber  em todos que noticiam uma certa ansiedade para que as mortes sejam em numero maior do que o até então anunciado, que a catástrofe seja a mais amarga de todos os tempos.

E ficamos nós olhando tudo isso, tomamos uma enxurrada de informações sobre 50, 100, 200, 500 ou mais mortos, geralmente muito pobres, e tudo vai parar por ai mesmo. Depois não saberemos mais nada. Não ficaremos sabendo de alguma providencia para que tais coisas tenham consequencias menores no futuro, não ficamos sabendo sobre valores arrecadados e distribuidos, não ficamos sabendo se os sobreviventes recuperam-se bem ou razoavelmente bem, não sabemos se foram reconstruidas casas suficientes para todos mundo,  enfim o assunto cai no esquecimento.

Assim como caem no esquecimento aquelas vidas todas que acabaram sob lajes e enxurradas. Todos tristes anonimos que não sabemos quem foram e nem o que fizeram.

Pergunto: no meio de tantas vidas encerradas não havia ao menos uma, uminha só, a respeito da qual valesse a pena escrever um epitáfio? Não poderia um só desses repórteres e jornalistas contar a nós outros um tantinho de alguma vida, com certeza valiosa, e que se foi tão tristemente.

Estranhos valores os nossos, choramos e lamentamos barrancos que deslizam e lages que desabam, mas nos esquecemos da essencia de tudo isso, que são vidas preciosas perdidas para sempre, das quais não faremos memória jamais.

Fiquem em paz.

Jonas

Um comentário:

  1. e não só as vidas que se vão se perdem...as que ficam também...aqueles que perdem tudo e ficam só neste mundo...

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