quinta-feira, 26 de abril de 2012

No palanque, Serra faz dicurso para presidente

Via Amigos do Presidente Lula

O relógio registrava 20h15 quando o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), desistiu de esperar a chegada de José Serra, pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, a um evento eleitoral em São Bernardo do Campo. O secretário estadual da Casa Civil, Sidney Beraldo, que representava o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também decidiu ir embora. Antes, o presidente estadual do partido, deputado Pedro Tobias, já havia partido.
 
 

O ato político, que selaria a aliança entre PPS e PSDB na cidade, estava marcado para 19h. No palanque improvisado, políticos se revezavam para entreter a plateia de militantes que já se esvaziava, sem saber ao certo quando Serra chegaria - e se iria, de fato, ao local. Duas horas e quarenta e cinco minutos depois do horário previsto para o evento começar, o tucano chegou. Cumprimentou algumas pessoas, distribuiu poucos sorrisos e subiu apressado ao palanque.

No berço político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Serra fez um discurso inflamado. Durante os nove minutos em que falou, não poupou críticas ao PT nem ao governo federal. O evento era da pré-campanha do deputado estadual Alex Manente (PPS) à Prefeitura de São Bernardo do Campo, mas os temas municipais passaram ao largo da fala do tucano.

"Infelizmente, no nosso país, o principal partido, que é o partido que está no governo federal, atua para destruir adversários. 

Destruição.

 E não para fazer política", disse o pré-candidato tucano, reforçando o "destruição". Ao lado de dirigentes do PPS, Serra disse que a oposição é diferente. "Nós fazemos política verdadeira. Tem disputas, diferenças, convergências e divergências, mas respeitamos adversários. Não atuamos para destruir ninguém. Isso é fascismo, a destruição e desqualificação dos adversários".

Pouco depois, sem citar diretamente o governo Dilma Rousseff, Serra disse que a administração tem "natureza publicitária" e que questões de fundo da economia e da sociedade "não são resolvidas". O tucano afirmou que, apesar de a população estar satisfeita com a economia, ela está "baseada em fundamentos precários". "Nós não temos uma política econômica sólida. Estamos financiando consumo no Brasil com importações que são pagas ou com preços muito altos de matérias-primas que exportamos, ou por dívida, por passivo externo. O Brasil está se desindustrializando. Nenhum país vai chegar a ser próspero sem uma indústria dinâmica".

No reduto lulista, o tucano lembrou que a região do ABC paulista tem "muito a ver" com desindustrialização e reclamou da política cambial. "A indústria automobilística está perdendo mercado por causa da política de câmbio, da política de juros", declarou, no palanque. Segundos depois, Serra fez a ponte entre o temática nacional e a eleição municipal, em sua única menção às disputas eleitorais deste ano. "Esses problemas provavelmente não serão debatidos numa campanha municipal, mas estarão presentes como pano de fundo", declarou.

Cogitada para ser vice na chapa de Serra, a pré-candidata do PPS à Prefeitura de São Paulo, vereadora Soninha Francine, foi ao ato político em São Bernardo do Campo vestida com uma jaqueta com adesivo em forma de coração, com o nome de Serra, grudado no lado esquerdo do peito. Outro adesivo de Serra estava no capacete da vereadora. Ambos eram da campanha presidencial de 2010.

Fora do palco, Serra reforçou a repórteres que o PT intimida a imprensa "o tempo inteiro", ameaçando a liberdade, e reforçou que o partido tem "uma tropa de destruição de reputação alheia" na internet, mas não quis citar exemplos. O tucano evitou falar sobre o processo que moveu contra Amaury Ribeiro Jr, autor do livro "A Privataria Tucana" e disse apenas desejar que o autor "seja punido".

Seis dias antes do evento em São Bernardo do Campo, Serra também preferiu os temas nacionais aos municipais, ao discursar para uma plateia de 260 empresários e jovens empreendedores, reunidos na noite de terça-feira, na Fiesp. Mostrando-se à vontade, o pré-candidato disse que a relação entre câmbio e juros é "crítica" e reforçou ser "impossível" dar competitividade à economia com a atual política cambial.

O PT também esteve na mira do tucano naquela noite. Para Serra, a gestão petista é marcada pelo "patrimonialismo bolchevique" e o "Estado é usado como propriedade de um partido". "Quando o partido da ética e da moralidade chega ao poder e faz voltar tudo aquilo que tinha de pior na vida pública nessa matéria, é como se [falasse que] Deus morreu. Passa a valer tudo. [O PT] Era o Deus da ética, ou parecia como tal."

Estrela da palestra para jovens empreendedores, Serra falou sobre sua trajetória de vida, desde os tempos em que morava em uma vila operária na Mooca, bairro paulistano, passando pelo exílio até chegar à gestão Dilma Rousseff, alvo de suas críticas. O pré-candidato pouco falou sobre suas propostas para o município. Defendeu a melhoria na qualidade do ensino, a qualificação dos professores, a meritocracia e a proposta de convênios de escolas particulares com as públicas para o ensino de inglês aos alunos da rede pública.

À plateia atenta, Serra resgatou sua experiência eleitoral para falar sobre o que dá voto ou não em uma disputa. Educação não dá voto. Saúde também não. Cultura e segurança, tampouco. O que dá voto é cobrir buraco de rua. "É inquestionável".


"Saúde dá voto contra", disse, fazendo a ressalva de que foi uma exceção.
Ex-ministro da saúde, o tucano afirmou que sua primeira candidatura à Presidência, em 2002, foi movida por sua atuação no Ministério da Saúde, no governo Fernando Henrique Cardoso. "Mas em geral saúde tira voto. Fazer um bom trabalho não vai ser um sucesso em matéria de voto."

Ex-prefeito e ex-governador, Serra continuou: "No atacado [a educação ] funciona muito bem. Prédio, programa para deficiente físico, uniforme, material escolar... Isso tudo para a família vai numa 'nice'. As melhoras são graduais. As pioras às vezes são mais bruscas. [Mas] não é coisa que acaba pesando do ponto de vista eleitoral".

Segurança, disse Serra, é parecido com Saúde: se melhorar, pouco vai influenciar na decisão do eleitor, mas se a gestão for muito ruim daí sim tira voto.

Como ganhar votos na eleição? "Pavimentar rua. Recapear. Dá voto. Isso dá voto, é inquestionável. É um negócio que muda... A pessoa sai na rua e vê lá a coisa...", explicou. "Melhorar [a coleta de] o lixo também dá voto".

O tucano disse ter aprendido tudo isso de "forma intuitiva". "Não é científico", reforçou. Neste ano, Serra entrou em sua quarta corrida pela prefeitura paulistana. No total, é a sétima vez que disputa um cargo no Executivo. Matéria publicada nesta quarta-feira 25 de abril no jornal Valor Econômico

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