A Globo prestou um desserviço às suas telespectadoras - de novo - ontem durante as exibições do Carnaval.
 
Uma das letras de musica mais contundentes de John Lennon composta em 1972, sim(!) 1972, ficou atualizadissima nas palavras do comentarista do Fantástico. Só faltou ele gritar o verso mais polemico da canção de John: nós a fazemos pintar e dançar! Vejam o video do show de Lennon cantando Woman Is The Nigger Of The World aqui.
E abaixo eu copio um texto sobre o assunto, do jornalista Fernando de Barros e Silva publicado hoje na Folha de São Paulo.
"Com a palavra, o  apresentador do "Fantástico": "A  polêmica acabou em samba. Lembra da Geisy, aquela do vestidinho  rosa que provocou um rebuliço numa universidade em São Paulo? Ela  está de volta, modificada, revista e  ampliada". Assim começava a reportagem do dominical da Globo  sobre a lipoescultura a que se submeteu a estudante Geisy Arruda.  Tratava-se de mostrar em primeira  mão o "novo visual" que a musa acidental da Uniban iria exibir durante os festejos momescos.
"Samba, vestidinho rosa, rebuliço" -as expressões engraçadinhas  do locutor dão o tom acafajestado  do suflê destinado a entreter os lares no final do domingão.
Uma das coisas que mais chamam a atenção no caso Geisy é a  conversão do trauma em oportunidade, da humilhação em dinheiro,  da selvageria em diversão de massa.  A passagem entre uma coisa e outra  se deu de maneira instantânea, sem  que houvesse tempo para a elaboração do luto ou preocupação em refletir sobre o que aconteceu.
Depois de dizer que cinco litros  de gordura foram pelo ralo, que "a  barriga virou bumbum" e que Geisy  ganhou quase meio litro de silicone  em cada peito, o repórter pergunta:  "Será que uma lourona dessas passa  despercebida nas ruas?"
Vemos então miss Uniban desfilar pelos bares, entre marmanjos  ouriçados a emitir sons de aprovação e correr para clicar a "nova  Geisy" com os celulares. A cena  lembra a turba em fúria nos corredores da universidade.
Aquilo que a escola prometia como perspectiva remota (uma vida  melhor com o canudo na mão),  Geisy alcançou num estalo, não pelo que aprendeu, mas como vítima  da estupidez e da atrocidade do ambiente de ensino que frequentava.
Talvez ainda exista a tentação de  criticar o deslumbramento da garota com sua fama descartável. Mas  por quê? Ela não é mais vulgar do  que as apelações da mídia a seu respeito. Ela não é mais frívola do que  o jornalismo de celebridades e seus  espectadores."
Fiquem em paz.
Jonas

